Quando o filme começa, a expectativa que os fãs possuem é muito maior, talvez, que o retorno em imagens. Esta é a regra para qualquer filme que levanta platéias através de suas sucessivas partes (Senhor dos Anéis, Crepúsculo etc). Com Harry Potter e as Relíquias da Morte isto não ocorreu. O público leva de presente já na primeira sequência, cenas absolutamente bem construídas no clima exato de medo, terror e expectativa que a história demanda.
A música tema Hedwig’s Theme e o logo da Warner são as únicas e exclusivas referências aos outros filmes, pois o restante é absolutamente profundo, adulto e intrincado. O diretor David Yates e o roteirista Steve Kloves conseguiram finalmente captar toda a trama dos livros de J.K.Rowling e passar para as telas sem invencionices e acréscimos desnecessários.
Você já sabe que o filme será diferente quando vê Hermione, em uma interpretação magnífica de Emma Watson, apagando a memória de seus pais para que não corram riscos. É dolorido, triste, angustiante a expressão da personagem ao pronunciar a única palavra desta sequência – Obliviatus.
HP7 não é uma sucessão de cenas bem dosadas, mas uma avalanche de sentimentos que proliferam e se modificam em segundos. A platéia vai da gargalhada, como na cena em que Ronny diz a Harry que eles não sobreviveriam dois dias sem a Hermione, ao espanto, quando Gina de costas nuas pede ao Harry para subir o zíper de seu vestido, passando pelo terror de ver Hermione ser torturada pela malévola Belatrix Lestrange.
E tem muito mais. Uma Nagini mais participativa e protagonista de cenas assustadoras como a professora de ensino dos Trouxas sendo servida de jantar, onde o público é abocanhado pela serpente. Na outra, ainda mais realista, Nagini está dentro do corpo da Professora Batilda Bagshot e começa a sair pela boca da mulher morta para atacar o Harry.
Sem contar as expressões de Draco Malfoy, o pseudo-vilão e Prof. Snape, o grande mistério para quem não leu o livro. São tensas, marcantes, impossíveis de não serem notadas.
O trio Rony, Harry e Hermione não cresceram só na história, mas os atores que dão vida a eles superam em interpretação. A cena em que Rony vai destruir a Horcrux, que tenta seduzi-lo para o seu lado mostrando Harry e Hermione dizendo coisas ruins sobre ele e se beijando, nus, demonstrou toda a força do imaginário adolescente junto ao poder maligno de uma Horcrux, em uma cena que teria se tornado deslocada se não fosse a direção magnífica e a interpretação dos atores.
Outro ponto marcante do filme é a invasão do Ministério da Magia, uma referência fortíssima ao Nazismo, como a escultura dos trouxas sendo massacrados pelos bruxos e o julgamento de bruxos que eles não consideram “sangue puro”.
Em outro parte do filme Hermione lê o conto dos Três irmãos enquanto as cenas são ilustradas por um belíssimo desenho animado composto por sombras, uma referência clara a morte, senhora e dona do conto.
É claro que há falhas, mas elas não serão notadas para os fãs que apenas conhecem a série pelo cinema. As mais graves talvez são a morte de Edwirges e Olho Tonto que foram tratadas muito superficialmente na tela mas que possuíam uma profundidade e uma forte influência nos atos de Harry ao longo da trama; e a absoluta falta de explicação sobre a aparição repentina dos comensais da morte onde o trio estava.
Não deve ter sido fácil fazer a divisão do livro em duas partes, mas é muito triste, por que termina exatamente onde não queríamos que terminasse, em um amontoado de perguntas sem respostas, de dúvidas, da sensação de que se passaram duas horas e nada foi resolvido. Agora é esperar mais seis meses para ver para ver o final, para ter as perguntas resolvidas. Para quem leu o livro a ansiedade é outra, completamente diferente. É saber como o diretor respondeu a estas perguntas, como ele construiu a parte mais difícil e profunda a história. Se o primeiro filme servir como base, teremos o desfecho só na meia hora final. Talvez uma clara referência ao pomo de ouro presenteado a Harry Potter por Dumbledore.
“Abro no fim”
Vi este filme e lendo seu comentário, consegui reproduzir mentalmente todas as imagens e situações vividas pelos autores. Muito bom! Sempre procurei associar, durante a exibição, o desenvolvimento da historia com o que a autora relatou no livro Reliquias da Morte e a compreensão do diretor David Yates foi sensacional. Passa a sensação que o mundo de Harry Potter existe realmente e não somente na imaginação, tal riqueza de detalhes utilizada na produção. Gostei muito do seu artigo. Parabéns, Soraia.
ResponderExcluirLuis Antonio