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A visão de Deus pelo filósofo Espinosa

Espinosa acreditava que Deus não poderia ser transcendente, pois isto significaria que Deus e o mundo eram duas substâncias diferentes, e se isto fosse verdade, Deus não seria Deus.
Ele acreditava em um Deus imanente, cuja causa e o efeito de tudo está em Deus. Assim sendo, tudo o que olhamos, sentimos é “de uma certa forma” Deus.
Para ele (Espinosa) a relação causa e efeito são inseparáveis, por isso não caberia a definição de Criador, pois se assim o fosse, deveria existir algo antes de Deus que o criasse para que Ele próprio criasse o mundo, assim, existiria um Deus para Deus.
Neste aspecto ele alerta que, a ideia de um Deus transcendente e criador, a quem o homem deve obediência, é um exemplo político de servidão[1], incoerente com a idéia verdadeira de Deus.
Espinosa propõe a ideia de Produção – um Deus produtor. Ele afirma
“Deus, causa de si, livre e imanente, produz a si mesmo e com isso, todas as coisas”. Isso não se dá no tempo, pois imaginar um antes e um depois da produção é concebê-la como criação. “A autoprodução de Deus efetiva-se na eternidade, fora do tempo e sempre atual.”
O filósofo também afirma que esta relação imanente entre causa e efeitos chama-se Expressão. Em suas palavras:
“o produto expressa o produtor, e este se exprime no produto”. “Deus produz na extensão e no pensamento”.
Ele usa a expressão latina “natura naturans” para falar de Deus como causa em si, seria o equivalente[2] a “fundamento do fundamento”, e a Deus como efeito em si de “natura naturata”[3]. Nas palavras de Espinosa
“ natura naturans é o que existe em si e é concebido por si, ou, por outras palavras, aqueles atributos da substância que exprimem uma essência eterna e infinita, isto é, Deus, enquanto é considerado causa livre. A natura naturata, por sua vez, é tudo aquilo que resulta da necessidade da natureza de Deus (...), isto é, todos os modos dos atributos de Deus”.
Outra afirmação importante sobre Deus é quando Espinosa diz como entende Deus “ o ente absolutamente infinito, isto é, uma substância que consta de infinitos atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita”. Atributo da substância designa àquilo que constitui a sua essência, e infinitos atributos é tudo. Isso inclui a extensão.
Deus também é extensão, que tradicionalmente era atributo do corpo e da matéria. Mas, declara Espinosa “desconheço a razão pela qual a matéria seria indigna da natureza divina.”
E se Deus, por definição, contém todos os atributos, então, da “necessidade da natureza divina devem resultar coisas infinitas em número infinito de modos”. Deus é a causa primeira e eficiente de todas as coisas. Mas isso não significa que seja o criador, pois, sendo Deus a única substância, nada pode existir fora dele. É por isso que a extensão não pode ser uma substância exterior a Deus, mas um de seus infinitos atributos.
Todas estas considerações conduzem a uma surpreendente conclusão[4]
“tudo o que existe, existe em Deus, e sem Deus nada pode existir, nem ser concebido”. Deus é a causa do mundo, mas o mundo existe em Deus, que é, por isso, causa imanente, isto é, causa que produz efeito em si mesma. Em outras palavras, Deus é o mundo: “Deus, ou seja, natureza”.


Bibliografia
Abrão, Bernadete Siqueira. História da Filosofia. Os Pensadores. Editora Nova Cultural. 1999. São Paulo, SP. Pág. 215 a 224.
Padovani, Humberto e Castagnola, Luís. História da Filosofia. Editora Melhoramentos. 1954.
Notas
[1] Para Espinosa, Servidão e o contrário de Imanência.
[2] Nota que, a palavra usada foi equivalência e não tradução. Estamos falando do significado e não da tradução literal que seria natureza naturans.
[3] Natureza naturata
[4] Não porque esta ideia já não faça parte de nosso conhecimento, mas pelo fato dela ter sido proferida no século XVII e só hoje, retomada.

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