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Ninguém toca nessa maionese!

Essa frase icônica, vinda da primeira versão da novela me levou a assistir os capítulos recentes de Vale Tudo. É no mínimo irônico quando a atriz Malu Gali, travestida da personagem Celina, entra esbaforida em um restaurante gritando para ninguém tocar na maionese. Lembrou-me daquelas cenas dos filmes de ação quando alguém entra e grita: - ninguém se mexe, ou algo parecido. Ou então o grande Hitchcock, quando você vê a sequência de tomadas de cena com um prato enorme de salada de maionese sendo colocado no buffet, as portas do restante se abrindo, pessoas vão entrando e colocando a maionese no prato. Você sabe que ela está contaminada com salmonela, você fica apreensivo, a mulher coloca a maionese no garfo e leva lentamente para a boca (Minha nossa! O roteiro original foi mudado!) e daí a Celina entra gritando para ninguém tocar na maionese. Ufa! Ninguém vai morrer. Essas tomadas de cena são ou não são dignas de Hitchcock? Tudo foi construído de forma primorosa a nos levar a emba...
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O Sentido da Vida

Sabe aquele livro que você lê e parece preencher buracos que você nem sabia que existiam? Pois bem, O Sentido da Vida de Contardo Calligaris é um desses livros. (Prêmio Jabuti 2024) Para quem não conhece, Calligaris é psicanalista, ensaísta e escritor. Nasceu na Itália, radicou-se no Brasil e escreveu por mais de vinte anos para a Folha de S. Paulo, mas confesso que não é tudo isso que me impressionou no livro, mas a capacidade do autor em prestar atenção aos detalhes, ao que realmente importa na vida. O Sentido da Vida é um relato sincero que discute a importância de buscar um sentido na existência e de ser feliz. Segundo o autor, essa busca insistente nos distrai do que realmente importa: viver. Ao longo do texto, que você consegue ler em uma única manhã, ele discorre sobre o tema e nos apresenta argumentos convincentes de que nos distraímos do que realmente deveríamos estar fazendo: que é viver e aprender. Concordo com ele, porque quando vivemos de verdade buscamos o conhe...

Morangos do amor e outras mentirinhas que contamos para nós mesmos.

Outro dia vi uma fila. Fila é coisa que atrai gente, né? Ainda mais fila na frente de um carrinho vintage, iluminado com luzinhas piscantes, que vendia –  Morango do Amor . Um morango espetado num palito, banhado numa casquinha de açúcar brilhante, quase hipnotizante. Tinha gente tirando selfie, vídeo, close no esmalte combinando com a cobertura. Pensei: será que todo mundo aí gosta mesmo disso? Porque eu, por exemplo, acho o morango do amor muito bonito, sim. Mas comer? Aquela crosta que gruda no dente, o morango que às vezes está verde por dentro e azedo... sei lá. É uma experiência que parece entregar menos do que promete. Uma pequena decepção caramelizada e instagramável. E mesmo assim, confesso: quase entrei na fila. Foi aí que me dei conta: quantas coisas na vida a gente consome só porque “tá na moda”? Quantas ideias a gente repete só porque estão dizendo por aí que são o máximo? Quantos relacionamentos a gente vive, roupas que a gente usa, caminhos que a gente escolh...

Clubes em livraria reúnem mais de 400 leitores em Ribeirão Preto

Iniciativa da Degustadora de Histórias propõe encontros presenciais para incentivar o hábito da leitura, criar vínculos e promover o debate sobre temas diversos.   Em uma rotina cada vez mais conectada ao digital, os clubes de leitura da Degustadora de Histórias, em Ribeirão Preto, oferecem uma alternativa para quem quer desacelerar, ampliar repertório e, ao mesmo tempo, fortalecer laços sociais. Os encontros presenciais acontecem ao longo do ano e já reúnem mais de 400 leitores em 15 clubes ativos. A proposta vai além da discussão literária. Segundo a idealizadora da Degustadora de Histórias, Melissa Velludo, o objetivo é criar um espaço de trocas, acolhimento e transformação. “A ideia sempre foi criar um ambiente onde as pessoas pudessem se reencontrar com a leitura, fazer trocas reais e se emocionar com boas histórias. O nome ‘degustadora’ vem justamente desse convite a saborear cada página com calma”, explica. Com um acervo de mais de 30 mil livros, entre novos e usados...

Poetando

Quando penso em poesia, sempre me vem à mente uma profusão de imagens que se sobrepõe em camadas, como uma boa pintura, que aos poucos vai formando um sentimento que se fixa, mas não se explica. Complexo e ao mesmo tempo simples. É como olhar um bosque cujos planos se completam com árvores, flores, pássaros, riachos, céu, o ar que dança por entre as folhas, os pequeninos insetos que volteiam nos espaços livres. O olhar não se detém nos detalhes, não de inicio, mas o todo nos provoca emoções, muitas vezes inexplicáveis em palavras. Poesia é isso. É emoção, é frequência e conexão. Quando penso na expressão poesia sempre me vem à mente o famoso haikai de Bashô ( Furu-ike/ ya / kawazu/ tobi-komu / mizu-no-o-to ) Velho lago, Uma rã que mergulha, ruído d’água. Na simplicidade de um cenário que nos apresenta um tanque, em algumas traduções “pequeno lago”, Bashô nos leva ao momento que olhamos para o tanque e vemos rapidamente a rã pular. Qual é a forma e a cor daquela rã? Não sa...

Escolher ou não escolher? Eis a questão

Sorvete ou fruta? Redes sociais ou um bom livro? Arroz, feijão e legumes ou aquele ultraprocessado que a gente come sorrindo e depois chora no consultório médico? Azul ou vermelho? Direita ou esquerda? A vida parece ter virado um grande cardápio de escolhas obrigatórias. Algumas nos fazem sentir como chefes da própria existência; outras, nos deixam com gosto amargo na boca, como quando erramos feio no tempero. A verdade é que viver é, antes de tudo, escolher. E nem sempre dá para escolher sem tropeçar. Às vezes a gente acerta com brilho nos olhos. Noutras, erra com toda convicção. E aprende, claro. Porque até o desastre ensina. Ultimamente, temos sido bombardeados por um novo tipo de escolha: como lidar com a inteligência artificial. Usamos? Evitamos? Deixamos ela escrever por nós? Escolhemos um chatbot para conversar ou preferimos o silêncio da nossa própria reflexão? A imperfeição de nosso próprio texto? Não é uma questão só tecnológica — é ética, afetiva, humana. Estamos del...

O pano de prato e o tecido da vida

          Outro dia, me dei conta de que guardar as coisas nem sempre é garantia de felicidade. Foi ao abrir uma gaveta. Lá estava ele: o belíssimo pano de prato que minha mãe me deu há muitos anos — e põe anos nisso. Com um barrado lilás repleto de lavandas, ele repousava ali, naquele cantinho especial, encantando exclusivamente meus olhos todas as vezes que a gaveta se abria. Nunca o usei. Queria preservá-lo. Evitar que o tempo o desgastasse, que as manchas certeiras o atingissem, que o sabão em pó desbotasse aquelas flores tão vivas que pareciam morar no meu coração. Mas um dia, decidida a fazer mudanças, resolvi usá-lo. Ele ficou lindo, reluzente. Passei a manuseá-lo com todo cuidado e carinho. Até que, inevitavelmente, precisou ir para o sabão. Afinal, o que se usa precisa ser lavado. Foi aí que a verdade veio ao meu encontro: no tecido antes intocado, surgiu um pequeno buraquinho. Pequeno, sim — mas suficiente para me frustrar. Tecidos guardad...

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