Acabo de assistir o filme Jogos Vorazes e estou
impressionada. Tão impressionada com a riqueza da história que pretendo ler o
livro. Então, é obvio que vou basear esta resenha no filme.
A história é sensacional, bem amarrada e com referências a
fatos históricos marcantes da humanidade. Se você fez sua lição de casa
direitinho durante as aulas de história, com certeza irá perceber isso.
Só para situar quem não viu o filme e não conhece o enredo
do livro. Em um lugar qualquer, em um tempo não determinado, um povo vive os
frutos de uma guerra com a punição de jovens. Há muito tempo, os Distritos
(como são chamadas as cidades ao redor da capital) fizeram um levante contra o
poder central, o que na época gerou muitas mortes e destruição. Ao final desta
guerra, um maluco decidiu que todos os anos seriam realizados os jogos vorazes
e que cada distrito mandaria um casal de jovens, sorteados, para lutar e
morrer, por que só um poderia ser campeão. O filme começa desta forma, jovens
se dirigindo ao sorteio anual. Só que desta vez a jovem sorteada tem uma irmã
corajosa, que se oferece no lugar dela. E ai começa uma trama que envolve
solidariedade, mortes, traição e outros fatos que não vou contar sob pena de
revelar muitos detalhes do enredo.
Feito esta pequena e necessária introdução vamos ao mais
importante. A primeira grande sensação é que você está olhando a uma referencia
histórica ao massacre dos judeus. Filas de jovens, pálidos, cercados por
guardas truculentos, cadastram-se para participar da decisão de quem irá “morrer”,
ou seja, quem vai aos jogos naquele ano. O clima nesta cena é de campo de
concentração.
Depois o filme reduz a densidade em prol do show. Os jovens
(tributos) que vão lutar são apresentados ao público na capital chegando em
bigas romanas em meio a uma plateia ensandecida. Aí podemos ver mais uma
referência histórica, os cristãos sendo jogados aos leões no Coliseu.
A trama muito bem criada nos faz refletir sobre os conceitos
arraigados que ainda permeiam nossas sociedades; sobre os privilégios ou “maldições”
que avassalam famílias; sobre o preconceito que ainda perdura sob uma capa de
protoliberalidade.
Uma pergunta precisa ser respondida: O que leva o homem a
oferecer sacrifício humano ou outro qualquer?
A cena da escolha do tributo nos leva a lembrar dos
sacrifícios oferecidos ao longo da civilização humana para aplacar a fúria de
deuses enlouquecidos - Maias, Incas, Astecas e até no antigo testamento. Há
sempre alguém fazendo barganha com deus para conseguir o que deseja.
Percebe-se também que a sociedade de Jogos Vorazes não
possui mobilidade social, e que as classes menos favorecidas acabam sendo a
diversão do povo da cidade em uma referência clara aos realitys shows, neste
caso com consequências mortíferas.
O filme é ótimo, as sequencias eletrizantes e bem montadas.
A atriz que faz o papel principal é perfeita. Na verdade uma forte referência
da deusa Diana, a caçadora.
Não precisa nem perguntar ser lerei o livro: Sim, com
certeza, Quero ver como a autora Suzanne Collins descreveu as cenas, como é o
ritmo que ela emprega nas palavras para dar a emoção que a história provoca.
Ao final, você fica com um sabor de quero mais. Quero saber
o que acontece com o homem da barba branca, uma espécie de governador (será uma
referência ao Deus que pune e castiga?) destituído do poder e todos aqueles
jovens com oportunidade iguais. Mas para isso terei que esperar a leitura dos
três livros.
Mais um detalhe. O livro é febre entre os adolescentes e dá
para ver claramente por quê.
Não é uma história melosa de amor, apesar da referência a
Shakespeare. Mas, quem já foi um adolescente sabe das batalhas mortíferas que
travamos conosco mesmo para nos transformarmos em alguém que possamos
reconhecer. Sabe da luta para ganhar um espaço, que mais tarde descobrimos que
nunca será totalmente nosso. Sabe que naqueles tempos a visão ingênua do mundo
foi assassinada pela verdade, pelo real estado de coisas. Se você foi
adolescente tem a noção da guerra interna que cada um passa neste período da
vida.
Se você esqueceu disso tudo, tente lembrar.
A lembrança é o primeiro passo para destruir o preconceito.
Eu recomendo.
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