Vez ou outra a pausa se faz. Seja por um momento, por algumas horas. Vem por um suspiro, uma coxinha, uma maritaca latindo no galho de Santa Barbara. A vida pede a pausa, o sossego, o momento a sós em um ato de intimidade, a sós consigo mesma, mesmo que cercada de uma multidão. A pausa existe na música, representada quase sempre por um suspiro, um suprimir de ar, às vezes longo, às vezes breve. A pausa da dança que salta com o instante que precede o respiro. É breve o momento que, após o port de bras belo e suave, as mãos relaxam para na sequência enfeitarem um giro. Pausa que soa como vírgulas. Ah! Quem dera o texto-vida repleto de vírgulas, de momentos de respiro, de alívio: E ela sentou (vírgula) pegou a xícara e sorveu o café (vírgula), olhou o papel amassado ao lado do pires (vírgula) e num respiro sorriu para os problemas. Xícara, papel, envelope de açúcar pela metade, índices de um momento que se foi, uma transgressão. Vida-texto que pede, clama pelos pontos, dois p
Quando aos 13 anos, junto com uma amiga de escola, decidimos adaptar uma peça de Shakespeare, “Sonhos de uma noite de verão”, que eu mal conhecia, não imaginei que um dia me tornaria escritora. Lembro-me dos encontros, da escrita a mão e dos diálogos que acrescentávamos no texto do alto de nossa adolescência. Ainda vejo aquele texto mimeografado e os ensaios que fazíamos na garagem de casa. A peça nunca foi encenada em público. Eu já tinha ousado na escrita através de pequenos versinhos, de diários escondidos no caderno de educação física, textos que falavam das novelas que eu gostava, do garoto que tinha virado meu “primeiro amor não correspondido”. Tudo isso escondido, com vergonha que alguém lesse. Também na minha adolescência, ao lado da prima Adriana que vinha passar uns dias em casa nas férias, reescrevíamos capítulos da novela em voga “Escrava Isaura” e junto de algumas piadinhas bobas que meu irmão contava, encenávamos durante a noite para um pai e uma mãe pasmos com aque