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Se um jornal em uma manhã de sol


Inspirada pelo título do livro de Ítalo Calvino (Se um viajante numa noite de inverno) inicio o meu Sexta de Prosa de hoje.

Esta semana o Papa Francisco foi internado com problemas respiratórios. A imprensa divulgou um dos comunicados do Vaticano afirmando que o pontífice estava em processo de recuperação e que lia seus jornais matutinos.

Venho de uma época em que a internet não existia, tempos em que a informação chegava via rádio, TV e o jornal impresso. Para quem assinava um jornal, era normal ouvir de madrugada um entregador sonolento atirar o exemplar contra a porta da sala e na sequência um estrondo. Era literalmente a notícia impactando a vida da gente.

O jornal impresso sempre nos apresentou a assuntos variados, que vai de política, economia, noticias internacionais, arte e cultura, entretenimentos e por vezes alguns temas especiais. Ler um jornal, mesmo que você apenas passasse os olhos pelos temas que não te interessavam, era se informar de uma maneira globalizada. Como formação de um ser humano integral isso sempre foi extremamente positivo.

Hoje, conheço poucas pessoas que leem um jornal físico (Ou assinam o mesmo de forma virtual), a quase totalidade da população se “desinforma” pela internet. E porque eu digo isso?

A Web é bem interessante. Ela age como aquelas pessoas que querem apenas nos agradar e nunca emitem uma opinião real sobre os assuntos. Ela nos mostra apenas aquilo que nos interessa,  não faz a seleção se é real ou falso. Não coloca munição suficiente para que possamos avaliar se o que pensamos é realmente o correto, a verdade.

Sinto isso quando preciso pesquisar algo e depois sou afogada com anúncios e conteúdos referentes ao tema. É sufocante viver apenas de um único assunto na vida.

Isso me lembra da metáfora contida no livro O Ladrão de Raios, de Rick Riordan, quando Percy e seus amigos vão para Las Vegas e consomem um petisco que os deixa “entorpecidos” e isso faz com que não saiam daquele lugar, que fiquem presos naquele cassino a ponto de encontrarem um garoto que está por lá faz anos.

Quando você se encontra em uma situação como a de Percy (Estou sendo metafórica aqui) é necessário uma força de vontade muito grande para sair deste ciclo vicioso.

O mesmo ocorre com tudo o que você consome virtualmente. Principalmente em política é muito fácil você acreditar que está certo, literalmente esfregar palavras grosseiras na face do outro quando é bombardeado por notícias forjadas, pelo uso indevido dos recursos da internet e pelas tais “fazendas de clics”.

Para quem viveu os dois mundos e não deixou se enfeitiçar pelo novo deveria ser muito fácil fazer esta distinção, tenho percebido que isso também não é uma verdade absoluta. No entanto, há uma geração que nasceu no mundo virtual e analisa-lo é muito mais complicado.

Se eu pudesse receitar algo, como uma médica das palavras, receitaria um bom jornal impresso diariamente. Isso durante 90 dias. Segundo a neurolinguística este período é o suficiente para que possamos criar um hábito e derrubar barreiras.

Também receitaria um livro por mês. Um romance, de preferência. Poderia ser os clássicos, contemporâneos. Textos de autores consagrados que podem trazer algo de novo na vida de quem lê.

Agora nos casos mais extremos, aqueles que estão quase na UTI da fantasia, eu receitaria um bom livro de história mundial, com foco na Segunda Guerra Mundial. Um bom autor, daquele que nos apresenta a história e nos faz pensar no mundo atual.

Então, quem sabe, através da leitura poderíamos curar este mundo tão doente.

Se um jornal em uma manhã ensolarada se  apresentar para você, leia.

Um lindo e informado final de semana.


Foto 1: Página do Jornal do Brasil de 1968

Foto 2: Cena do filme Percy Jackson e o Ladrão de Raios

 

Comentários

  1. Lindo seu texto. Adotou um tom critico, que normalmente não vejo nos seus textos anteriores, mas isso não o torna inferior, muito pelo contrário, mostra uma Soraya antenada com a realidade. Quanto a jornal impresso, sou do tempo que esperava e guardava alguns centavos durante a semana para adquirir o Estadão no domingo, que era o maior classificado do Brasil e com ele pude conseguir um emprego que mundou a minha vida e da minha familia, mas hoje, infelizmente, o jornal impresso sumiu. Dando um exemplo besta, outro dia estive na cidade para conseguir um pouco de jornal velho para forrar o chão de um quarto que seria pintado e não encontrei nada, nem em deposito de material reciclado. É a tecnologia matando mais um icone do passado que norteou as nossas vidas e a nossa imaginação. Saudades...

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