Esqueça o filme. Esqueça as centenas de entrevistas que viu na TV. Esqueça os prêmios que o filme recebeu, esqueça todo “Auê” durante o período de divulgação do filme. O livro é muito mais, e quem viu o filme e não leu o livro está perdendo o melhor.
Marcelo
Rubens Paiva é um mestre das palavras, ele nos envolve em uma história
emocionante. Tem partes que são poéticas que nos encanta, que nos faz chorar e
refletir sobre a importância da vida e de Ser.
Ainda Estou Aqui é muito mais que um livro sobre Eunice Paiva, é
uma história sobre família, cooperação, alegria e tristeza. É algo que
raramente encontramos hoje. Famílias não constroem mais memórias. Isso é raro.
Quem
viu o filme deve estar imaginando que o livro fala o tempo todo da ditadura
militar, mas não é isso. Marcelo viaja pelas memórias que ele tem de garoto,
adolescente. Ele nos mostra uma família que era feliz, que apesar de viver uma
das piores fases do Brasil, ainda conseguia fazer trocas de carinho, de
momentos de amor e de união.
É
um livro que fala da importância da memória, no sentido físico e no sentido
metafórico da palavra. Eunice perde a memória lentamente por conta de uma
doença ainda sem cura. Por outro lado Eunice construiu uma memória externa,
aquela que mora em cada pessoa que a conheceu e que ela ajudou ao longo de sua
extensa carreira de advogada.
Eunice
Paiva é a dualidade da perda da memória x memória eterna, que Marcelo
habilmente nos resume na frase: “A
memória é uma mágica não desvendada. Um truque da vida. Uma memória não se
acumula sobre outra, mas ao lado. A memória recente não é resgatada antes da
milésima.”1
Lembrar
é mágico, compõe aqueles momentos bons ou ruins, que foram vivenciados e que lá
atrás, no ser humano primitivo já era compartilhado ao pé de uma fogueira.
A
história da família Paiva é também uma cena política, nós seres humanos somos
seres políticos. Rubens Paiva foi uma vitima de um sistema que praticou a
crueldade através de membros que extrapolaram sua brutalidade, seu instinto
primitivo e doentio. No entanto, ao ler o livro você vê que havia seres
humanos, como o guarda do DOI-Codi que de certa forma se preocupava com Eunice
e levou um chocolate para que ela se alimentasse.
Ainda Estou Aqui é contundente. Marcelo consegue ser assertivo
quando escreve que “A maior tortura é
aquela que nossa mente nos proporciona”2. Neste trecho do livro
ele descreve o possível pensamento do pai quando estava aprisionado e sendo
torturado. É o pensamento de alguém que vai morrer, da pessoa que reflete sobre
tudo o que vai deixar para trás e como essas pessoas irão ficar sem ele. O
texto neste trecho está impecável.
Não
vou me estender muito, quero que você, leitor, leia este livro, que se envolva
com ele, que se emocione com a trama. E, ao meu grupo do Clube de Leitura do Esperia eu peço desculpas. Antecipei a leitura
do mês de Julho porque não resisti às primeiras páginas, foi impossível parar,
mas guardo para vocês comentários que não fiz aqui.
Ler
Ainda Estou Aqui, através da
trajetória de Eunice, nos coloca frente
a frente com uma reflexão muito importante, que é a compreensão do outro, que é
o olhar desprovido de preconceito. Lembre-se sempre que por trás da riqueza, da
frieza, da beleza sempre haverá um ser humano que pode estar sofrendo, passando
por dificuldades. Nunca saberemos suas razões, mas sempre poderemos sorrir e
oferecer nosso abraço.
Ainda Estou Aqui também pode querer dizer que a pessoa está
presente naquele momento e oferecendo sua atenção e carinho para outro.
Se
você leu este livro me conte suas impressões.
Autor: Marcelo
Rubens Paiva
Ano
de lançamento: 2015
Editora: Alfaguara
Gênero: Literatura Brasileira
Páginas: 296
1 – Pág. 18
2 – Pág. 108
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