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Mostrando postagens de agosto, 2025

Elogio da Loucura

Em tempos controversos como o atual, falar de loucura parece muito óbvio. Tão comum que você deve estar se perguntando: - Por que eu deveria ler Elogio da Loucura, do filosofo e teólogo holandês Erasmo de Rotterdam, que escreveu este texto por volta de 1511? Posso te dar inúmeras razões, mas vamos personificar a própria “Loucura” e imaginar que ela resolvesse subir em um palco e, de peito aberto, começasse a falar sobre nós, humanos. Sem papas na língua, ela diria o que pensa de reis, religiosos, acadêmicos, políticos e até das pequenas vaidades do dia a dia. O resultado? Um texto que parece ter sido escrito ontem, apesar de ter mais de 500 anos. Elogio da Loucura não é um tratado chato de filosofia. Pelo contrário: é uma sátira bem-humorada, que usa ironia fina para mostrar como a vida seria impossível sem um pouco de... insensatez. Erasmo dá voz à “Loucura” para expor hipocrisias e, ao mesmo tempo, nos fazer rir das contradições humanas. O interessante é que o livro não cai nem...

O segredo da padaria da vida

A cada dois dias faço pão em casa. É mais saudável, sem os aditivos que os ultraprocessados nos apresentam, aquele pão de forma que compramos no supermercado. No caseiro você sabe exatamente o que colocou: farinha, ovos, fermento, sal, açúcar, leite, nada de produtos com nomes esquisitos que mais parecem o bomba química. Mas o fazer em casa também tem suas desvantagens. Mesmo com a máquina de pão você precisa observar o ponto da massa. Se ela gruda nas laterais é porque está úmida demais; se está esfarelando é porque não tem umidade. Você olha e tem que decidir: - mais uma colher de sopa de água, ou mais uma colher de chá de farinha? Mesmo assim, não tem a certeza que aquele pão vai ficar macio. E qual é o segredo para dar certo? Bem, os padeiros sabem disso melhor que ninguém, os alemães também. E qual é o segredo? A prática. A paciente pratica que levará o profissional à perfeição. Observar, corrigir rotas sem se desanimar com os erros. A formação acadêmica de padeiro na ...

Ninguém toca nessa maionese!

Essa frase icônica, vinda da primeira versão da novela me levou a assistir os capítulos recentes de Vale Tudo. É no mínimo irônico quando a atriz Malu Gali, travestida da personagem Celina, entra esbaforida em um restaurante gritando para ninguém tocar na maionese. Lembrou-me daquelas cenas dos filmes de ação quando alguém entra e grita: - ninguém se mexe, ou algo parecido. Ou então o grande Hitchcock, quando você vê a sequência de tomadas de cena com um prato enorme de salada de maionese sendo colocado no buffet, as portas do restante se abrindo, pessoas vão entrando e colocando a maionese no prato. Você sabe que ela está contaminada com salmonela, você fica apreensivo, a mulher coloca a maionese no garfo e leva lentamente para a boca (Minha nossa! O roteiro original foi mudado!) e daí a Celina entra gritando para ninguém tocar na maionese. Ufa! Ninguém vai morrer. Essas tomadas de cena são ou não são dignas de Hitchcock? Tudo foi construído de forma primorosa a nos levar a emba...

O Sentido da Vida

Sabe aquele livro que você lê e parece preencher buracos que você nem sabia que existiam? Pois bem, O Sentido da Vida de Contardo Calligaris é um desses livros. (Prêmio Jabuti 2024) Para quem não conhece, Calligaris é psicanalista, ensaísta e escritor. Nasceu na Itália, radicou-se no Brasil e escreveu por mais de vinte anos para a Folha de S. Paulo, mas confesso que não é tudo isso que me impressionou no livro, mas a capacidade do autor em prestar atenção aos detalhes, ao que realmente importa na vida. O Sentido da Vida é um relato sincero que discute a importância de buscar um sentido na existência e de ser feliz. Segundo o autor, essa busca insistente nos distrai do que realmente importa: viver. Ao longo do texto, que você consegue ler em uma única manhã, ele discorre sobre o tema e nos apresenta argumentos convincentes de que nos distraímos do que realmente deveríamos estar fazendo: que é viver e aprender. Concordo com ele, porque quando vivemos de verdade buscamos o conhe...

Morangos do amor e outras mentirinhas que contamos para nós mesmos.

Outro dia vi uma fila. Fila é coisa que atrai gente, né? Ainda mais fila na frente de um carrinho vintage, iluminado com luzinhas piscantes, que vendia –  Morango do Amor . Um morango espetado num palito, banhado numa casquinha de açúcar brilhante, quase hipnotizante. Tinha gente tirando selfie, vídeo, close no esmalte combinando com a cobertura. Pensei: será que todo mundo aí gosta mesmo disso? Porque eu, por exemplo, acho o morango do amor muito bonito, sim. Mas comer? Aquela crosta que gruda no dente, o morango que às vezes está verde por dentro e azedo... sei lá. É uma experiência que parece entregar menos do que promete. Uma pequena decepção caramelizada e instagramável. E mesmo assim, confesso: quase entrei na fila. Foi aí que me dei conta: quantas coisas na vida a gente consome só porque “tá na moda”? Quantas ideias a gente repete só porque estão dizendo por aí que são o máximo? Quantos relacionamentos a gente vive, roupas que a gente usa, caminhos que a gente escolh...

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