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O Bicho da Seda


Autor: Robert Galbraith
Tradutor: Rita Vinagre
Editora: Rocco
Número de páginas: 464
Ano de Lançamento Brasil: 2014
Avaliação do Prosa Mágica:  8


Comecei a ler O Bicho da Seda sem me lembrar que o livro foi escrito pela genial autora de Harry Potter, J.K. Rowling. Isso me deu o direito de criticar e quase desistir no inicio. Não fiz isso, é claro, e não me arrependo. A trama merece uma leitura até o final.
O Bicho da Seda traz novamente o detetive Cormoran Strike (Não li o Chamado do Cuco) as voltas com um crime que envolve um sinistro grupo de escritores e editores. Owen Quine, um escritor “pornográfico” é cruelmente assassinado, e Strike precisa correr contra o tempo para descobrir este sofisticado criminoso e salvar a esposa de Quine da prisão. Parece muito básica esta sinopse, mas a trama se passa dentro deste fio condutor.
Strike é um personagem fascinante. Um detetive genial, problemático, que nos faz lembrar de Sherlock Holmes em seus melhores momentos. Uma vitima da guerra do Afeganistão, que se tornou detetive, resolveu um grande caso e depois caiu no esquecimento. Além disso, mora em um sótão, sem aquecimento e não é tão refinado quando o personagem de Artur Conan Doyle. Sua assistente, Robin, é talvez uma associação feminina a Watson, mas completamente melhorada. Talvez, junto a Strike, Robin componha o time dos melhores personagens da trama.
O Bicho da Seda começa a ficar emocionante só depois da metade do livro. É neste ponto que a autora prende pelo suspense, pende pela absoluta necessidade de saber quem cometeu aquele crime bizarro e horrendo ao mesmo tempo. Sem contar que o desfecho da trama é sensacional.
No entanto, eu fico decepcionada ao ler este tipo de literatura, que exalta um submundo sujo, composto por pessoas sem moral, sem compaixão, um mundo que se torna pior que a realidade quando retratado na ficção.
J.K.Rowling – Robert Galbraith – é muito mais que este trabalho. Muitas vezes eu fiquei me perguntando onde estava o gênio mágico que ela nos apresentou em Harry Potter? Onde estava a poesia das palavras, o mistério das entrelinhas?
É claro que O Bicho da Seda é incomparavelmente melhor que Morte Súbita. Quando Robert Galbraith escreve, ele busca dentro da genialidade de J.K.Rowling; ele trabalha a questão do adulto; ele traz referências literárias que nos leva a pensar em Dickens, que sempre retratou o submundo de maneira incomparável. A escritora não tem a genialidade de Dickens, mas não derrapa ao escrever sobre estas pessoas.
Enfim, Strike e Robin justificam cada minuto dispensado à leitura, e por incrível que parece, Fancourt e Orlando nos proporcionam momentos de beleza literária em suas curtas passagens na trama.
Eu quero ler um pouco mais desta faceta de J.K.Rowling, mas confesso que preciso de um tempo para começar a ler O Chamado do Cuco.
Tem um problema grave que me deixa a cada dia mais chateada com algumas editoras. O livro está cheio de erros de revisão, frases desconexas, pronomes mal empregados. Alem disso, tem uma incoerência a respeito de uma cesta de produtos típicos da Cornualha. De repente você lê que o detetive fica de olho em um pé-de-moleque, e isso me fez parar a leitura por uns dez minutos enquanto pesquisava se aquilo era um erro ou algo que eu desconhecia. Bem, é um tremendo erro.  Não há pé de moleque fora do Brasil. Existem doces parecidos, mas que usam outros ingredientes. Então, nada justifica colocar um doce tipicamente brasileiro em um texto completamente inglês. Em minha opinião, isto é desinformação.
Por falar em texto tipicamente inglês, eu vou falar de uma viagem pessoal que o texto me proporcionou. Quase totalmente sediada em Londres, a trama é uma viagem pelas ruas, pubs, becos, estações de metrô e bairros, que nos proporcionam uma experiência visual real ao ler as páginas. Charing Cross, Cafè Nero, o elevador na Goodge Street, Oxford Street etc. Confesso que adorei este revival da cidade que considero maravilhosa.

Enfim, O Bicho da Seda vale a leitura. Aconselho apenas que não faça comparações com o texto de Harry Potter. Robert Galbraith é único, quase um lado oculto de J.K.Rowling. Talvez por isso ele se torne único e imperdível. 

Comentários

  1. Oi, Soraya.
    Ainda não tive a chance de ler esses livros, mas já tenho O Chamado Cuco aqui na estante.
    Achei muito bacana que a autora tenha escolhido um pseudônimo para a publicação desses livros e é uma pena que essa informação foi divulgada!
    Tenho certeza que ela só queria "se livrar" um pouco de Harry Potter, sabe?! Na minha opinião, HP não é um primor da literatura, mas é uma história muito legal... Só que imagina a pressão que a autora sofre para escrever outra história que faça tanto sucesso quanto HP? Deve ser insuportável!!!
    Por isso achei bem bacana que ela tenha criado o pseudônimo e a respeito muito por isso! Rs...
    Uma pena que o livro esteja tão mal editado!! Acho que ficarei chocada quando encontrar o tal pé-de-moleque, mesmo já sabendo que ele está lá! hehehehhee
    beijos
    Camis

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