Outro dia, me dei conta de que guardar as coisas nem sempre é garantia de felicidade. Foi ao abrir uma gaveta. Lá estava ele: o belíssimo pano de prato que minha mãe me deu há muitos anos — e põe anos nisso. Com um barrado lilás repleto de lavandas, ele repousava ali, naquele cantinho especial, encantando exclusivamente meus olhos todas as vezes que a gaveta se abria. Nunca o usei. Queria preservá-lo. Evitar que o tempo o desgastasse, que as manchas certeiras o atingissem, que o sabão em pó desbotasse aquelas flores tão vivas que pareciam morar no meu coração. Mas um dia, decidida a fazer mudanças, resolvi usá-lo. Ele ficou lindo, reluzente. Passei a manuseá-lo com todo cuidado e carinho. Até que, inevitavelmente, precisou ir para o sabão. Afinal, o que se usa precisa ser lavado. Foi aí que a verdade veio ao meu encontro: no tecido antes intocado, surgiu um pequeno buraquinho. Pequeno, sim — mas suficiente para me frustrar. Tecidos guardad...
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