Em tempos virtuais, no qual nenhum lugar é longe demais, ou remoto ao extremo para estar conectado com o mundo, um tema como “leitura em tempo real” pode facilmente nos remeter a um conceito errado do termo.
Eu digo errado por que até hoje não conheci alguém, ou tecnologia, que transmita simultaneamente o que estou escrevendo para outro leitor acompanhar letra a letra, ponto a ponto, delete a delete. (excluído os famosos GCs)
Quando falo em leitura em tempo real, estou me referindo a proposta feita pela autora Deborah Harkness, em meados de setembro, através de sua página no facebook, aos seus leitores e admiradores: - Que tal ler o livro A Descoberta das Bruxas nos dias exatos em que a história acontece?
E fazer isso significava abdicar da voracidade de leitor, para adotar uma postura mais atenta, mais lenta, que em algumas datas nos fez se contentar com um único capítulo do livro.
Para quem não sabe, a trama do livro se passa em 40 dias que ocorrem entre o dias 18 de setembro e 1 de novembro. Durante este período circulam bruxas, vampiros, demônios, bibliotecas e manuscritos antigos, debates sobre DNA mitocondrial, Charles Darwin e, sobretudo, o direito de cada ser se relacionar com quem quiser, sem segregação.
Eu topei a experiência e refreei minha vontade de devorar livros em poucos dias. Não me arrependo.
Já havia lido o livro em Abril, logo após ser lançado no Brasil e confesso que 3 dias foram demais para a sede de saber o final da história. Agora, lendo cada capítulo como se degusta um bom e raro vinho, percebi tudo o que perdi na leitura rápida.
Percebem-se os laços, os nós que unem uma intricada rede de histórias e fatos em seus mínimos detalhes. As interligações entre as frases, as palavras soltas que encontram sentido depois de três ou quatro capítulos.
Toda história, principalmente aquelas que foram escritas para se desenvolver em dois ou três volumes, possuem chaves, lembretes que nos ajudam a vislumbrar um pouco da história no próximo, que na maioria das vezes precisamos aguardar pacientemente durante um ano, ou mais.
Foi o que aconteceu com ADOW, como os leitores gentilmente chamam o livro. No meu caso particularmente descobri um segundo livro, mais sutil, não intencional, mas extremamente valioso cujo título poderia ser: Como escrever uma boa história e prender o seu leitor.
Valeu a pena se conter, apreciar as vírgulas – em dias de um único capítulo era isso que acontecia – as conjunções, os comentários que funcionam quase como entrelinhas.
Além disso, era interessante a sensação de ver uma história na exata data que acontecia. Era como se nós leitores adotássemos o papel de narrador onisciente, mesmo que o livro tenha sido escrito em primeira pessoa.
Não sei se existem muitos livros cujas datas são tão explicitas quanto este, não me lembro, o único que me vem a lembrança é Ulisses, de James Joyce. No entanto, neste caso em particular, ficaria impossível fazer a leitura atenta no período em que ocorre a história – um único dia.
A grande lição que ficou desta agradável experiência é que ler vagarosamente, curtindo cada emoção, cada frase de uma história nos dá muito mais que o prazer de conhecer um outro mundo. Nos dá a emoção de vivenciar este mundo paralelo, que existe na cabeça do escritor e depois em nossa mente imaginativa de leitor.
Mesmo que o seu livro predileto não tenha as datas tão específicas como este, vale a pena se disciplinar e ler capítulo a capítulo durante um período longo e degustá-lo. O que a principio parece ser apenas um bom vinho, poderá se revelará um Vintage, apenas por que você, leitor, se deu ao trabalho de ir mais além da trama.
Se você não leu este livro, recomendo a leitura. Se não é o seu tipo de história recomendo que faça a experiência com outros livros, ou quem sabe, com este mesmo e depois me escreva contando suas emoções.
Eu adorei.
Foto: Capa Inglesa do Livro (foto da autora em sua página no facebook)
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