A jornalista Roberta Sztanderski
reserva um lugar muito especial em sua vida. Livros, para ela, não são objetos
de consumo imediato, que precisam ser devorados como fast foods. Na visão de Roberta,
livros são como iguarias que você degusta aos poucos, que vai sentindo o prazer
da palavra a cada frase, o encanto do enredo a cada capítulo. Não
compulsividade, mas cumplicidade. Isso é uma raridade em tempos que ler
compulsivamente é quase uma obrigação.
Roberta é formada em jornalismo
pela FIAM e pós-graduada em Organização do Terceiro Setor. Trabalha como
Assessora de Imprensa e lida com a gastronomia com a mesma destreza que
trabalha as palavras em seu oficio diário.
Entrevistá-la foi um prazer, pois
Roberta através de suas respostas nos apresenta um delicioso mundo sem rótulos
e sem preconceitos, o que torna a trajetória literária muito mais gostosa.
SF. Como é sua relação com a
literatura?
RS. Tenho a literatura como uma
companheira. Como não tenho carro e trabalho longe de casa, o livro deixa a viagem mais agradável. Quando
se está envolvido na história nem o aperto do metrô incomoda. Ele também é meu
companheiro das horas de lazer. Praia com livro é uma combinação perfeita! Mas
também tenho com a literatura uma relação de oráculo. Em tempos de muitas
perguntas e questionamentos, procuro nas linhas e entrelinhas as minhas
respostas.
SF. Qual é o gênero literário de
sua preferência?
RS. Não tenho um gênero literário
de preferência. Escolho o livro que vou ler de acordo com o meu momento ou com
as experiências que gostaria de ter. “A Erva do Diabo”, por exemplo, de Carlos
Castañeda, foi um livro que escolhi porque estava em um momento da minha vida
que precisava sentir aquela celebre frase do personagem Don Juan, que diz
assim: “Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum –
para si mesmo ou para os outros – abandoná-lo quando assim ordena o seu coração
(...) Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas
julgar necessárias... Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta:
possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso
contrário, esse caminho não possui importância alguma.”
SF. Quem são seus autores
prediletos? Por quê?
RS. Gosto de tantos autores, que
não sei se conseguiria enumerar. Mas posso citar com certeza Clarice Lispector
e Emily Dickinson, minha poetisa predileta. Mas, não os leio o tempo todo.
Gosto de revisitá-los de tempos em tempos. Adoro experimentar. Recentemente li
dois livros de Carla Cristina Garcia, que se não me engano ela é cientista
social. Gostei muito de Hambre Del Alma: Escritoras e o Banquete de Palavras e
Ovelhas na Névoa: um estudo sobre as mulheres e a loucura. Mas o que mais me
tocou foi o Hambre Del Alma, porque fala da relação entre a escrita e a
alimentação. Este livro, que traz um estudo sobre escritoras como Virgínia
Wolf, Laura Esquivel, que escreveu “Como Água para Chocolate” e Nélida Piñon,
mudou minha concepção sobre o cozinhar. Antes de lê-lo cozinhar para mim era um
ato menor. Depois compreendi toda a sua grandeza e sutilezas. Tanto que hoje,
estou empenhada em aprender e faço agora um curso de culinária atrás do outro.
SF. O que te marca mais, a
produção nacional de literatura ou internacional? Por quê?
RS. Gosto de uma boa leitura e
por isso, tanto faz a nacionalidade dos autores. Quero que um livro me
emocione, me abra portas e traga perguntas e respostas. E às vezes isso
acontece com um autor brasileiro e outras com um autor de língua estrangeira. O
que procuro sempre fazer em minhas viagens é comprar um ou dois livros de
autores daquela localidade. Assim, fico conhecendo um pouco mais sobre a
cultura do país ou da região e com certeza enriqueço o meu vocabulário literário.
SF. Houve algum livro em sua
adolescência que marcou sua vida? Qual?
RS. Sempre gostei muito de
Clarice Lispector. Adorava os seus
textos. Não sei se na época compreendia a profundidade de suas histórias, mas
de alguma maneira eu me identificava com a sua escrita. É até hoje é uma de
minhas escritoras prediletas. Quando era adolescente, também gostava muito dos
livros do Ganymédes José. Um autor brasileiro, que escreveu muito para crianças
e adolescentes. Era uma delícia. Histórias bem humoradas que enfocavam
situações que vivíamos diariamente, como por exemplo, a da vizinha fofoqueira
que passa o dia na janela. Quem nunca teve uma vizinha dessas? Os livros dele
que eu mais gostei foram “Bicicleta para Dois” ou “ A Absurda Balada de Jane
Topa Tudo”.
SF. Existe algum gênero literário
que você não leria? Qual? Por quê?
RS. Não gosto de histórias de
terror. Não é preconceito: é medo mesmo! Não dormiria a noite.
SF. O que você espera da
literatura em pleno século XXI? E do jornalismo?
RS. O que eu espero é que a
literatura assim como o jornalismo continue a abrir portas para o conhecimento,
o questionamento e a incitar a mente.
SF. Qual é o conselho que você dá
a alguém que não tem o hábito da leitura?
RS. Eu aconselharia a começar devagar.
Não precisa começar por aquele livro de 600 páginas só porque todo mundo está
lendo ou porque está na moda. Comece escolhendo um tema que te agrade. Leia com
calma, absorva e viva a história. Ria, chore e fique bravo com os personagens,
e às vezes até com o autor. Não resista. Deixe-se levar pela história. E quando
você menos esperar, já virou um leitor compulsivo.
Soraya,
ResponderExcluirPassei pra dizer que gostei muito de ter participado! Obrigada.
bjs