Autor: Letícia Wierzchowski
Editora: INTRINSECA
Literatura Brasileira
Ano de Lançamento: 2013
Número de páginas: 240
Avaliação Prosa Mágica: 8
Decidi ler Sal, da escritora brasileira Letícia Wierzchowski por dois
motivos distintos e interligados. Primeiro por ser obra de uma autora
brasileira e segundo, por ser o primeiro livro nacional de ficção lançado pela
Intrínseca.
Na verdade confesso que não havia prestado atenção na capa que dizia
“autora de A Casa das Sete Mulheres”, uma minissérie apresentada pela Globo a
qual me apaixonei.
Sal foi para mim uma descoberta, um presente entre todas as leituras
que fiz ao longo deste ano de 2013.
Não é fácil fazer uma sinopse dele, não mesmo, então eu deixo esta tarefa para outros, mas
que já está muito bem feita na orelha do livro.
Sal é feito de lembranças, poesia, dor, tragédias, tristezas,
surpresas. O livro é como a constante luz de um farol na ilha longínqua, que a
cada par de segundos promove a luz e depois as sombras. É isso mesmo, Sal é
feito de luz e sombra, em um pulsar constante.
Letícia Wierzchowski nos presenteia com uma trama repleta de
narradores, que nos contam suas histórias e que muitas vezes nos deixam
mensagens, como se fossem colocadas em uma garrafa em alto mar para pedir
socorro.
Cecília, Ivan, Flora, Orfeu, Lucas, Juliana, Eva, Tibérius. Cada um
único e universal.
Eu amei Flora, a menina que mergulhou nos livros e começou a escrever
ficção com tal empenho, que suas histórias saíram do papel e aconteceram na vida
real. Pena que tudo é muito trágico.
Foi Flora quem trouxe Julius, o intelectual de Cambridge, que foi
indiretamente presenteado para o irmão Orfeu, que exatamente como a lenda, se
apaixona tão perdidamente que se torna capaz de descer ao seu próprio inferno
para resgatar Julius. Só que desta vez Orfeu não pactua com Hades, o desafia.
Quem fez o papel do herói trágico é Tiberius, que sai pelo mundo, de
país em país, em busca do irmão. Não haveria melhor imagem para a lenda de
Orfeu!
No entanto, Letícia nos desvenda pouco a pouco uma “Penélope” – Cecília
– que tece sem parar a história da família enquanto aguarda o retorno de
Tiberius, e talvez ele traga seu filho Orfeu.
Nesta fase Letícia aprofunda tanto os sentimentos que a narrativa
comove, como se esses personagens fizessem parte de nossas famílias.
A autora fala da saudade e da vida em uma narrativa poética, como se
referenciasse Julio Cortazar em O Jogo da Amarelinha.
Confesso que não tentei, mas acredito ser possível ler Sal fazendo um
zigue-zague de capítulos, que pode não terminar no último.
Outro fato interessante é a proximidade de La Duiva com Oedivetnom. Se você se der ao trabalho de
inverter o nome da cidade, verá que se trata de Montevideo (Montevidéu). Então
eu fiquei me perguntando o porque de ocultar o nome da cidade?
Foto: Isto é Gente |
Talvez ela tenha um motivo. Talvez o mesmo motivo que a levou escrever
uma narrativa que se oculta e revela de uma forma surpreendente.
Sal é diferente. Não é um livro para
qualquer leitor, não mesmo. Para ler Sal é preciso gostar de Cortazar, Neruda,
um pouco de narrativa latino-americana das décadas de setenta e oitenta. O
leitor precisa gostar de poesia, mas também ser corajoso suficiente para
mergulhar fundo nas idiossincrasias que norteiam o ser humano de carne e osso.
É isso! Sal é o que a maresia nos traz e nos corroí, ano a ano, mas
também é a pequena lágrima que escorre de nossos olhos quando nos emocionamos.
É difícil falar de Sal e é fácil senti-lo. Somente uma imersão
pacienciosa desnudará as belezas deste livro. Portanto, leia sem pressa.
Pode ter certeza, Letícia Wierzchowski já entrou para minha lista de
favoritos.
Outras obras da autora
Romances
O Anjo e o Resto de Nós, 1998
Prata do Tempo, 1999
eu@teamo.com.br (com Marcelo Pires), 1999
A Casa das Sete Mulheres, 2002
O Pintor que Escrevia, 2003
Cristal Polonês, 2003
Um Farol no Pampa, 2004
Uma Ponte para Terebin, 2005
De um Grande Amor e uma Perdição Maior Ainda, 2007
Os Aparados, 2009
Livros infantis
O Dragão de Wawel e outras lendas polonesas, 2005
Todas as Coisas querem ser Outras Coisas, 2006
O Menino Paciente, 2007
Era uma Vez um Gato Xadrez, 2008
Olá, Soraya.
ResponderExcluirSua resenha foi a mais bonita que li sobre esse livro. Infelizmente não tive uma relação tão bom com "Sal". A leitura foi extremamente cansativa para mim e somente na segunda parte é que as coisas engataram! rs...
Mesmo assim, agora que li sua resenha, muitas coisas se encaixaram para mim!
beijos
Camis
Estou lendo Sal e a sua resenha faz jus à história. Cada capítulo é um mergulho poético que atravessa a leitura com toda uma carga emocional e simbólica. Estou adorando.
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