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Toda cidade tem um rio

Uma corrente natural de água que flui com continuidade. Ora desemboca no mar, por outras acaba em outro rio que por sua vez terminará sua trajetória no mar. Rio, river, fleuve, fluss, fiume, na maioria das línguas o som das palavras flui, assim como a torrente de águas se esvai pelas terras. A origem é flúmen, palavra fluída, usada por poetas em suas rimas.
Mas se analisarmos bem o rio é vida. Observe que onde há uma cidade há um rio que passa. Em São Paulo é o feioso e sujo Tietê, em Londres o Tamisa; Paris é brindada com o Sena, além de outros incontáveis e belos rios na Europa como o Tejo, o Reno e o Danúbio.
Assim, os horizontes de uma bela cidade sempre terão um rio a enfeitar ou “enfeiar”. Nos locais onde ele é limpo e fluido há vida em torno de suas margens, casais de namorados, pessoas passeando, vendendo ou simplesmente paradas um instante para refletir. Onde ele é sujo, há tristeza, mal cheiro e desrespeito ao meio ambiente.
O Tamisa, lindo, imponente atravessando como um rei a cidade das rainhas já foi feio é sujo um dia. Um esforço conjunto que uniu vontade política e cultura do povo limpou e deu vida a água na década de 70. O Tietê precisa do mesmo esforço. Nossa cidade tem um rio, não somos exceção. O projeto e as ações para despoluir o rio já começaram agora falta a ação popular, a vontade das pessoas não jogarem mais sujeira nas ruas, nas sarjetas, nos córregos. Não fazerem ligações clandestinas de esgotos direto em córregos e rios e tomar consciência que o meio ambiente é responsabilidade de cada um de nós, simplesmente porque fazemos parte dele.
Para homenagear os rios de nossas cidades, reproduzo aqui a poesia do grandioso Fernando Pessoa, na pessoa de Alberto Caieiro:




O TEJO É MAIS BELO


(do "Guardador de Rebanhos" - Alberto Caeiro)


O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,


Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia


Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.


O Tejo tem grandes navios


E navega nele ainda,


Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,


A memória das naus.


O Tejo desce de Espanha


E o Tejo entra no mar em Portugal.


Toda a gente sabe isso.


Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia


E para onde ele vai


E donde ele vem.


E por isso porque pertence a menos gente,


É mais livre e maior o rio da minha aldeia.


Pelo Tejo vai-se para o Mundo.


Para além do Tejo há a América


E a fortuna daqueles que a encontram.


Ninguém nunca pensou no que há para além


Do rio da minha aldeia.


O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.


Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

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