Sorvete ou fruta? Redes sociais ou um bom livro? Arroz, feijão e legumes ou aquele ultraprocessado que a gente come sorrindo e depois chora no consultório médico? Azul ou vermelho? Direita ou esquerda? A vida parece ter virado um grande cardápio de escolhas obrigatórias. Algumas nos fazem sentir como chefes da própria existência; outras, nos deixam com gosto amargo na boca, como quando erramos feio no tempero. A verdade é que viver é, antes de tudo, escolher. E nem sempre dá para escolher sem tropeçar. Às vezes a gente acerta com brilho nos olhos. Noutras, erra com toda convicção. E aprende, claro. Porque até o desastre ensina. Ultimamente, temos sido bombardeados por um novo tipo de escolha: como lidar com a inteligência artificial. Usamos? Evitamos? Deixamos ela escrever por nós? Escolhemos um chatbot para conversar ou preferimos o silêncio da nossa própria reflexão? A imperfeição de nosso próprio texto? Não é uma questão só tecnológica — é ética, afetiva, humana. Estamos del...
Outro dia, me dei conta de que guardar as coisas nem sempre é garantia de felicidade. Foi ao abrir uma gaveta. Lá estava ele: o belíssimo pano de prato que minha mãe me deu há muitos anos — e põe anos nisso. Com um barrado lilás repleto de lavandas, ele repousava ali, naquele cantinho especial, encantando exclusivamente meus olhos todas as vezes que a gaveta se abria. Nunca o usei. Queria preservá-lo. Evitar que o tempo o desgastasse, que as manchas certeiras o atingissem, que o sabão em pó desbotasse aquelas flores tão vivas que pareciam morar no meu coração. Mas um dia, decidida a fazer mudanças, resolvi usá-lo. Ele ficou lindo, reluzente. Passei a manuseá-lo com todo cuidado e carinho. Até que, inevitavelmente, precisou ir para o sabão. Afinal, o que se usa precisa ser lavado. Foi aí que a verdade veio ao meu encontro: no tecido antes intocado, surgiu um pequeno buraquinho. Pequeno, sim — mas suficiente para me frustrar. Tecidos guardad...