A pergunta é muito boa, mas a resposta é difícil de ser fechada. As linguagens são diferentes, tão opostas como água e vinho.
Na literatura encontramos a linguagem verbal, que se utiliza de um alfabeto para criar emoções, insinuar situações e estimular a mente a imaginar cenários, pessoas, situações. Na linguagem verbal precisamos dominar as regras da língua em que escrevemos, dominar técnicas descritivas e narrativas que envolvam o leitor.
Uma ficção pode ser escrita em primeira pessoa, quase um diário, e quanto mais rica for em informar as emoções do narrador-personagem, mais envolvido o leitor ficará com a história. A história da literatura traz uma centena de bons escritores que fizeram isto com maestria.
Outra forma de “ficcionar” é a narração em terceira pessoa, onde o escritor é uma espécie de “deus” que tudo vê e tudo sabe, e passa estas informações para o leitor que muitas vezes sabe muito mais da história do que o personagem principal. Quando isto acontece com perfeição, o leitor chega às raias da loucura, pois gostaria de guiar o personagem, mas não pode.
Outra forma é o narrador de terceira pessoa com “uma câmera nos ombros”, como John Granger descreveu em seu livro “Harry Potter’s Bookshelf – The Great Books Behind the Hogwarts Adventures”, não publicado no Brasil. Neste caso você vê a história da perspectiva dos olhos do personagem principal sem, no entanto desfrutar de seus pensamentos ou sentimentos, exceto quando o próprio personagem o descreve ou fala. É talvez por este detalhe que, em minha opinião, a melhor e mais fiel transposição de livro para o cinema tenha sido Harry Potter.
A linguagem do cinema é hibrida, pois trabalha a imagem, o som, o verbal. Na tela o telespectador é impressionado pela imagem que engloba os cenários, atores e atrizes, expressões de sentimentos, roupas, maquiagem e outras facetas artísticas; pelo som da fala, das músicas, da trilha incidental e pela composição literária do diálogo.
Em bom português: no cinema você tira da pessoa toda a necessidade de imaginar e proporciona a ela o prazer de presenciar. Então, a resposta para a pergunta inicial fica clara: Não, não podemos transpor na integra um livro para o cinema, apenas adaptá-lo.
Todas as vezes que se lança um filme baseado em livro, a mesma discussão se trava sobre a autenticidade da versão e das cenas que se modificam no filme. É muito difícil ser fiel a versão original, mas é preciso delicadeza e sensibilidade, o que significa envolvimento com a obra, para se fazer um bom filme. Harry Potter, Caçadores de Pipas acertaram; Senhor dos Anéis, Crepúsculo, Lua Nova erraram (nem por isso deixaram de ser bons filmes).
E você leitor, em sua opinião, qual foi a melhor transposição e a pior?
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