Sabe aquele livro que você lê e parece preencher buracos que você nem sabia que existiam? Pois bem, O Sentido da Vida de Contardo Calligaris é um desses livros. (Prêmio Jabuti 2024)
Para
quem não conhece, Calligaris é psicanalista, ensaísta e escritor. Nasceu na Itália,
radicou-se no Brasil e escreveu por mais de vinte anos para a Folha de S.
Paulo, mas confesso que não é tudo isso que me impressionou no livro, mas a
capacidade do autor em prestar atenção aos detalhes, ao que realmente importa
na vida.
O Sentido da Vida é um relato sincero que discute a importância de
buscar um sentido na existência e de ser feliz. Segundo o autor, essa busca
insistente nos distrai do que realmente importa: viver.
Ao
longo do texto, que você consegue ler em uma única manhã, ele discorre sobre o
tema e nos apresenta argumentos convincentes de que nos distraímos do que
realmente deveríamos estar fazendo: que é viver e aprender.
Concordo
com ele, porque quando vivemos de verdade buscamos o conhecimento, aprendemos
com nossos erros, com nossas dúvidas. Experenciamos a vida. Quando ficamos
apenas no cerebral, quando ficamos pensando apenas no que dá sentido a nossa
vida, acabamos no campo da “virtualidade” e a vida passa e nós não usufruímos dela.
Claro,
isso que comento por aqui é apenas a superfície de como o autor trata o tema.
No livro ele literamente se aprofunda em assuntos como a morte, a felicidade,
valores, etc.
“(...) a vida é a obra de arte de cada
um, a mais importante, a mais valiosa e talvez também a única. A experiência da
vida é uma experiência criativa de uma obra de arte – a vida de cada um de nós
é a sua obra de arte.” Pág. 127
Em
minha opinião um dos parágrafos mais marcantes escrito por Calligaris. Ele fala
da importância do hedonismo, do sentir prazer pelas coisas. Quando compara a vida
do ser a uma obra de arte é algo tão significativo, tão grandioso que não
caberia em uma única postagem toda a imensidão de comentários que este único parágrafo
requer de nós.
Cada
quadro, cada escultura, cada obra de arte é algo único, que não poderia ter
sido feito por ninguém diferente do artista que a realizou. Quando Calligaris
faz esta comparação, ele nos apresenta algo muito importante que é a
individualidade de nossa existência. Ninguém pode fazer por nós o que deveríamos
fazer. Somos únicos e devemos caminhar, mesmo que o caminho escolhido não dê em
lugar nenhum, mesmo assim teremos realizado a caminhada e aprendido algo.
Para
este assunto, ele cita algo bem curioso que é Holzwege, caminho do lenhador. Na Alemanha os lenhadores entravam
na floresta e tiravam uma árvore, formavam um caminho, mas este caminho não
tinha um sentido, era apenas um buraco na floresta de algo que foi tirado de
lá. O que o lenhador aprendeu ao tirar aquela árvore? O que foi feito da
árvore? Creio que é isso que importa realmente.
Ele
também coloca a vida não como um valor maior, mas como um instrumento, como a
razão de medida do que realmente tem valor para nós:
“A vida não pode ser o valor maior,
porque, ao contrário, a possibilidade de arriscá-la é o que nos permite medir o
que eventualmente é um valor para nós.” Pág. 98
Finalizo
a postagem com o que considero a resposta para a pergunta “qual o sentido da
vida?”. Na verdade o sentido está no que fazemos dela, levando em consideração
tudo o que acontece como as dores, as perdas, o luto, o prazer e a beleza. O
sentido da vida está distante da ideia contemporânea de felicidade, na qual
atrelamos sucesso e bens adquiridos ao tema. A vida não é o que falta, mas o
que temos e o que fazemos com o que possuímos.
Autora: Contardo Calligaris
Ano de publicação: 2023
Editora: Planeta do Brasil
Gênero: Não ficção
Páginas: 144
Soraya, realmente penso que a vida, apesar de complexa, dentro de nossas mentes, é simples em essência. Ela para mim é um precioso dom de amor do Criador, mas exigente e única quanto à individualidade. Sofrimentos, alegrias
ResponderExcluir, sucessos ou fracassos , são na eternidade, momentos para que nós
Obras de arte fiquemos melhores. Gostei da sua postagem obrigada. Cly.