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A literatura existe porque uma única vida não basta


        Finalizei minha trilogia Literatura & Champanhe com a publicação do livro O Diário do Dragão em 2014. Foi uma longa jornada que se iniciou em 2011, em uma longínqua segunda feira de fevereiro (dia 14) dentro da livraria Cultura que existia no Shopping Bourbon de São Paulo.

Eu encontrava meus amigos Fábio e Alberto todas as segundas para treinarmos o nosso inglês falando de livros, notícias da semana e os assuntos mais variados. Bons tempos que deixaram saudades.

Naquele dia eu tinha chegado muito cedo, e meio sem saber o que fazer  comprei um caderninho e sentei-me no café que tinha lá dentro. Em poucos segundos a história veio, como se estivesse me esperando por muito tempo, e preenchi páginas e páginas do que seria o inicio de uma trilogia que levaria três anos para ficar pronta.

Escrever é um ato de amor. É um compartilhar íntimo, porque de certa forma os personagens fazem parte do escritor, ou pelo menos gostam o suficiente dele (do escritor) para se comunicar. E, quando isso acontece desnudamos nossa alma para trazer um pouco de alegria e fantasia na vida de outras pessoas.

Ferreira Gullar dizia que “a arte existe porque a vida não basta” e ele tinha razão. Em uma única existência não temos tempo de ter todas as profissões e todas as aventuras que o mundo possa nos proporcionar. O romance nos dá isso. Quando lemos, podemos ser um escalador de montanhas, uma jovem dançarina, uma experiente senhora indiana de 100 anos cercada por seus inúmeros familiares ou ter qualquer outra vida que nunca sonharíamos em ter nesta que vivemos.

O escritor é, antes de tudo, um leitor que ama o que faz e quer encontrar os incontáveis personagens que estão à espera de alguém que os traga a vida. É um parteiro de vidas e de histórias.

Literatura & Champanhe nasceu assim, de um parto rápido de personagens pelos quais sou apaixonada até hoje. De vez em quando eles me acenam pedindo um novo livro, dizendo que estão com vontade de uma nova aventura. Não sei se Jane e Robert teriam fôlego para um novo romance.

O primeiro livro foi Literatura & Champanhe (publicado em 2012), como mesmo nome da trilogia. Fiquei sabendo que não deveria ter dado o mesmo nome para a trilogia, mas na época eu não tinha a menor ideia disso e agora não tem mais jeito, vai ficar assim.

O segundo livro, minha paixão e filho querido, foi A Sombra da Meia Noite (publicado em 2013). Um livro que exigiu pesquisas gigantescas de época, de costumes e principalmente muitas caminhadas no Google Street View pelas ruas de Nova York, cidade que não conheço, mas que foi a sede de toda a trama.

O terceiro livro foi O Diário do Dragão (publicado em 2014), escrito em uma fase particularmente difícil de minha vida, uma fase de incertezas e medos. Foi um desafio muito grande, também precisou de muita pesquisa para ser feito, e muitas tabelas, linha do tempo etc., ou seja, muita organização para que nenhuma ponta da trama ficasse solta.

Escrevo tudo isso, não só porque é uma alegria imensa ter se passado mais de 10 anos que Literatura & Champanhe surgiu na minha cabeça, mas embalada pelo possível fechamento da livraria Cultura.

Uma parte considerável da trilogia foi escrita no café da livraria Cultura do Bourbon. De certa forma, a própria livraria foi minha inspiração. Elas (as livrarias) possuem vidas que estão conservadas dentro de cada volume em suas prateleiras. Quando me vi diante da possibilidade de nunca mais poder colocar meus pés na Cultura, me passou um filme na cabeça (como diria Fausto Silva). Todas as memórias da escrita vieram de enxurrada e junto delas uma tristeza imensa de ver, mais uma vez, um ícone da cultura ser enterrado.

Sei que meus personagens farão parte do imaginário dos leitores para sempre, e um pedacinho da livraria Cultura também, porque ela está lá, no DNA dos meus livros.

 

           Bom Carnaval e boa Leitura!

Fábio e Eu no CNA.




Querido Alberto, em memória.


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