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Os Imortais em 1932

O tempo, esse senhor cruel e implacável. Há uma semana sem postar nada diferente. Mas, como a paixão pela escrita é maior que a guerra do tempo travada contra nós, pequenos seres humanos imersos na imensidão de um cosmos desconhecido, hoje postarei um texto que enviei para um Concurso da Editora Intrínseca recentemente. Foi uma experiência incrível escrever uma história com personagens de outro escritor localizados em uma época diferente. Algo que eu ainda não havia experimentado.
No concurso, nós deveríamos escrever um conto com os dois personagens principais da série Os Imortais (Para Sempre e Lua Azul), da escritora norte americana Alyson Nöel, que ocorreria no Brasil, em séculos anteriores ao vinte e um.
Para quem não conhece a série, Damen e Ever são seres imortais, que lutam para ficar juntos. Só que Ever durante um longo período de mais ou menos 600 anos era um ser humano normal, que podia morrer e reencarnar. Damen, imortal, apaixona-se por ela, mas por problemas que não vou revelar aqui senão o livro perde a graça, ambos nunca conseguem ficar juntos, até o século XXI. Reencarnação após reencarnação, Ever morre antes de casar-se com Damen.
A proposta da Editora é que criássemos uma história passada no Brasil. Eu escolhi a época da Revolução de 32 aqui em São Paulo, com personagens que nos remetessem a semana de Arte Moderna, que aconteceu 10 anos antes da revolução. Foi uma delícia fazer isso. No post vou publicar o texto completo já que para o concurso havia a limitação de 2000 caracteres.
Espero que vocês gostem, por que eu me diverti muito escrevendo isso e pretendo continuar a brincadeira.


Eu saí às ruas muito cedo para as aulas no Colégio, mas não tinha a mínima idéia do que aconteceria naquele dia. Estávamos todos preocupados com a guerra, mas mesmo assim minha Tia insistia em ficar em São Paulo. Eu agradecia a Deus por isso. Mas as tropas de Getúlio a cada dia mais se aproximavam daqui.
Apesar desta ameaça permanente, nos últimos meses eu não tinha como não ficar feliz, era impossível. Damen Auguste me encontrava sempre ao final da aula, tomávamos café próximo ao Mappin e depois passeávamos pelo Anhangabaú, olhando os pássaros e conversávamos muito. Minha tia Tarsila nunca estava em casa, a bem da verdade, ela nem se importava muito comigo.
Damen me pegou na saída do Colégio. Lindo, absolutamente garboso em seu terno escuro, os cabelos brilhantes da pasta cheirosa que usava, e um chapéu panamá, moda da cidade. Na verdade, ele não precisava de nada daquilo para ser bonito, só os olhos negros e profundos já bastavam.
Ele sorriu e pegou em minhas mãos, e isso bastou para que esquecesse todos os problemas que tinha com a aluna nova, a diabólica Drina. Ela tinha se tornado meu inferno na Terra. A eletricidade de sempre subiu pelo meu corpo e precisei me conter para não puxar aquele rosto lindo e beijá-lo até a exaustão.
Foi quando tudo aconteceu muito de repente. Uma leva de soldados passou correndo por nós e bombas começaram a estourar. Eu olhei para Damen assustada e ele, passou as mãos em meus olhos e eu, sei lá, acordei aqui em casa, na minha cama. Eu tenho certeza que fui a aula, posso ver o rosto de Damen, mas não sei como cheguei aqui e isso me assusta muito.
Já são mais de meia noite a ainda não tive uma única notícia dele. Estou desesperada. Na próxima semana já não estarei mais aqui, titia vai me levar embora para Paris, mas não quero ir, não sem Damen .
Olho pela janela do casarão. O jardim está apenas parcamente iluminado pela lua cheia. Quando volto, decidida a esperar vejo em cima da minha cama um ramalhete de tulipas vermelhas, não contenho o grito sufocado:
- Damen! – corro para as flores, mas a voz que me derretia sai de algum lugar de meu quarto.
- Você está ainda mais linda sem aquele uniforme – os lábios esboçam um sorriso malicioso.
Sinto meu rosto corar, o coração disparar e paro de respirar por instantes, o suficiente para sentir tontura e ser amparada nos braços de Damem.
- Ever – ele parecia assustado – Ever querida, você está bem?
Só consegui esboçar um fiozinho de voz.
- Por... onde.... entrou?
Novamente o sorriso maroto, e a sensação de tonteira quando aspiro seu perfume, uma mescla de tabaco e hortelã, o suficiente para amolecer.
- Anjo... – não disse mais nada. Olhou nos meus olhos e aqueles lábios profundos tocaram os meus, provocando todo o tipo de sensação, tremor, choques, calor, transpiração. Eu podia sentir uma explosão vindo do meu coração e me entreguei, com toda a minha alma aquele beijo. Naquele instante não tinha importância mais a angústia e a dor que senti durante o dia, só aquele instante, aquele beijo e o amor profundo que sentia por ele tinham razão de ser. Eu não queria que ele parasse, mas o meu quarto não é exatamente o lugar certo para me entregar a um beijo destes. Afastei-me. Olhei para ele corada, baixei os olhos.
- Ever- ele tocou de leve o meu rosto, levantando meu queixo na direção de seus olhos – não farei nada que você não queira.
Não soube o que dizer.
- Ever, meu amor por você é eterno – ajoelhou-se a minha frente, segurou minhas mãos e pegou de dentro de seu paletó um anel – case-se comigo?
Naquele instante toda minha vida fez sentido e eu desejei que o tempo congelasse. Eu tinha um amor e era correspondida. Seria para sempre...

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