Foi assim que Fernando Adas
definiu seu perfil de leitor, o livro como um amigo que você chama para
conversar ao final de um dia inteiro de trabalho. Não poderia ser diferente.
Fernando Adas é um ser humano
especial, refinado, cosmopolita e antenado com o mundo que o cerca. Formado em
Marketing e Propaganda pela ESPM, atua Consultor de CRM da Fine Marketing. Já gerenciou projetos para empresas de porte, mantém um blog bem
humorado e criativo sobre marketing e apresenta um programa sobre o mesmo tema
na internet. Em resumo: Fernando faz de suas 24 horas no mínimo 48.
Foi um prazer entrevistá-lo já
que Fernando além de ser um amigo de longa data, é um homem com diversos significados,
com um campo repertorial enorme e impossível de ser contido em uma única
entrevista. Vocês vão se apaixonar.
SF. Como é sua relação com a
literatura?
FA. Em síntese, é uma relação
tranquila porém intensa, pautada por
encontros diários de curta duração mas com boas trocas...
SF. Qual é o gênero literário de
sua preferência? Quem você considera o expoente deste gênero?
FA. Por ser publicitário,
valorizo textos curtos com elevado teor de informação. A capacidade de alguns
autores dizerem muito em poucas linhas, me seduz.
Neste sentido, os contos e as
crônicas são os meus gêneros preferidos e admiro a obra de Rubem Fonseca, Luis
Fernando Veríssimo, Lygia Fagundes Telles. Martha Medeiros...
SF. Existe algum gênero literário
que você nunca leria? Por quê?
FA. Não sei se rejeição viria de
um gênero literário, mas sim de alguns autores. Devo confessar uma certa “má
vontade” com os blockbusters e campeões de vendas...
Acho que a literatura deve ser
degustada aos poucos pois seu sabor muda ao longo da relação que temos com o
livro...
Não acredito na literatura que
agrade a todos e dirija os leitores a um único caminho. Creio que o Jornalismo
e a Publicidade cumprem esse papel.
SF. Você se lembra de qual foi o
primeiro livro que leu na vida?
FA. O Homem Nu do Fernando Sabino
e uma coletânea de contos conhecida como “Para gostar de ler”.
Agatha Christie também passou lá
em casa, na minha adolescência...
SF. Houve algum livro em sua
adolescência que marcou sua vida? Qual?
FA. Acho que algumas coisas de
Jorge Amado mexiam com meus hormônios e esta era a minha principal referência
como adolescente...
SF. Qual foi o papel da
literatura em sua formação como ser humano e profissional?
FA. A literatura me ensinou a
escrever com estilo. Na escola, aprendemos a redigir um texto, mas é a leitura
que nos aprimora o manuseio das palavras, numa espécie de artesanato do texto.
SF. Quem são seus autores
prediletos? Por quê?
FA. Rubem Fonseca, Clarice
Lispector, Lygia Fagundes Telles, Luis Fernando Veríssimo.
Também me divirto muito com alguns
publicitários ou jornalistas que encaram o desafio literários, tais como Martha
Medeiros, Nelson Motta e Danuza Leão.
SF. O que te marca mais: A
produção nacional ou internacional de literatura? Por quê?
FA. Gosto dos nacionais por
refletirem a nossa realidade local e me darem um pouco mais de “conforto”
cognitivo.
Raramente leio estrangeiros, a
não ser nos textos mais técnicos na minha área de atuação.
SF. Você leu algum bestseller
recentemente? Qual? Qual é sua opinião sobre ele?
FA. Não posso dizer que leio ou
que li um deles. Mas best sellers ficam tão em evidência que somos tentados a
“espiá-los” em trechos da internet ou resenhas.
Não tenho opinião particular
sobre algum deles mas não me sinto atraído por literatura dirigida, aquela com
pouca margem para interpretações variadas.
SF. Como você vê o panorama
literário no Brasil? O que poderia ser melhorado?
FA. Sou pessimista em relação a
este panorama que maximiza a literatura mais leve e lúdica.
Não significa que a literatura
não deva ser divertida e prazerosa, mas sinto uma má vontade de leitores e, por
consequência, de editores em investir em projetos mais autorais.
Vejo a literatura se aproximando
do jornalismo, quando não da publicidade, o que não é bom pois traz ruídos nos
papéis que cada ofício deve exercer.
Enquanto a Jornalismo e a
Publicidade informam, a Literatura forma, desde que as mentes estejam abertas a
isso, o que não vejo nesses tempos de internet e Google em que todos têm
pressa.
SF. Você é um profissional de
marketing, que argumentos usaria para convencer uma pessoa a adquirir o hábito
da leitura?
FA. Acho que temos o hábito da
leitura. O que nos falta é o hábito à boa leitura que, muitas vezes, também não
se mostra tão acessível.
Creio que o trabalho deveria ser
focado junto a editoras e livrarias, capazes de seduzir e motivar leitores a
bons títulos.
O preço do livro também me parece
pouco sedutor e as bibliotecas são pouco divulgadas.
Um plano de marketing capaz de
motivar os leitores, passa necessariamente pela melhoria dos PDVs e da
Propaganda de impacto ao consumidor.
SF. Caio Fernando Abreu tem um
trecho que diz: “Você lê e sofre. Você lê e ri. Você lê e engasga. Você lê e
tem arrepios. Você lê, e a sua vida vai se misturando no que está sendo lido.”
Sua experiência literária te leva a
estas emoções? Como você vê este pensamento?
FA. Sem dúvida que sim. A
Literatura me ensinou a pensar melhor, falar melhor e a escrever melhor. Minha
visão de Mundo e das Pessoas se aprimorou através das análises das Capitus e
dos Bentinhos que me acompanham há quase quarenta anos...
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