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A difícil e deliciosa arte de escrever

Em primeira ou terceira pessoa? Narrador personagem ou narrador-deus?

Escrever não é tão fácil como pregava Neruda “você começa com maiúscula e termina com ponto e no meio você coloca ideias”. Escrever é um ato de despojamento e cada escritor tem as suas superstições, manias e fobias.
Eu, por exemplo, gosto de pegar meu notebook, ou meus caderninhos de anotações e passar algumas horas na Livraria Cultura do Shopping Bourbon. Sinto que o espírito e a essência dos milhões de escritores circulam por lá, entre as prateleiras de títulos. É verdade! É como se cada um deles: Neruda, Rowling, Austen, Meyer, Shakespeare, Proust, Rosa, entre tantos, como seres invisíveis nos inspirassem a fazer o trabalho braçal de escrever capítulo a capítulo de um romance.
Acreditava que isto era superstição, mania, até ler o artigo “A Vida Secreta das Palavras”, na revista Serafina, de maio, que conta sobre o escritor angolano José Eduardo Agualusa (Barroco Tropical, Cia das Letras). Convidado a escrever em Amsterdã, passou três meses em um apartamento para escritores – no Brasil isto seria mais que um luxo, seria um disparate.
Em uma de suas frases ele resume bem o que tentei escrever sobre minhas pequenas e humildes horas na Cultura.
“Trabalhei muito nesses dias. Em apartamentos para escritores, persistem as energias inspiradoras, as musas, digamos assim, dos escritores que vieram antes de nós.”
Nas Livrarias também.
Por que escrever é muito mais que uma ideia na cabeça, uma trama. Os personagens nos assombram com suas vidas, nos devoram com sua existência. Eles precisam de alimento para sobreviver, e este banquete só é encontrado na leitura e na essência.
O prazer da criação só existe após horas e horas de trabalho duro, de decisões difíceis. O que fazer com personagens que tomam uma independência tão grande na trama que passam a ter vida própria? Como começar o segundo livro de uma trilogia, ou saga? Escrever em primeira pessoa – o que é uma delícia – ou dar ao leitor a possibilidade de conhecer mais fatos do que o simples pensamento do protagonista?
Frases curtas, bem ao gosto dos brasileiros, ou frases longas e completas como os alemães? Começo outro capítulo? E agora, para onde eu mando meus originais (isto no caso de você nunca ter publicado, que é o meu)?
Então você chega ao derradeiro dilema, o terrível título. Dar o nome que você gostaria, ou pensar em algum que mercadologicamente chame atenção?
O escritor é uma espécie de deus tirano, que precisa definir o caminho através das alternativas que vão surgindo. Ele impõe, não deixa margem para o livre-arbítrio dos personagens. Mas, apesar destas afirmações, muitas vezes eu me pego na janela do meu apartamento pensando que meus personagens parecem ter vida própria, e neste instante eu acredito que “sou eu quem sou guiada por eles, não o contrário”.

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