“Ele escolheu o progresso da alma. O acúmulo de boas ações,
a felicidade, o agora. Nem o assombrava o passado, nem o atormentava o futuro.
Meditava.” Assim começa o conto O Homem Feliz, de Marcelo Maluf, um refresco em
meio aos questionamentos atormentados que permeiam o livro.
Diante do leitor desfilam todos os tipos (ou quase) de seres
humanos. Não os que estamos habituados a leitura, homens e mulheres semi
perfeitos, que não falam e não fazem nada que não seja politicamente correto ou
aceitável. No texto fluente e quase poético de Marcelo se desnudam mulheres
mortas na calçada, ladrões, terroristas penitentes, monges e alguém que se
lembra do único presente recebido de uma mulher chamada Abigail: Um pote de
azeitonas pretas.
Um dos mais ingênuos e poéticos de todos os personagens é o
homem que se gaba de cortar a mortadela muito fina, quase um tecido
transparente. Irineu Velásquez é antes de tudo um alter ego dos escritores, um
homem que usa a precisão de sua navalha para cortar palavras, suprimir ideias
até que o essencial possa resplandecer-se. Ou talvez, quem sabe, Irineu seja
apenas um preparador de textos detalhista em excesso que não consegue ser
escritor. Sei lá.
Esquece Tudo Agora é um passeio impossível de ser feito em
um único fôlego, sabe aquela ânsia que lemos um romance até o final, mesmo que
os olhos pareçam carregados de chumbo? O texto de Marcelo Maluf é para ser lido
aos poucos, em doses homeopáticas para que os efeitos de sua tessitura possam
ser apreciados lentamente, assim como se deve beber um bom vinho.
É muito interessante a sensação de estranheza ao se deparar
com os personagens, com os desfechos das histórias, não é algo que tenha
encontrado em outro escritor. Falar das mazelas humanas não é algo fácil de
fazer. Só para se ter uma ideia, já tentei ler o aclamado Acqua Troffana, da
escritora brasileira Patricia Mello e até hoje, as primeiras cinco páginas são
suficientes para que eu feche o livro e decida não continuar a leitura.
Já em Marcelo Maluf, as “mesmas” mazelas são tratadas de
forma absolutamente humana, poética e por que não dizer, piedosa ou até
surrealista como o conto do pote de azeitonas.
É um livro que vale a leitura de cada página, de cada
palavra. Vale cada reflexão, sofrimento e estranhamento diante desta passarela
imaginária na qual desfilam seus personagens.
O Homem Feliz? Com certeza sabe que a humanidade se compõe
exatamente disso: A diversidade.
Eu recomendo o livro e a felicidade.
Olá querida, fiquei mesmo muito emocionado com suas reflexões sobre o meu Esquece Tudo Agora. Gracias pela generosidade das palavras! Abraço enorme. Marcelo
ResponderExcluirGracias, querida, pela leitura e reflexões generosas a respeito do meu Esquece Tudo Agora. Leitura de entrelinhas, de revelação. Abraço enorme!
ResponderExcluirMarcelo