Li este livro em abril e desde então tenho pensado em como escrever uma resenha sobre ele. Qualquer coisa que eu fale aqui sobre Borges será pequena perto da imensidão deste grande autor, e do que os estudiosos de sua obra sabem e percebem em suas histórias.
Decidi
então que não vou me preocupar com o academicismo, mas sim com as impressões e
sentimentos que ele me provocou.
Ficções
fez parte da conversa do Clube de Leitura do Clube Esperia em abril deste ano.
Foi um dos encontros mais interessantes e polêmicos. Ricos em ideias,
percepções, críticas e envolvimento com a obra. Foi tão rico que sem perceber,
creio que atingimos uma percepção de Borges mais aprofundada, levando-se em
consideração a complexidade da vida e do intelecto do autor.
Borges
não é para muitos. Precisa amar literatura, precisa gostar de desafios, precisa
saber lidar bem com as frustrações quando uma obra não se desenvolve, quando
parece que você está lendo em Sânscrito, quando as letras, as palavras e as
frases parecem não fazer conexão com o cérebro que possui.
Jorge
Luis Borges é um mergulho em um mar desconhecido, talvez nunca dantes navegado
pela maior parte dos leitores comuns, mas depois que você sai deste oceano o
mundo parece diferente.
Escolhi
neste livro um único conto para comentar, creio que ele resume bem a complexidade
filosófica de toda a obra. A Biblioteca de Babel é, em minha opinião, um dos
textos mais incríveis, complexos e obscuros que já li em minha vida.
A
biblioteca de Babel é um conto que descreve uma biblioteca infinita, descrever
é pouco perto do que você lê. Por que em
Babel você pode encontrar todos os livros possíveis que existiram e que
existirão. Se você, como ser humano finito tivesse tempo, poderia abarcar todo
o conhecimento que existe e que existirá. É lindo! É filosófico!
Quem
em sã consciência consegue imaginar-se lendo todos os livros que existem no
mundo? Nem se fossemos Matusalém conseguiríamos tal feito. E o texto de Borges
parece nos colocar exatamente neste ponto, frente a frente com a pequenez
humana diante da infinitude do conhecimento que temos e que ainda não atingimos
como conjunto humano.
É
uma obra rica em simbolismos, que reflete sobre a relatividade do conhecimento
e a impossibilidade de alcançarmos a verdade absoluta. Alias, verdade é um tema
que sempre interessou ao Ser desde os filósofos gregos.
Em
Metafísica, Aristóteles nos fala da correspondência entre o pensamento e a
realidade. Ele escreveu que “É verdadeiro dizer do que é que é, e do que não é
que não é”. E desde que li esta frase tentei compreende-la, mas foi só em a
Biblioteca de Babel que Aristóteles fez sentido, porque você caminha pela
Biblioteca e se depara com este questionamento em cada frase do autor.
No
texto, quem nos conduz é o Bibliotecário “Borges” que está em busca do livro
que contém todos os livros, uma espécie de catálogo. Uma figura mitológica, que
assim como os nossos mitos, são construções mentais que nem sempre resultarão
em um encontro, mas que construirão quem somos.
É
a infinitude de um Universo, que como diria Marcelo Gleiser, nunca chegaremos a
conhecer, mas que apenas supomos e buscamos com o nosso olhar de observador
compreender.
Será
que todos os volumes da biblioteca contêm todas as possibilidades que existem e
que poderão existir? Nós, seres humanos, somos estes volumes e contemos em nós
mesmos todas as possibilidades de existência?
Interessante
que a Biblioteca é habitada por bibliotecários. Alguns se interessam em saber o
que há nos livros, outros não, assim como as pessoas que passam pela vida e não
buscam o saber.
Tudo
no livro está indexado e se mescla. Passado, presente e futuro convivem ao
mesmo tempo, como nas teorias da física quântica. Isso nos leva a pensar também
que Conhecimento é Poder, mas sendo infinito estão dispostos em livros finitos
e condensados nos volumes. Assim,
ninguém contém todo o conhecimento existente no Universo.
Isso
nos dá motivos para desistir e sentarmos confortavelmente em uma poltrona do
não saber? Não, mesmo diante desta realidade a Biblioteca nos dá um motivo para
existir, para desbravar o conhecimento que conseguirmos ao longo de nossa vida
finita. É alentador.
E
qual seria a felicidade plena? Alcançar todo o conhecimento?
Em
minha opinião, após a leitura do livro, penso que a felicidade e desfrutar de
cada conhecimento que podemos desbravar, pois ele nos abre a janela para que
outros possam ser desvendados.
Ler
Borges foi um desses desafios, abriu janelas e me mostrou o quanto ainda
posso alcançar.
Autor: Jorge
Luis Borges
Ano
de lançamento: 1944 (Esta edição 2007)
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Contos Argentinos
Páginas: 174
Sinceramente, sua exposição do livro ,me despertou a curiosidade . Colocarei na minha lista de não lidos. Gosto de desafios e desejo sempre ter acesso ao conhecimento humano. Obrigada.....
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