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Respostas de um Astrofísico

Não é segredo que sou apaixonada por astronomia e astrofísica. Ciência me encanta. É magia tornada realidade, é um olhar sobre o mundo que busca a verdade e ao mesmo tempo nos abre os olhos para o que existe de belo, do mais ínfimo ser unicelular até o mais grandioso sistema localizado a milhões de anos luz de nós.

Que prazer enorme em ver as incríveis imagens enviadas pelo James Webb, que nos mostra o universo com uma nitidez nunca antes vista. Algo que eu comparo a nós, quando nosso olhar, sob a ótica de um novo conhecimento, se abre para um universo completamente novo. É lindo, é empolgante.

Neil de Grasse, autor do livro em questão, é um famoso astrofísico, com programa na TV e muito admirado pelo público norte americano.

Ao longo de sua carreira como “superstar” e cientista, recebeu farta correspondência, de assuntos que variavam, de perguntas como “você acredita em Deus?” até questões como “e se todas as leis da física estiverem erradas?”. Eram pessoas de todas as idades, crenças e escolaridade. Pessoas que se sensibilizaram com o cientista e resolveram sanar suas dúvidas ou provocá-lo.

Neste livro, Neil de Grasse reúne parte da correspondência que manteve com essas pessoas. Algumas respostas são brilhantes, outras intrigantes e algumas, devo confessar, ligeiramente mal educadas.

O livro se divide em 4 partes, cada uma delas contendo 3 capítulos diferentes.

A primeira parte se chama Éthos (palavra grega que significa a reunião de valores que orientam o comportamento do ser humano em relação aos outros) e Neil fala da esperança, de reflexões e do extraordinário.

Nesta parte tem uma carta que inicia assim:

“Há muito tempo suspeito que vivemos em um universo que quer nos matar, portanto, não me surpreende que o senhor diga isso nas suas palestras, mas onde está a esperança? Ou não existe nenhuma?”

A carta de Neil em resposta a esta pergunta é memorável, nela ele fala das diversas versões da esperança e na forma como ela pode nos mover o paralisar.

Ao longo de Ethos, Neils descreve sobre ETs, sobre a religiosidade e a ciência, sobre Complexidade e outros temas tão pertinentes ao nosso século XXI.

Em Cosmos, ele fala de um universo plenamente organizado. Responde algumas cartas extremamente engraçadas sobre o rebaixamento de Plutão. Quase todas elas vindo de crianças, que para meu espanto, tinham um carinho especial por este ex-planeta.

Confesso que quando era criança meu planeta favorito era Saturno, com todos os seus lindos anéis. Era um espanto como aqueles anéis conseguiam ficar dependurados no universo. Como criança ainda não conhecia as leis da física que permitiam este fenômeno.

No entanto, a melhor parte do livro, em minha opinião, está em Páthos (palavra grega que significa sofrimento, paixão, afeto). Nela temos o capítulo que nos conta sobre o atentado terrorista as Torres Gêmeas. Relatos verdadeiros, emocionantes de fatos que acompanhamos de nossos sofás, não sem a empatia necessária aquelas pessoas. Posso dizer que o texto (Cartas e respostas) é tão forte que você não sai o mesmo depois da leitura.

Por último temos Kairós (palavra grega que significa momento certo e oportuno). Nesta parte do livro Neil fala sobre jornadas, sobre a importância do tempo durante a nossa caminhada escolar para “estabelecer nossas raízes intelectuais”. É extremamente reflexiva.

Ao longo de todo o livro há muitas perguntas inteligentíssimas feitas por crianças e adolescentes, sobre questões que não nos passam pela nossa cabeça de adulto.

É um livro para refletir, para pensar e depois fazer mudanças. Quase uma busca pelo autoconhecimento.

Leitura indispensável nos dias de hoje, tempos em que fake news e ignorância se espalham pelas redes sociais. Tempos sombrios nos quais uma pequena luzinha, como este livro, pode abrir muitas mentes.

É um livro que recomento a leitura e a releitura. E você, se pudesse perguntar alguma coisa para o Neil de Grasse, qual seria s sua pergunta?

Autor: Neil de Grasse Tyson

Tradução: Nicolas Pettengill

Ano: 2020

Editora: Record

Gênero: Não ficção, cartas

Páginas: 272

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