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Literatura para quê?


        Você já pensou na função da literatura na vida do ser humano? Já imaginou o que seria do mundo sem a palavra escrita?

Eu não consigo imaginar, pelo menos não consigo pensar em nada de bom. Desde os tempos anteriores ao desenvolvimento da escrita, o ser humano já tinha a necessidade de deixar registros, e os primeiros que encontramos são os desenhos nas cavernas.

Com o tempo, a propriedade, os animais e as colheitas o ser humano foi desenvolvendo uma forma para deixar registrado o que lhe pertencia, desta forma os primeiros traços da escrita como conhecemos apareceram. Então, a palavra em um suporte seja ele o papel, madeira, gesso, pedra surgiu de uma necessidade, de algo que era intrínseco ao ser humano, e não por superficialidade.

Pensando desta forma, chegamos à conclusão de que a Literatura é um direito humano fundamental, assim como o alimento, a segurança, a saúde e a educação. Não se espante com isso.

É hábito se pensar nos livros (Vou falar apenas deste tipo de  literatura aqui) como entretenimento, como uma maneira de passar o tempo. Quantas pessoas eu encontro que me falam:

“Não leio romances. Ficção não me interessa! Apenas a realidade tem vez na minha vida.” Fico entre espantada e indignada (Mais espantada que indignada, já que a idade está me fazendo mais tolerante.). A literatura é uma ponte que nos conecta com o mundo, e a ficção tem o papel mais importante quando falamos de conexões.

Antonio Candido, crítico literário e sociólogo, dizia: "A literatura desenvolve em nós a cota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos à natureza, à sociedade e ao semelhante."

A leitura é um diálogo que exercemos com o autor, com os personagens, com a história. Ler um texto de ficção, seja ele em qualquer gênero, promove uma interação do Ser leitor, que possui uma história de vida, um cotidiano, problemas a serem resolvidos, com todo o diálogo que ele desenvolve enquanto lê. Nesta construção, o Ser leitor concebe uma nova obra, que nunca será igual à de outro leitor, simplesmente porque somos individualidades com características bem diferentes.

Na leitura é possível exercer um diálogo livre, porque ele é interno, intimo e inviolável por outro ser. E é exatamente por isso que ler possui uma força descomunal, porque muda e esta mudança se faz de forma vertical. A leitura é subversiva, e não é a toa que o primeiro ato de governos totalitaristas como o de Hitler e religiões fechadas é proibir livros.

Na Segunda Guerra muitos livros foram destruídos por não atenderem aos interesses dos nazistas; na inquisição além de mulheres inocentes,  queimaram também livros; hoje, pleno século XXI, Creacionista proíbem livros nas bibliotecas das escolas americanas, um absurdo sem limites.

 Livros fazem pensar, quem pensa pergunta e quem pergunta cresce, se modifica, não aceita nada que venha dentro de uma “caixinha”. Ler amplia os horizontes e isso incomoda quem se beneficia com a ignorância.

Levante a mão o leitor que nunca chorou ao ler um livro? Ou que teve pesadelos? Ou que fez uma mudança a partir de uma leitura?

Ler, conversar sobre a leitura, é muito mais forte que assistir a uma palestra (Eu amo boas palestras). Sensibiliza mais, porque coloca o leitor como um personagem da trama, faz com que ele vivencie a experiência de forma mental e ali percebe a importância de mudar conceitos.

Sabe o livro “Quarto de Despejo” da Carolina de Jesus? Pois é, ele inspirou uma Casa Espírita a incluir um pedaço de sabão na cesta básica que distribuíam (ninguém fazia isso naquela época) e sabe a razão? Por que ao ler Quarto de Despejo você sente na pele à necessidade disso, percebe a importância de algo tão banal em nossas vidas que nem damos conta, e que para alguns faz uma falta tão grande a ponto de prejudicar suas vidas.

Então, voltando ao Antonio Candido, a leitura nos torna mais humanos na medida em que compreendemos as necessidades dos outros de uma forma profunda, que somente a experiência real nos faria viver.

Precisaríamos não ter um pedaço de sabão para lavar roupa para sentir na pele a necessidade dele. Necessitaríamos ser um refugiado para compreender o que estas pessoas passam (Leia Persépolis, da Mayane Satrapi para entender o que estou falando). E aí segue uma lista muito grande de “compreensões” que podem e devem ser feitas pela literatura.

Quem não concorda com isso, devo pensar então que, as pessoas que dizem não ler ficção prefeririam passar pelas situações reais de escassez, perda, dor, para serem empáticos ao outro ser humano? Será?

Não acredito que alguém pense assim, apenas entendo que o olhar ainda não se alongou o suficiente para compreender que, como seres humanos e cidadãos do mundo, estamos inseridos em todas estas problemáticas e que temos a obrigação moral de perceber, conceber e fazer modificações.

Então, que tal pensar na literatura como uma necessidade básica? Que tal colocar um livro dentro da cesta básica que você entrega para as famílias carentes ou para seus funcionários? Que tal se organizar para ler pelo menos 5 páginas de um livro por dia?

Repito a pergunta do título: Literatura para quê?

- Em minha opinião, para tornar a humanidade melhor. E, se você não acredita nisso, pelo menos acredite que, se as pessoas lessem mais não haveria tempo para fake news e fofocas.

Bom final de semana, e boas leituras!

 

 

Imagem: HEXAG MEDICINA

Comentários

  1. Eu penso da mesma forma que você descreveu na sua publicação. Um livro abre portas que nem sabíamos que existia. Esta individualidade que a literatura nos proporciona nos tornar um herói com o Robert Langdon, talvez usando bermuda e camiseta florida ou num super detetive como Hercule Poirot dos romances de Agatha Christie, talvez sem aquele incrível bigode! Sim, tudo é possível, basta deixar a mente viajar. Quantas vezes lemos um livro e depois quando vamos assistir ao filme sobre o livro nos decepcionamos com cenas, autores, falas? Então! É a visão do diretor, que é diferente da nossa. Tema ótimo abordado nesta publicação. Abraços amiga.
    Luis Antonio

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