Título:
A Luz entre Oceanos
Autor:
L.M. Stedman
Tradutor:
Geni Hirata
Editora:
Rocco
Ano
de Lançamento: 2013
Número
de páginas: 368
Há
livros que chegam até nós de forma misteriosa, e como magia conseguem se
misturar com nossa alma para sempre. A Luz entre Oceanos, da escritora e
advogada australiana L.M.Stedman foi um deles.
Situado
na década de 1920, ao final da Primeira
Guerra Mundial quando a maioria das famílias perderam entes queridos,
L.M.Stedman nos apresenta Tom Sherbourne, um soldado valente, condecorado, que
após os horrores da Guerra aceita emprego como faroleiro. Quando desembarca em
Point Partageuse, a cidade que o enviará para Janus Rock, um dos mais longínquos
faróis da costa australiana, Tom conhece a doce e ousada Isabel. Casam-se e ela
se muda para Janus.
Lá,
apesar da vida pacata, Isabel começa a sofrer devido aos abortos sucessivos. No
terceiro ela sucumbe, e muitos vezes o leitor tem a impressão que ela irá se
matar. É neste ponto que um barco encalha na ilha trazendo um homem morto e um
bebe chorando. Isabel vê o desastre como um presente de Deus e convence seu
marido a não notificar as autoridades e tomar a criança como filha legitima. É
desta forma que Lucy entra na vida dos dois e transforma suas rotinas.
L.M.Stedman |
No
entanto, a vida não será tão boazinha com eles, e apresentará alguns anos
depois Hannah, uma mulher desesperada, sofrida, que perdeu seu marido e sua
filha Grace no mar: - Lucy. É neste ponto que a história toma propriamente
forma, e a questão ética começa a ser questionada pelo bom e justo Tom. Mas,
como a vida não pode ser controlada como um farol, uma decisão de Tom
desencadeará uma avalanche de surpresas, dor, ódios escondidos e um final
avassalador.
Em
primeiro lugar podemos pensar nas três grandes metáforas do livro: o nome da
obra, O farol, a ilha. Elas parecem interligadas, mas são elementos a serem
tomados isoladamente.
A
Luz entre Oceanos
parece um nome comum e normal para um livro que fala sobre uma ilha com um
farol, mas não é. Há a necessidade de se perguntar quais são realmente estes
oceanos profundos, revoltos, cheios de mistérios e quem é esta luz. A meu ver
fica impossível não associar os oceanos as vidas de Tom e Isabel por um lado, e
Hannah pelo outro. E a luz seria, obviamente, Lucy, cujo significado do nome é
Luz.
A
ilha Janus Rock,
cujo nome representa o deus romano dos começos e transições. Descrito como
possuindo duas faces, uma olha para o futuro e outra para o passado. Ela também é uma metáfora do constante jogo que a
autora faz entre estes tempos na vida de seus personagens. É preciso lembrar
que todos eles perderam alguém na Guerra e, portanto todos eles têm dores e
sentimentos enterrados que modificam suas relações com o presente e o futuro.
Há
também a metáfora Farol, que nos remete à pequena e encantadora Lucy. Um
presente vindo do mar que desperta em Isabel os mais profundos sentimentos
maternos, tão avassaladores que ela colocará ética, razão, caridade de lado
para que a menina fique para sempre com ela. Lucy também será o farol de sua
mãe verdadeira, Hannah, uma mulher sem vida e que parece não ter opinião e nem
ação própria, e que precisará que sua filha retorne para que ela faça este
processo interior e se reconheça como uma nova mulher.
O
livro é bem escrito. A autora o construiu em capítulos divididos em pequenas
partes independentes, como flashes de acontecimentos, como partes que poderão
facilmente ser roteirizadas para o cinema. Mas não se engane se estiver
pensando em Nicolas Sparks como referência, por que não é. L.M.Stedman é mais
profunda, elaborada, a construção do livro em pequenas partes se dá pela
necessidade de mostrar a dinamicidade da vida, a transitoriedade de conceitos
como felicidade, tristeza, coerência, incoerência etc, e não apenas pela vontade
de escrever um livro roteirizado.
Os
leitores são constantemente convidados a fazer reflexão sobre as dualidades
como luz e trevas, vida e morte, certo ou errado, amor e ira etc. Fica
impossível não tomar partido ao longo da história, e depois mudar constantemente
de opinião já que Stedman foi hábil em nos mostrar que um mesmo problema terá
uma diversidade imensa de pontos de vista, e todos eles estarão corretos. Não
há monopólio da verdade, todos detêm um pouco dela.
Capa em Inglês |
Ao
longo da leitura surgirão perguntas em sua mente como: Quem é realmente a mãe
de Lucy/Grace? Quem tem direito a ela? Lucy/Grace tem o direito de escolher com
quem quer ficar? É correto Tom se deixar condenar por decisões que não são
apenas suas? O amor de uma mãe pode tudo? Até onde vai a ética quando a
felicidade de uma criança está em jogo?
-
Não espere encontrar respostas no livro. Elas não virão. Você apenas terá
subsídios para formar a sua verdade, que não será absoluta.
O
livro é tenso, e esta tensão vai crescendo ao longo dos capítulos até que você
não consiga mais largar e termine a história em prantos. É impossível não se
emocionar. Principalmente por que Isabel é o tipo de personagem que nos tira do
sério, nos irrita, e depois nos comove até que consigamos compreender parte de
seu interior.
É
um livro para ser lido e relido diversas vezes. Ele se difere consideravelmente
do que vem sendo lançado no mercado editorial brasileiro e merece um lugar de
destaque.
Livros
relacionados:
Desta
vez não vou sugerir nenhum livro relacionado, mas uma novela.
A
TV Globo está apresentando a novela Amor a Vida, que trata de um tema
relativamente parecido. A menina Paulinha encontrada em uma caçamba substitui
um natimorto, e agora anos depois o pai encontra-se com a mãe legítima da criança
que foi roubado pelo seu irmão. É interessante ver se a trama seguirá a mesma
profundidade do livro.
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