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Labirinto

Título: Labirinto
Autor: Kate Mosse
Tradutor: Fernanda Abreu
Editora: Suma de Letras Brasil e Ponto de Leitura
Ano de Lançamento: 2006 e 2009
Número de páginas: 580  e 800
Avaliação do Prosa Mágica: 8


Confesso que não conhecia este livro. Nunca tinha visto nem a capa nas livrarias que frequento, e olha que sou assídua nesses templos de “saber”. A sugestão surgiu no Clube de Leitura pela querida Dora, e confesso que a incursão pelo livro começou por obstáculos, dentre eles o fato do livro não estar disponível nas livrarias e você precisa ficar aguardando uns dez dias para recebê-lo. Mas valeu a pena cada minuto de espera.
Labirinto de Kate Mosse foi lançado no Brasil em duas versões, todas do mesmo grupo editorial. Na versão da Suma de Letras Brasil, de 2006, com acabamento melhor, papel mais encorpado, você irá desembolsar em média R$ 67,90. Já na versão de bolso, o valor é de R$ 27,90. As duas são exatamente iguais. Para quem mantém uma biblioteca particular, com certeza vale comprar a edição da Suma.
A estória se passa basicamente em dois tempos: Julho de 1209 e Julho de 2005. Durante uma escavação arqueológica, Alice Tanner, uma mulher impetuosa, seguindo seus instintos descobre dois esqueletos em uma montanha ao redor de Carcassonne, na França. Além dos esqueletos ela vê um anel e um labirinto esculpido na parede. Lá, em meio a malignidade que emana da caverna, Alice percebe que consegue entender as misteriosas palavras gravadas, e com isso desencadeia uma série de acontecimentos terríveis que transformarão sua vida de uma forma inimaginável.
Já em 1209, na mesma cidade de Carcassonne, Alaïs, uma garota de 17 anos, impetuosa, recebe de seu pai uma missão difícil. Guardar um livro que possui o segredo do Graal. Este fato desencadeia uma série de acontecimentos terríveis na vida dela, que possui como pano de fundo a caça aos Cátaros promovida pela terrível e sangrenta Hoste.

Carcassonne: cenário principal da trama
O livro é uma aula de história mesclada à fantasia. Para quem não se lembra, o papa Inocêncio III, em 1208, convocou uma cruzada contra o que ele considerou “uma seita herege” praticada pelos cidadãos do Languedoc, hoje conhecidos como Cátaros. Eles acreditavam que a vida física aqui na Terra era criação do Diabo, e que cabia a cada cidadão vivê-la da melhor maneira possível, de forma justa e bondosa para que após a morte pudesse finalmente viver ao lado de Deus, senão a pessoa teria que renascer na Terra e viver novamente até aprender a ser Bom. Como eles não veneravam imagens, não pediam dinheiro e viviam de forma simples, os Católicos consideravam isso uma heresia, por que desestruturava o status quo da Igreja, que era antes de tudo uma entidade política e financeira.
Os católicos promoveram uma verdadeira carnificina, queimando, matando não só homens e guerreiros, como velhos, crianças, mulheres sem distinção de idade. Há muitos livros que falam sobre o assunto, assim como há muitas lendas sobre este povo.
Além desta parte histórica que forma o pano de fundo da trama, a autora se utilizou da língua falada na região neste período conhecida como Occitanno. O leitor irá encontrar palavras nesta língua ao longo do livro, assim como encontrará trechos inteiros escritos em francês, que são imediatamente traduzidos na própria frase. Não saberia dizer se isso foi um recurso da autora ou da tradutora, mas é muito bem vindo, já que hoje em dia a população que fala o francês aqui no Brasil é pequena.

Autora
A base da trama é o Graal, que sempre foi motivo de lendas e mistérios. Para alguns, o Graal é o sangue de Cristo, uma relíquia religiosa; para outros, este mesmo sangue pode nos dar a vida eterna. Há também autores que associaram o Graal a um segredo. Para quem leu o Código Da Vinci de Dan Brown, se lembra da associação do Graal a Maria Madalena, que foi esposa de Jesus e haveria deixado uma linhagem que chegava até os dias de hoje.
Não se sabe se o Graal é uma lenda, ou algum conhecimento que ficou perdido no passado, mas Kate Mosse se utiliza deste tema para nos contar uma história que faz um dialogo entre passado e presente, algo muito difícil de fazer em literatura.

Os cenários são muito bem descritos, muitas vezes chegando ao exagero, mas percebe-se a importância do exagero quando se lê um livro que pula de um tempo para o outro em pouquíssimos capítulos, exatamente como se o leitor entrasse em um labirinto e encontrasse uma barreira e precisasse retornar até encontrar outro caminho, só que a volta se daria em um tempo passado. A principio este vai e vem é estranho e desconfortável, mas ao longo da trama se torna absolutamente desejável.

O livro é perfeito. A autora foi extremamente habilidosa em nos conduzir neste labirinto de acontecimentos. Tem momentos em que é absolutamente impossível abandonar a trama, tal o envolvimento que ela nos proporciona.
Como tudo na vida, você termina Labirinto com muitas perguntas. Alice é a reencarnação de Alaïs? Will é a reencarnação de Guilhen? Marie-Cécile já foi Oriane? Por que a autora não deixou totalmente claro este tema? Será que é por que os Cátaros acreditavam que reencarnar seria algo para pessoa que não cumpriu sua jornada no bem e sendo assim Alaïs nunca reencarnaria? Talvez encontremos a resposta na continuação deste livro, o Sepulcro.
Vale falar aqui da tradução.  Fernanda Abreu (Fernanda Rangel de Paiva Abreu) nasceu em Londres e morou por seis anos na França. É graduada em História, mestre em Sociologia e Antropologia, e este currículo por si só já seria suficiente para se falar que Labirinto foi bem traduzido. O livro, com certeza, não dá para ser traduzido por alguém que só cursou uma Universidade de Tradução. Ele precisa que a pessoa tenha uma vivencia plena dos países na qual a história se passa, e não só isso, conhecimento profundo de história. Talvez por isso, por toda esta bagagem cultural, você leia o livro sem aquela sensação ruim de “texto truncado”.
Labirinto me deixou curiosa para aprender um pouco mais sobre esta parte da história, que pouco ou nada sabemos como falantes da língua portuguesa. Talvez, alguns leitores encontrem dificuldade em ler, exatamente por que precisa de um pouco de conhecimento sobre a história dos Cátaros, mas nada que uma consulta superficial na internet não resolva.
Indiquei livros relacionados abaixo, mas a literatura em português sobre o assunto é escassa. Você encontra no final do livro, uma  indicação mais detalhada de literatura, só que em língua inglesa e francesa.
Em suma, o livro tem muita estória, e você com certeza não vai se contentar apenas em ler a ficção. Alaïs e Alice são fascinantes.

 
Imagem da Minissérie
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La Tragedia de Los Cataros, Martin Walker (Edicomunicacion)
O Tesouro dos Cátaros, Sergio Pereira Couto (Editora Literata)

História das Cruzadas, S.Runcimam (Imago)


Outras informações:

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