Em geral, Sebos são uma tradição para boa parte dos amantes
da literatura. Se não for pelo prazer de encontrar um volume já esgotado nas
livrarias, ou pela vantagem do preço reduzido, mergulhar em um sebo é antes de
tudo uma viagem no tempo.
Quem nunca se viu diante de um livro com 50, 70 anos de
idade, repleto de manchas e uma obscura dedicatória de alguém que nunca
saberemos quem é para outro alguém que o acolheu por anos ou quem sabe décadas
em sua estante. Teria gostado do conteúdo do livro? Teria dividido com seus
amigos em conversas de bares, cafés? Haveria relegado o volume a um lugar
obscuro da prateleira, esquecendo sua existência até que uma faxina o tenha
transportado para um sebo?
Quais foram os sentimentos desta pessoa ao ler aquelas
páginas? Teria chorado? Algumas daquelas manchas seria uma lágrima que escapou
de seus olhos? Ou, aquela ferrugem larga no meio do livro seria uma flor
recebida de um amante?
Se não fossem apenas essas perguntas, ainda caberia saber se
o livro viajou para outras terras; se acalentou o coração de algum moribundo,
se foi a alavanca para o inicio de uma revolução ou se simplesmente arrancou
risos da alma de alguém? Não saberemos. Apenas podemos vislumbrar passando
nossos dedos levemente por estas páginas, tentando absorver uma energia, átomos
de tempos que não vivemos. Este é o charme e o mistério dos sebos.
Eles surgiram no século XVI, na Europa, com a função
exclusiva de fornecer papiros e documentos para pesquisadores. Mas a profusão
dos livros foi modificando este perfil e oferecendo cada vez mais raridades que
não poderíamos desfrutar de outra forma.
A palavra sebo vem dos tempos em que se lia a luz de velas.
Nesta época as velas eram feitas não de cera como hoje, mas de elementos
gordurosos que quando aquecidos derretiam e sujavam tudo o que estivesse a
volta, inclusive as páginas dos livros. Então, os locais onde se vendiam estes
livros ensebados, eram chamados de Sebos. Alias é interessante saber que todos
nós que compramos livros usados podemos ser chamados de sebosos e quem
comercializa é o sebista.
Em São Paulo há uma infinidade de sebos, principalmente no
Centro da Cidade. Um paraíso que poderia ser mais bem explorado. A maioria
deles peca pelo excesso de poeira, ácaros e a falta de organização dos volumes,
além de funcionários que não conhecem literatura e parecem apáticos ao tesouro
que está a sua volta. Há dois muito bons, não só em organização, como em
atendimento. Lá sim podemos desfrutar de uma busca, um mergulho no passado. Um
deles é a Livraria Brandão, na rua Xavier de Toledo o outro fica no primeiro
andar de um prédio da rua Sete de Abril, que infelizmente não me lembro do nome.
Quem nunca visitou um Sebo deve fazê-lo imediatamente e
sentir o prazer da busca e do encontro. Foi em um deles que fui apresentada a
Pablo Neruda e muitos outros autores que ficam escondidos nas prateleiras das
livrarias.
E se você acreditar em magia, feche os olhos ao pegar em um
deles, sinta-se integrado ao livro (por favor não respire fundo se for
alérgico) e talvez consiga vislumbrar imagens, objetos que são partes do
passado. Se você não acredita em nada disso, então vá pelo único e inenarrável
prazer de descobrir algo que não está na lista dos mais vendidos, ou em
qualquer coluna de critica literária.
Referências
das Fotos e endereços de Sebos: Blog da Retro
A maioria envia livros pelo correio. Deixei de fora os sebos virtuais por que eles apesar de práticos, deixam de fora o prazer da presença física na hora da escolha do livro.
Amei sua postagem amiga! sempre que posso vou no centro e visito sebos! são nos sebos que encontramos livros importantes e bem baratos!
ResponderExcluirSoraya fiquei muito feliz por você publicar um livro, desejo sucesso na sua vida amiga! parabéns!!!