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Uma cadeira pode ser muito mais que uma cadeira

Richard Artschwager - Splatter Chair 

Um dia, há muitos anos, assisti a um espetáculo de dança muito estranho. Em cena não eram os bailarinos que realmente dançavam, mas as cadeiras que entravam e saiam sem cessar do palco. Na época não entendi. Hoje compreendo um pouco melhor.

Todo objeto tem forma, significado, uso e função. Não seria diferente com uma cadeira. Este objeto pode ter desde a forma de um luxuoso trono até a simplicidade de uma cadeira de palha. São incontáveis as formas.

Dentro deste contexto, cadeiras podem significar poder, simplicidade quando associadas à riqueza física; conhecimento, quando conectadas a locais de estudo e leitura; espera, angustia, dor, quando estão na sala de espera em um hospital ou consultório médico; desabafo quando se travestem de divã na sala do psicólogo; alegria e confraternização quando amigos se encontram em um restaurante  ou bar; em alguns países uma cadeira pode ser sinônimo de morte.

Já como função, uma cadeira pode contribuir como objeto de conforto para alguém, mas também responde a necessidade de segurança para que o indivíduo, através do aprendizado, possa se tornar um profissional competente. Pode também exercer uma função estética quando observada em um museu.

A cadeira normalmente é usada para que as pessoas possam repousar, ou fazer atividades que demandariam horas em pé. No entanto, limitar-me a isso seria simplificar demais.

Cadeiras também podem ser usadas como escadas – quem nunca subiu em uma para pegar algo no alto que jogue a primeira cadeira - Podem ser assentos sanitários,  objetos para levantarmos barricadas,  elemento decorativo em uma sala, obra de arte em um museu. Cadeiras podem até ser usadas como objetos cênicos de uma brincadeira infantil. No meio de tantos usos, elas também são usadas como arma.

Fatos e imagens recentes ampliaram o duo “uso e significado”. Nunca uma cadeira esteve tão em voga. Nunca uma cadeira assumiu o significado de um basta tão grande e ao mesmo tempo, se avaliarmos no contexto ocorrido,  a total da pobreza de espírito, de repertório linguístico e filosófico que gerou o ato.

Passados 24 anos do inicio do século XXI, uma cadeira assumiu um protagonismo que supera os antigos tronos dos reis ou a falta dela na extrema pobreza material. Tempos estranhos esses!

A cadeira, quando atirada, passa vertiginosamente a nos dizer que algo necessita de mudança, que deve indubitavelmente buscar o ser do Ser e ecoar pela sociedade.

Quando se faz necessário atirar cadeiras para calar a voz da ignorância, algo está muito errado na sociedade. É preciso observar para realizar mudanças.

Levanto esta reflexão com vocês não apenas por ser o assunto do momento, mas por sua relevância quando pensamos em uma sociedade melhor. O ato é grotesco, mas a simbologia contida nele é necessária, e vai além dos memes os dos pré-conceitos moralistas.

Compartilho com vocês uma trilogia que pauta meu cotidiano.

­­­- Pensar muito, falar se necessário e agir somente em último caso, depois de ter passado pelos dois primeiros crivos.

Na vida e na escrita não existe melhor mediador.

Que as boas e as artísticas cadeiras pautem nossas vidas.

Lindo final de semana!

 

Imagem: Richard Artschwager - Splatter Chair I1992 - MOMA

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