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Nem sempre é lindo andar na Cidade de São Paulo


Domingo saí para caminhar. Vou iniciar um projeto no qual me proponho caminhar por alguns quilômetros e produzir 17 textos sobre esta caminhada. O número 17 é porque em maio o blog Prosa Mágica faz 17 anos. A ideia surgiu por conta do projeto de outra pessoa, que irá caminhar 10 quilômetros. Serei mais modesta e se tiver autorização conto o autor do projeto original depois.

A dificuldade em fazer um projeto assim tão ambicioso, é o lugar onde moro. Não há um espaço seguro e variado para caminhar, então terei que me adaptar com saídas do bairro, o que incluirá idas a Liberdade, a Lapa, a Leopoldina e outros locais com vistas interessantes.

Isso sempre me chamou a atenção por aqui, porque percebo que a cidade não tem planejamento de forma a incluir o pedestre. Você tem grandes vias movimentadas com calçadas muito ruins e a falta notória de verde. Principalmente nas periferias da cidade.

Nos tempos em que morei em Londres caminhar era um grande e inenarrável prazer. Há parques espalhados por todas as regiões. Grandes e pequenos eles são uma grande surpresa. Você vira uma esquina e se depara com uma área verde, bancos para repousar e jardins impecavelmente cuidados.

Caminhar é quase automático. Na região mais central, onde está o Tâmisa e o Parlamento, se você se dispuser a uma aventura, a caminhada é incrível. Fiz isso diversas vezes. A cada dia mudava a rota e via algo diferente. Uma rua com construções antigas que acabavam em uma espécie de vila (Chamo assim por falta de outro nome) com surpresas gostosas como o pequeno restaurante em um porão que já serviu de adega para os religiosos.

Sempre existe algo inusitado para uma alma que busca olhar e ver. Nas proximidades tem o St. James Park, que é um achado ao lado do palácio de Buckingham. Os portões elaborados, as alamedas bem arranjadas e quiosques com os melhores chocolates quentes que já tomei. Tudo é inspirador. Tem horas que você não sabe se continua a jornada ou se senta em um banco, abre o caderninho e começa a escrever.

Caminhar por Londres é isso. É encontrar prédios históricos preservados, pubs que datam de muitos séculos passados, calçadas sem buracos ou qualquer obstáculo que nos force a olhar para ele ao invés da paisagem.

Meu caminhar por lá era tranquilo, sem medo, tinha o barulho normal de uma grande cidade cujos carros não estão velhos e barulhentos demais. Tudo tão bem sinalizado que nem dá para se perder por lá. O único lugar em que nos perdemos é em nossos pensamentos, no experienciar o momento.

Todas estas lembranças porque decidi unir minhas caminhadas à escrita. E encontrei aqui no meu bairro ruas esburacadas, fios de eletricidade caídos quase dividindo a calçada em duas. Empreendimentos imobiliários que constroem ciclovias para cumprir a lei e praticamente não deixam espaço para os pedestres. E, como se não bastasse tudo isso, um bairro “planejado com nome pomposo”, mas que tem em sua paisagem dezenas de contêineres de lixo na rua, na maior parte das vezes transbordando, com suas calçadas repletas de dejetos de cachorros que os donos levam para passear e não recolhem, não há nada de encantador em caminhar por suas ruas.

Tem uma ideia interessante que se chama “cidade 15 minutos”, que é um conceito no qual a maioria das necessidades diárias de seus habitantes pode ser atendida andando a pé ou de bicicleta. É um conceito que tira o protagonismo dos carros e coloca no bem estar do humano, no ritmo da pessoa, na qualidade de vida.

A ideia de “cidade de 15 minutos” foi concebido por Carlos Moreno, professor da Faculdade de Administração da Sorbonne. Ele se inspirou no que chamamos de crono-urbanismo, que é imaginar comunidades levando-se em consideração tempo, proximidade, ritmos diários e sazonais, ou seja, pensar em uma cidade como algo que se completa, que oferece a pessoa tudo o que precisa para alcançar o bem estar global sem que precise se utilizar de um automóvel ou se descolar horas para obter o que precisa. (Vejano link o exemplo de Paris)

Quando penso São Paulo dentro desse conceito, percebo não só a dificuldade por conta do tamanho que ela possui, mas por tudo o que falta de básico, especialmente nas periferias. Começando pela manutenção de ruas e vias e passando pela escassez de aparelhos de lazer, saúde e trabalho nesses locais.

A caminhada de domingo me levou a todos estes pensamentos, por que é uma simples questão de observação, de olhar para o que está a sua volta e compreender não apenas as suas necessidades, mas a de outros.

Como é o seu bairro (cidade, estado)? Quais são as condições que você encontra no dia a dia para cumprir suas tarefas? Você consegue fazer tudo a pé? Consegue caminhar pelas calçadas olhando árvores e arquitetura ou precisa ficar de olho nos buracos?

Quais serão as próximas surpresas que encontrarei em minha caminhada de quarta-feira? Vocês ficarão sabendo na sexta. 

Fotos: Soraya Felix/Prosa Mágica


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