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O Homem da Patagônia

Alerta! O romance de Paulo Stucchi é perturbador,  causa inquietação e é absolutamente viciante. Mais uma vez fiquei encantada com a escrita deste autor tão talentoso que transformou um tema árduo como o nazismo em um thriller psicológico de arrepiar.

Paulo nos leva a uma viagem até a Buenos Aires de 1958, em um período após a renúncia de Perón, que era um simpatizante dos nazistas e que deu refugio para muitos deles em seu país. O que gerou muitas histórias e teorias da conspiração que vivem até hoje no imaginário popular.

Na trama ele nos apresenta o psicólogo renomado Sebastián Lindner, um profissional que já cometeu alguns abusos da ética profissional, mas ao mesmo  tempo é brilhante. Uma paciente apresenta Sebástian a uma jovem alemã, que busca tratamento para o pai, um refugiado nazista acometido por catatonia.

Sebastián aceita o trabalho e passa a clinicar Albert Leipzik e conforme as sessões acontecem o psicólogo passa a querer saber cada vez mais sobre a vida deste homem cujos segredos poderão mudar completamente a história que todos conhecemos sobre o final da Guerra.

Sebástian se confronta então com a pior face do ser humano ao mesmo tempo em que ele se defronta com suas limitações e vícios. Ele precisará tomar uma decisão que poderá, de uma lado contrariar a ética profissional caso ele denuncie seu paciente, ou então poderá atormentá-lo a vida toda, por se tornar uma espécie de cúmplice de uma grande monstruosidade.

A trama é muito bem amarrada e embasada. Cada ponto é costurado com argumentos tão sólidos que mesmo diante de pontos de vistas conflitantes, eles acabam se tornando verdadeiros.

Foto: Jornal Periscópio

Paulo Stucchi segue a risca a orientação de que todo bom romancista não deve dar folga para seu protagonista. Sebastián está sempre em perigo, sempre a beira de um abismo, o que nos provoca uma sensação de desespero, uma vontade de fazer alguma coisa para proteger este personagem.

Nenhuma palavra é gratuita na história todas fazem sentido, todas nos guiam ora se compadecendo ora se horrorizando com Albert.

Aos poucos, entre sessões de terapia e novas revelações, o leitor descobrirá, juntamente com o psicólogo Sebastián Lindner, quem é o velho alemão misterioso, e mergulhará nas mesmas dúvidas do psicanalista: afinal, estaria ele diante de Adolf Hitler em pessoa - um dos personagens mais importantes e abomináveis da história mundial?

Como o livro se inspira em fatos reais, ele nos mostra como os nazistas tentaram se reorganizar em outros países como Argentina, Paraguai e Brasil de forma a manter suas ideias, e também como os governos da América do Sul foram coniventes com eles dando abrigo e possibilitando que eles prosperassem aqui.

Para quem não conhece Paulo Stucchi, ele é jornalista, psicanalista, autor de obras como A Filha do Reich (finalista do prêmio Jabuti de 2020), Um de Nós foi feliz, dentre outros.

Recomendo a leitura como reflexão não só do que já aconteceu no mundo, mas também como elemento que nos dá outras visões da época atual.

É leitura para ler e reler.


Autor: Paulo Stucchi

Ano de lançamento: 2022

Editora: Jangada

Gênero: Ficção Brasileira

Páginas: 512

Avaliação Prosa Mágica: 5 estrelas



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