(spoilers)
Eu não recomendo a leitura deste livro para menores de
idade. A história e o conteúdo emocional são para adultos, e isso significa
alguém com bem mais de 21 anos.
A quarta capa do livro diz o seguinte: “Romântica,
libertadora e totalmente viciante, uma história que vai dominar você.” Não acredite, pois de romântica ela não tem
absolutamente nada, de libertadora muito menos.
A autora E L James, uma ex-executiva de TV e portanto
conhecedora do que o público realmente deseja ver, ou ler, criou uma história
que se transformou em um sucesso estrondoso em todo o mundo. Mas, o que ela tem
realmente para merecer todo esse sucesso? Confesso que estou até agora me
perguntando e não obtive uma resposta convincente.
- Será que é devido ao conteúdo altamente sexual, baseado no
estilo de vida que adota o sexo como uma forma de jogo “dominador e submissa”?
- Será que é a semelhança absurda com boa parte da obra da
Stephanie Meyer?
- Será que houve um esgotamento de temas sobrenaturais e o
público agora descambou para o “erótico”?
Não sei, não consegui chegar a uma conclusão. Então, vamos
analisar por partes.
O texto é muito bem escrito. A autora tem uma forma
eletrizante de escrever, o tipo de construção de trama que prende e faz com que
o leitor deseje ir até o fim. A linguagem é bem popular com utilização de
palavrões, sem excesso, mas que pode chocar alguns leitores desavisados.
A trama é outro caso. As coisas acontecem em um ritmo lento,
muitas vezes descritivo demais. A história só amadurece quando a personagem
Anastasia vai para Georgia e Christian Grey vai atrás dela. Ai sim, você
consegue mergulhar na cena, viajar com eles dentro de um planador – de longe o
melhor capítulo do livro.
A autora usou muitos elementos da trama de Crepúsculo. Anastasia é uma versão piorada de Bella,
Christian é a dominação de Edward levada ao extremo. Além disso, Christian tem
algumas das características do vampiro: - Excesso de presentes e preocupação
com segurança; excessivo controle com a alimentação de Ana; carros suntuosos...
Ainda bem que Grey não é vampiro, rs, ele faria um estrago na população
feminina do planeta.
Ai avalia-se a história propriamente dita. É muito simples:
Uma jovem, Anastasia Steele, conhece um homem enigmático, bonitão e rico,
Christian Grey, e ambos demonstram interesse em algo mais. Só que a não tão
ingênua, mas inexperiente Ana, não imaginava que Grey era adepto de um tipo de
relação que ela desconhecia a existência. Ambos se apaixonam – isso fica claro
no livro – mas a relação entre os dois é muito difícil. Grey é um homem
problemático, com traumas da infância, e só sabe se relacionar sentindo-se
“possuir” o objeto de seu desejo, e para isso não mede esforços. Ana, por seu
lado, resolve tentar o estilo de vida de Grey e fica totalmente dividida. Por
uma lado, sente um imenso amor e desejo por ele, por outro lado sente-se
humilhada pela forma como eles se relacionam. E é esse dilema e as cenas
picantes que permeiam Cinquenta Tons de Cinza.
E agora nós entramos em um “lugar” que excede os limites da
literatura, que excede a análise de uma ficção como boa ou ruim.
- Será que, em um mundo como o de hoje, no qual a mulher
ainda luta para atingir seu verdadeiro espaço; luta para ser tratada com
respeito; um mundo em que alguns países ainda permitem que mulheres sejam
espancadas até a morte; um mundo no qual a mulher, mesmo em países civilizados,
ainda sofre violência de todos os sentidos; será que Cinquenta Tons de Cinza
poderá acrescentar algo bom para contribuir em uma melhora deste panorama?
Veja bem, longe de eu acreditar que o livro tem a obrigação
de trazer uma mensagem, de solucionar os problemas do mundo, de ser apenas
“cabeça” como alguns pregam. Mas, quando você lê uma trama como Cinquenta Tons
de Cinza, na qual uma mulher se submete a uma forma “pervertida” de sexo, no
qual se deixa apanhar com chicote, ser espancada com correia e mesmo assim se
mantém apaixonada por seu algoz, e algo no mínimo para ser discutido em um divã
e desalentador, se levarmos em consideração o sucesso internacional do livro.
Não é um livro que recomendo a leitura, no entanto, se você
adotar o mesmo critério que adoto para minhas, nunca confio na opinião alheia,
mas se optar pela leitura se prepare para ficar irritado, bravo, nervoso,
indignado e muitas vezes querer colocar fogo no livro. No entanto, há cenas
impagáveis, e é por elas que vale a pena tentar uma leitura.
Então, é você quem decide.
Ah! O livro é uma trilogia e será lançado sequencialmente
aqui no Brasil, ainda este ano.
Oi Soraya! Faz algum tempo que não visito seu blog e confesso que adorei o tom da sua publicação. Creio que existe milhares de "tons de cinza" por ai, mas poucos admitem. Parabéns! Gostei muito e talvez nunca leia este livro, mas que voce despertou a curiosidade em na leitura dele, isso despertou.
ResponderExcluirAbs,
Luis Antonio