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Um Anjo para Anita


Hoje é sexta-feira, um dia em que gosto muito de bater papo com meus leitores aqui do blog. Olhando minhas publicações descobri um texto que escrevi em dezembro de 2011, um pequeno conto de Natal que nos mostra duas visões de um mesmo problema, tão comum nos dias de hoje.

Como o tema é bem atual, vou reproduzir a história novamente e espero que você se emocione com ela.

Este texto possui direitos autorais, caso vá compartilhar é necessário citar a fonte e me informar enviando o link.

Bom final de semana!

 

Anita puxou a saia da mãe um montão de vezes e ela nem se deu ao trabalho de olhar. Estava em meio às compras de presentes em uma loja atolada de gente. Os presentes eram mais importantes que a filha.

- Mamãe! – chamava a insistente criança.

A mãe olhou zangada, blasfemou algumas palavras muito rudes e continuou a disputar lembrancinhas enquanto a menina com os olhos encharcados de lágrimas observava a mãe e a porta da rua.

Anita se soltou das mãos da mãe, que a esta altura da loucura consumista nem percebeu, e foi em direção a porta.

- Oi – disse em uma voz infantil e chorosa – Você é um anjo de verdade?

Um homem alto, forte, de olhos bem claros e cabelos castanhos pelo ombro, ostentava asas alvas e transparentes para a maioria das pessoas que passavam por ele. Só Anita conseguia vê-lo. Abaixou-se para conversar com a menina.

- Oi Anita, sou de verdade.

- Então você pode realizar um pedido?

- Vai depender muito do que você pedir – olhou carinhosamente para ela – o que deseja?

Ela olhou bem para ele, deu um suspiro dolorido e passou as costas das mãos nos olhos para enxugar as lágrimas.

- Eu quero que o papai e a mamãe gostem de mim.

O anjo olhou para ela com tristeza, observou a mãe que ainda não havia percebido o que acontecia com sua filha, ficou ponderando por um tempo.

- Anita, isso é impossível. Papai e mamãe não conseguem fazer isso com você.

- Então eu quero alguém que goste de mim – falou com as mãozinhas na cintura e o rosto triste.

- Você tem certeza? – o anjo olhou para ela com dor, mas sabia exatamente o porquê de estar naquele lugar. Ele tinha que levá-la.

- Tenho. – olhou para ele com doçura. – Não vou chorar nem ficar triste. Acho que papai e mamãe ainda não entenderam...

- O quê? – O anjo interrompeu a menina, espantado com a declaração.

- Ah! Anjinho. – sorriu. – Papai e mamãe não podem cuidar de mim... eles não sabem cuidar nem deles. – olhou para ele inquisitiva. – Você vai me levar?

- Vou. – O anjo abriu um sorriso iluminado. - Você sabe para onde?

- Sei. – riu. – Lá naquele lugar que eu estava antes de vir aqui. É divertido. – olhou carinhosamente para o anjo. – Eu sei que eu vou voltar depois, então... não vou ficar triste.

- Você quer ir agora ou quer esperar o Natal?

- Agora. Estou muito cansada.- estendeu as mãozinhas para o Anjo. O corpo dela já não suportava mais a vida.

- Então vamos. – Pegou nas mãos de Anita, colocou-a no colo e desapareceram rindo, não sem antes a menina perguntar qual era o nome do anjo.

Na loja, uma senhora idosa que observava algo que ninguém via gritou desesperada quando viu a menina cair no chão. A mãe nem olhou até que a mulher a sacudiu com força apontando para a menina.

Anita estava morta.

Soraya Felix

09/12/2011


Comentários

  1. Lindo demais!!
    É bem assim mesmo as pessoas ficam preocupas em presentear e deixam de estar presente com aqueles que são mais próximo e que te querem bem..

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    Respostas
    1. Obrigada pela participação. Vivemos os tempo em que o ter e mais forte que o ser.

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  2. Bem forte este texto e também emocionante. Nos remete a pensar em como muitas vezes deixamos de prestar atenção no que importa para focarmos no que não tem importância. Esta é uma realidade da vida moderna. Os pais de hoje, salvo as exceções, se preocupam em dar tudo ao filhos - escolas, celulares, carros e outras coisas que o dinheiro compra e esquecem de abraça-los, de dizer que os ama. Estamos caminhando para um mundo triste, sem ternura. Cada dia, os corações endurecem mais.
    Parabéns pelo lindo texto. Só reforça o que digo a você. Seu talento é grande e logo será descoberto. Abraços de seu amigo e admirador Luís

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Luis sua participação aqui no blog é sempre muito importante. A verdade é que o consumo está se sobreponto ao ser humano. Tempos difíceis estes. Abraços

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