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Árvores em movimento

Sigo para o 3º dia de caminhada e por sorte ele está bonito. O céu azul repleto de nuvens claras apresenta-se como uma luz. Escolhi a Vila Leopoldina porque o bairro sempre me chamou a atenção. Ruas recheadas de verde, um povo educado que passa pelas calçadas e te dá bom dia com um sorriso no rosto. É agradável caminhar por lá. Paro o carro na mesma praça, cuja banca de jornal resiste ao tempo e a falta de leitores. Sempre considerei as bancas de jornal um pequeno paraíso. É um lugar de deleite, no qual eu parava por muitos minutos e olhava as revistas, as manchetes dos jornais. Sempre saia de lá com pelo menos dois exemplares. Hoje em dia banca de jornal vende de doces até brinquedos. Para a tristeza de quem valoriza a cultura, os calhamaços de jornal parecem servir unicamente para suprir as necessidades dos Pets. Será que ninguém lê mais? Acerto o meu aplicativo de caminhada e começo a jornada que será leve por conta das incontáveis árvores que permeiam o bairro. Se tem algo que ...
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A pequena loja de venenos

Este livro foi um presente de uma grande amiga. Li em pouco mais de dois dias. Na trama, que corre em dois tempos diferentes, no presente e no século XVIII, uma mulher do passado Nella se conecta com outra do presente Caroline, e apesar da distância que as separa ambas parecem viver os mesmos dilemas. Nella, a mulher do passado, manipula venenos e os vende apenas para as mulheres. A Caroline do presente é uma mulher com um relacionamento fracassado que perdeu sua identidade por conta de um amor. A principio você tem a sensação de ler um livro banal, cuja estória se conecta com outras muito juvenis. No entanto, com o passar das páginas é possível se conectar com um universo que pertence única e exclusivamente à nós, mulheres. (Não estou dizendo que este livro é um livro para mulheres, longe disso). Quando a autora coloca Nella vendendo venenos para que as mulheres possam se livrar de seus maridos, algozes terríveis que as maltratam, que as   têm como objetos de uso e descart...

O caminho se faz ao caminhar

Em meio ao caos e ao burburinho uma rua se abre para o sossego. Pode parecer impossível, mas um córrego de águas limpas corre por entre um fundo ferruginoso. É São Paulo? Sim, uma São Paulo que se busca e se esquece, uma cidade que brinca de esconde-esconde, um lugar que se desvenda para quem ama boas surpresas. Como as árvores revolucionárias, que resistem ao ar, ao vento, a construção de uma rodovia que, com certeza derrubou muitas delas. Elas parecem nos dizer: “juntas somos mais fortes”. E você acredita no que elas dizem. Mais a frente, já adentrando ao concreto, uma linha de Kalanchoes multicoloridos se enfileiram por uma calçada estreita para o pedestre, mas farta de natureza e de beleza. A cada olhar parece pulular algo que chama atenção. Uma árvore que  foi esquecida pelas podas assassinas surge imponente, forte, contrariando a ideia de que árvores velhas caem. Ela abre seu leque de folhas em um aconchego fresco da sombra. Sussurra convidativa enquanto nos oferece um ...

Nem sempre é lindo andar na Cidade de São Paulo

Domingo saí para caminhar. Vou iniciar um projeto no qual me proponho caminhar por alguns quilômetros e produzir 17 textos sobre esta caminhada. O número 17 é porque em maio o blog Prosa Mágica faz 17 anos. A ideia surgiu por conta do projeto de outra pessoa, que irá caminhar 10 quilômetros. Serei mais modesta e se tiver autorização conto o autor do projeto original depois. A dificuldade em fazer um projeto assim tão ambicioso, é o lugar onde moro. Não há um espaço seguro e variado para caminhar, então terei que me adaptar com saídas do bairro, o que incluirá idas a Liberdade, a Lapa, a Leopoldina e outros locais com vistas interessantes. Isso sempre me chamou a atenção por aqui, porque percebo que a cidade não tem planejamento de forma a incluir o pedestre. Você tem grandes vias movimentadas com calçadas muito ruins e a falta notória de verde. Principalmente nas periferias da cidade. Nos tempos em que morei em Londres caminhar era um grande e inenarrável prazer. Há parques espal...

O Paraíso são os Outros

Este livro caiu ao acaso em minhas mãos. Tenho um aplicativo de leitura que pouco uso Skeelo porque prefiro a presença física do papel, com seu aroma de tinta, com suas páginas que posso tocar, observar, deixar em espera em um móvel qualquer da casa. Quando vi que o livro era de Valter Hugo Mãe fiquei muito curiosa e comecei a ler. Não consegui parar mais. "O Paraíso são os Outros" é um daqueles livros que te pegam de surpresa com sua delicadeza e profundidade. A estória é apresentada por uma menina, que observa o mundo ao seu redor com uma curiosidade genuína e uma sabedoria que transcende sua idade. A menina reflete sobre relacionamentos e amor, não apenas entre casais, mas também entre amigos, familiares, pais e filhos, e até animais. Algumas de suas conclusões são óbvias, mas é neste ponto que reside à genialidade do texto. Tem um trecho muito engraçado em que a menina conclui que todo mundo engorda depois do casamento e que ela não quer perder o fôlego por conta ...

O avô, um adolescente e um mercador de sonhos

Parece história de filme, mas não é. Tem todos os elementos para compor um bom enredo: duas pessoas que vivem em cidades distantes se conhecem pela internet e mantém uma amizade que perdura por anos, mesmo que eles tenham se encontrado uma única vez. Vida de blogueira tem alguns fatos que dariam um livro, confesso que começo a pensar na ideia de escrever sobre o assunto, mas vamos ao enredo do parágrafo acima. Anos atrás (10/08/2010) li uma matéria na Folha de S. Paulo que contava a história de um adolescente que a partir de um castigo literário (o pai exigiu que ele lesse 10 livros por conta de uma nota baixa na escola) se tornou não só um leitor apaixonado por livros, mas um adolescente que conseguia ler 300 páginas em apenas uma hora. Claro que o assunto interessou demais, e sem ter como me comunicar com o adolescente publique uma postagem comentando a matéria da Folha. ( link ) Tempos depois, não muito, o avô do adolescente entrou em contato comigo elogiando o fato de ter p...

A cabeça do santo

O que faz uma grande estória? O que é necessário para que o leitor fique preso à trama e não queira parar até que a última página chegue? Até hoje não encontrei alguém que desse uma resposta definitiva sobre isso, apenas pistas. Quem conta uma estória precisa se envolver com ela, precisa senti-la na pele, nos ossos em seu mais profundo ser. Se não fizer isso, não conseguirá prender o leitor de uma forma perpétua, aquela que queremos saber o fim e que mesmo após saber o final da trama continuamos por dias pensando no que aconteceu e em como os personagens estão vivendo. Socorro Acioli consegue fazer isso plenamente, e não é porque ela fez uma oficina com Gabriel Garcia Marques. É porque ela tem talento para escrita, é porque ela se esforçou para encontrar a técnica perfeita para a trama que tinha apenas em sua cabeça. Oficinas de escrita nos ajudam a escrever, mas se não houver talento e perseverança será apenas mais um curso no currículo desta pessoa. A Cabeça do Santo é o primei...

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