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Anita puxou a saia da mãe um montão de vezes e ela nem se deu ao trabalho de olhar. Estava em meio às compras de presentes em uma loja atolada de gente. Os presentes eram mais importantes que a filha.
- Mamãe! – chamava a insistente criança.
A mãe olhou zangada, blasfemou algumas palavras muito rudes e continuou a disputar lembrancinhas enquanto a menina com os olhos encharcados de lágrimas observava a mãe e a porta da rua.
Anita soltou das mãos da mãe, que a esta altura da loucura consumista nem percebeu, e foi em direção a porta.
- Oi – disse em uma voz infantil e chorosa – Você é um anjo de verdade?
Um homem alto, forte, de olhos bem claros e cabelos castanhos pelo ombro, ostentava asas alvas e transparentes para a maioria das pessoas que passavam por ele. Só Anita conseguia vê-lo. Abaixou-se para conversar com a menina.
- Oi Anita, sou de verdade.
- Então você pode realizar um pedido?
- Vai depender muito do que você pedir – olhou carinhosamente para ela – o que deseja?
Ela olhou bem para ele, deu um suspiro dolorido e passou as costas das mãos nos olhos para enxugar as lágrimas.
- Eu quero que o papai e a mamãe gostem de mim.
O anjo olhou para ela com tristeza, observou a mãe que ainda não havia percebido o que acontecia com sua filha, ponderou muito.
- Anita, isso é impossível. Papai e mamãe não conseguem fazer isso com você.
- Então eu quero alguém que goste de mim – falou com as mãozinhas na cintura e o rosto triste.
- Você tem certeza? – o anjo olhou para ela com dor, mas sabia exatamente o porquê de estar naquele lugar. Ele tinha que levá-la.
- Tenho. – olhou para ele com doçura. – Não vou chorar nem ficar triste. Acho que papai e mamãe ainda não entenderam...
- O quê? – O anjo interrompeu a menina, espantado com a declaração.
- Ah! Anjinho. – sorriu. – Papai e mamãe não podem cuidar de mim... eles não sabem cuidar nem deles. – olhou para ele inquisitiva. – Você vai me levar?
- Vou. – O anjo abriu um sorriso iluminado. - Você sabe para onde?
- Sei. – riu. – Lá naquele lugar que eu estava antes de vir aqui. É divertido. – olhou carinhosamente para o anjo. – Eu sei que eu vou voltar depois, então... não vou ficar triste.
- Você quer ir agora ou quer esperar o Natal?
- Agora. Estou muito cansada.
- Então vamos. – Pegou nas mãos de Anita, colocou-a no colo e desapareceram rindo, não sem antes a menina perguntar qual era o nome do anjo.
Na loja, uma senhora idosa que observava algo que ninguém via gritou desesperada quando viu a menina cair no chão. A mãe nem olhou até que a mulher a sacudiu.
Anita estava morta.
Soraya Felix
09/12/2011
É uma historia que nos leva a refletir. Eu, as vezes, presencio no seio de minha familia, situações onde o lado material vem na frente do lado emocional. Creio que acontece isso em todo lugar. Agora, o amor filial tem uma força maior que os outros amores, se posso dizer assim. A necessidade de atenção, que você mostra no seu conto, também está presente no nosso cotidiano e esta talvez seja o maior desequilibrio do ser humano. Um beijo, um afeto, um gesto de carinho, no momento certo, é o antidoto para curar muitas feridas ao longo da vida. O tempo fisico passa, mas o momento de afeto fica eternizado.
ResponderExcluirParabéns, Soraya. Gostei muito da publicação
Luis Antonio
Obrigada por comentar. Infelizmente vemos este tipo de situação todos os dias nas ruas, nos telejornais. O mundo está valorizando demais o material e esquecendo de sentir.
ResponderExcluirSoraya