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Extraordinário

    Você pode estar pensando que o assunto deste livro já se esgotou, mas não. Nunca foi tão atual pensar e refletir sobre a trama do livro Extraordinário, da autora J.R.Palacio.  E digo com ênfase, o livro, porque é infinitamente superior ao filme.

No filme, August aparece como uma inclusão, como alguém desprovido de capacidade, o que não é verdade. Quando você lê a trama percebe que a autora apresenta August como um garoto esperto, inteligente que nasceu com uma rara deformidade física que o prejudica na vida, mas não define quem ele é.

No livro fica claro que August foi aceito pela escola por sua capacidade intelectual, não pela deformidade que possui, não por uma política qualquer de inclusão, mas porque ele é um menino inteligente com total vontade de aprender, pleno de sua capacidade física e mental. Beleza, neste caso, não faz nenhuma diferença.

O que ficou bem interessante no livro (O filme não conseguiu mostrar isso com a força que deveria) é o ponto de vista de parte dos personagens envolvidos com August. Nenhum deles tem uma deformidade física, mas também possuem suas dores e suas dúvidas. Ninguém tem uma vida perfeita, e os amigos e a irmã de August carregam uma dor a mais, pois sofrem consequências por suas relações com o menino.

Você percebe que neste ponto, a autora quis discutir conosco de uma forma mais ampla, mais democrática que o simples discurso de “vamos incluir”, “ser diferente é normal”.  Vivemos uma sociedade de certa forma hipócrita, que faz um discurso bonito de um lado, mas que age de forma completamente diferente do outro. Não basta dizer para aceitar as diferenças, tem que viver a diferença, compreender as implicações e somente a partir daí construir discursos mais bem embasados, consistentes e verdadeiros.

Você percebe que R.J.Palacio não é manipuladora. Sua escrita é embasada, recheada da complexidade necessária para se tratar do assunto. No livro, August não é tratado em nenhum momento como coitadinho.

Amei o livro! Não gostei do filme.

Esta história parece ser a “queridinha” dos professores. Mas a abordagem da trama é feita de maneira inadequada. A leitura do livro deveria ser incentivada, pois daria margem para debates melhores e mais aprofundados, alem de auxiliar no desenvolvimento da leitura. O filme deveria ser o último recurso. Depois que o livro foi extensamente debatido ele poderia ser usado para trabalhar a comparação. Seria um debate rico e pleno.

Recomendo a leitura deste livro. Trabalhar as diferenças e aceitá-las em sua plenitude, trabalhando a complexidade do assunto, não poderia ser mais atual. A aceitação tem que vir do coração e não da boca para fora.

É um livro que pode ser lido em família.

 

Autor: Extraordinário

Tradutor: R.J.Palacio

Ano de lançamento: 2013

Editora: Intrínseca

Gênero: Ficção Americana

Páginas: 320

Avaliação Prosa Mágica: 5 estrelas

 

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