Há um instante, entre uma palavra e outra, em que o silêncio se abre como uma fenda luminosa. É nesse intervalo que a literatura respira. O silêncio, muitas vezes esquecido, é também linguagem: diz sem dizer, sussurra sem voz, ecoa na ausência.
Os escritores sabem que o indizível é parte
da vida, e que nenhuma frase contém tudo. Por isso, o silêncio aparece como
gesto de confiança: o autor deixa ao leitor o privilégio de preencher o espaço
em branco, de escutar o que não foi escrito. Hemingway escondia sob a
superfície da narrativa um oceano de sentidos — e o que não se conta vibra mais
forte do que o que se diz.
Há silêncios íntimos, como em Virginia
Woolf, quando uma pausa na consciência da personagem revela mais sobre a alma
do que longos diálogos poderiam revelar. Há silêncios carregados de dor, como o
intervalo entre duas frases em que se pressente o luto. Há silêncios que são
resistência, metáforas erguidas contra a censura, palavras caladas que sobrevivem
justamente por não poderem ser ditas.
Na poesia, o silêncio é ainda mais visível:
está no branco da página, no vazio que molda o verso, na pausa que prolonga uma
imagem dentro do leitor. Mallarmé dizia que a página em branco é parte do poema
— e talvez seja o silêncio quem dá ritmo à música das palavras.
O silêncio na literatura não é ausência,
mas presença oculta. Ele é a sombra necessária para que a palavra brilhe, é o
espaço onde o sentido amadurece em segredo. É um convite ao leitor: escutar não
apenas o que se escreve, mas também o que se cala.
No fundo, toda obra literária é feita desse
diálogo delicado entre palavra e silêncio. Porque é no não-dito que a
literatura guarda seu mistério mais profundo.
Um lindo final de semana!
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