Pular para o conteúdo principal

A Morte da Ficção ou “The long short perpetual life of Fiction Books”?

A trama seria de um filme de terror. Abre-se Plano Geral de uma praça pública onde chameja uma fogueira. A câmera se aproxima e fecha em close. No foco um livro, já metade queimado no qual se pode ler “Os miser....”. Sadicamente, o diretor abre o foco e mostra centenas, senão milhares de livros sendo queimados. A sua volta pessoas pulam e dançam em uma cena dantesca. Qualquer semelhança com o enredo do livro Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, que foi transformado em filme por François Truffaut em 1966 não é mera coincidência.
Todas as vezes que leio entrevistas, ou trechos que se referem a pesquisas, como a que foi publicada no blog do tradutor Petê Rissati (texto brilhantemente escrito) eu literalmente lembro-me do filme citado no parágrafo anterior.
Tomei a liberdade de reproduzir a informação: “Uma pesquisa recente sobre hábitos de leitura no meio universitário chegou a conclusões espantosas: trinta e seis por cento dos pesquisados nunca, repito, nunca haviam lido sequer um livro de ficção. Uma minoria lia um ou dois livros de ficção durante o ano. Um número grande lera apenas um livro a vida inteira. Estamos falando de universitários.”
Parece uma constatação normal, mas eu me pergunto: o que eles estão lendo? Livros didáticos? Gibis? Por que a leitura de ficção, hoje, em alguns meios é tida como menor enquanto o mercado mundial de livros deste gênero se amplia generosamente?
Como se não bastasse essa constatação, recentemente, tive a experiência com um grupo de adultos que se reune toda semana para estudar e literalmente abominaram quando foram solicitados a ler um romance, um livro de ficção e desenvolver uma resenha. Olhares diziam: - por que perder tempo lendo estas baboseiras?
Eu não sei o que acontece hoje, mas cresci lendo ficção. Meu pai incentivou com uma estante repleta de livros e com o exemplo. Meus professores incentivaram nos obrigando a ler, pelo menos um livro por bimestre e sem a xenofobia que existe hoje. Naquela época, da mesma forma que tinha a obrigação de ler Erico Veríssimo (O tempo e o Vento), tinha que ler Emily Bronte (Morro dos Ventos Uivantes). Eram tratados como clássicos essenciais para a formação do aluno. Ingleses, Franceses, Americanos, Brasileiros ...não importava, todos eram bons e literatura.
Seria um desserviço não falar sobre a importância na formação do ser humano que um livro pode proporcionar. A quantidade de novas informações, mesmo que em nível da fantasia, proporcionam ao cérebro muito mais conhecimento que horas de uma aula de português poderia nos dar. Mesmo porque, ler é uma aula de português pratica que ensina muito mais a escrever do que horas da monótona análise sintática.
O uso das palavras, das construções; as ideias, associações, podem alavancar uma mentalidade, transformar uma vida. Além disso, como dizem os poetas, os ficcionistas são antenas que captam o momento e transformam em fantasia. Muitas vezes você nem percebeu que o mundo está assim ou assado, mas o seu escritor favorito já colocou em um romance. Se isto não fosse verdade como se explicaria toda a obra de Julio Verne?
Então, deixando o tom sombrio, atolado de subentendidos, por que você não começa a ler ficção? Do que você gosta? Guerra? Vampiros? Amor? Aventura? Na livraria da esquina, na banca de jornal, no sebo, está cheio de emoções te esperando.
E, citando, sem ser literal, a fala de uma personagem que adoro: a única coisa que fiz bem foi ser uma leitura ávida e devoradora. Ninguém ganha uma medalha por isso.
Eu digo e repito. Nenhum poder sobrenatural, beleza, dinheiro sobrepuja a capacidade do ser humano de se deleitar com a leitura. Mas, se é para reclamar, então faço minhas as palavras de Bella Swan....continuarei sem as medalhas.

Comentários

As mais vistas

A princesa dos olhos tristes

Se vocês me permitem um pequeno comentário intimo, há uma “mania” na família de minha mãe de colocar nome de princesas nas filhas. Naturalmente começou com a minha, que me batizou de Soraya (em homenagem a princesa da Pérsia, Soraya Esfandiary Bakhtiari), depois minha prima batizou sua filha de Caroline (Homenagem a filha da belíssima Grace Kelly, rainha de Mônaco) e alguns anos depois, meus tios colocaram o nome de Anne (princesa da Grã Bretanha), em minha prima. Então é fácil imaginar que vivemos em clima de “família real” boa parte de nossa infância e adolescência. Mas, de todas as histórias reais, a que mais me intriga e fascina é a da princesa da Pérsia, por ter sido uma história de amor com final infeliz, mas não trágico. Soraya foi a esposa e rainha consorte de Mohammad Reza Pahlavi, Xá da Pérsia. Conheceram-se na França, na época em que Soraya fazia um curso de boas maneiras em uma escola Suíça. Logo ela recebeu um anel de noivado com um diamante de 22,37 quilates. O casamento ...

Inferno

Autor:  Dan Brown Tradutor: Fabiano Morais e Fernanda Abreu Editora:  Arqueiro Número de páginas:  448 Ano de Lançamento:  2013 (EUA) Avaliação do Prosa Mágica:   9                               Gênio ou Louco? Você termina a leitura de Inferno e continua sem uma resposta para esta pergunta. Dan Brown nos engana, muito, de uma maneira descarada, sem dó de seu leitor, sem nenhuma piedade por sua alma. O autor passa praticamente metade do livro te enganando. Você se sente traído quando descobre tudo, se sente usado, irritado, revoltado. Que é esse Dan Brown que escreveu Inferno??? Nas primeiras duzentas páginas não parece ser o mesmo que escreveu brilhantemente Símbolo Perdido e Código D’Vince.  Mapa do Inferno. Botticelli. Então, quando você descobre que está sendo enganado, as...

Setembro

Autor:   Rosamund Pilcher Tradução: Angela Nascimento Machado Editora:  Bertrand Brasil Número de páginas: 462 Ano de Lançamento: 1990 Avaliação do Prosa Mágica:   10                         É uma história extremamente envolvente e humana que traça a vida de uma dúzia de personagens. A trama se passa na Escócia, e acontece entre os meses de maio a setembro, tendo como pano de fundo uma festa de aniversário que acontecerá em grande estilo. Violet, que me parece ser a própria Rosamund, costura a relação entre as famílias que fazem parte deste romance. Com destreza e delicadeza, a autora   nos conta o cotidiano destas famílias, coisas comuns como comer, fazer compras, tricô, jardinagem. Problemas pessoais como a necessidade de um trabalho para complementar a   renda e outras preocupações do cotidiano que surpreendem pela beleza...

Seguidores