Autor: Carlos Ruiz Zafón
Tradutor: Marcia Ribas
Editora: Suma de Letras
Ano de Lançamento: 2001
Ano de Lançamento Brasil: 2007
Número de páginas: 400
Avaliação do Prosa Mágica: 10
“-(...) cada livro,
cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que
leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos,
cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito cresce e a
pessoa se fortalece.” Pág 6.
Começo
esta resenha com um texto, e por que não dizer, com a alma de quem soube
transformar em palavras o grande e imenso amor que dedicamos aos livros.
Confesso
que é impossível a isenção em avaliar a Sombra do Vento, não só pela
genialidade do autor, mas também por que sou escritora e o livro fala um pouco
de nós escritores, seres ingênuos com mania de Deus a criar e espalhar seus
personagens pelo mundo, sem pedir licença para ninguém, com o coração apertado
e a alma transbordando uma alegria que só as mães conhecem.
Carlos
Ruiz Zafón consegue o que parecia impossível nestes tempos comerciais, tempo de
livros temáticos a nos afogar em um mar que muitas vezes beira a mesmice. Zafón aproxima a genialidade com o best-seller, dois gêneros que os “intelectuais” insistem em dizer que não podem
coexistir.
Em
A Sombra do Vento, primeiro livro da tetralogia livre “Cemitério dos Livros
Esquecidos”, Zafón nos apresenta a metáfora livro/vida. Você percorre as
páginas sem saber, muitas vezes, se o que lê é sobre o livro que está em suas
mãos, se é sobre o livro que Daniel tanto adora, ou se tudo não passa da fértil
imaginação do autor-personagem Julian Carax.
Se
você não conhece a história, saiba que não é fácil compartilhá-la em uma única
resenha. Trata-se de um garoto, Daniel, cujo pai o leva a uma brande
biblioteca, um lugar sagrado e escondido, onde vivem milhares de livros ávidos
para que sejam lembrados. A Biblioteca é um depósito de livros abandonados. O
menino escolhe um livro para tomar conta – A Sombra do Vento. – um exemplar de
um autor desconhecido cujo talento é imediatamente reconhecido por Daniel.
A
obsessão do menino pelo autor é tão grande que ele parte em busca de Julian
Carax e acaba mergulhando em um mundo perigoso, nas qual um louco destrói todas
as obras do Julian.
Daniel
descobre que o exemplar que possui é único. E neste instante que ele percebe
que seu destino e de todas as pessoas que ama estão conectados ao mistério de
Carax.
O
Cemitério dos Livros esquecidos, bem como A Sombra do Vento, parecem ser uma
metáfora da solidão, das pessoas que caem no esquecimento e só ressurgem quando
alguém lhes dá uma côdea de atenção e carinho.
Zafón
parece comparar as pessoas aos livros e vice e versa, e com isso o leitor passa
a acreditar que em cada livro que lê há uma vida real, existindo em alguma
dimensão paralela a nossa.
No
entanto, Zafón não tem medo de escrever, de abrir feridas, de fazer críticas.
Você percebe isso na crueza do “assassinato” de Penélope, nas frases e tiradas
de Fermin (Meu personagem predileto) e no completo desastre de vendas das
edições de Carax, como uma alusão clara ao paradigma do mercado editorial cuja
qualidade literária se mede pelas cifras dos milhões e a literatura genial
necessitando da benevolência de alguns benfeitores, ao puro estilo Dom Quixote.
Os
contrastes vida/morte, sombra/luz, solidão/amizade, amor/ódio desenham-se nos
parágrafos que parecem esculpidos, entalhados por um cinzel mágico, capaz de
juntar palavras que nos enfeitiçam e prendem.
Eu
já havia resenhado o livro Luzes de Setembro, textos da juventude de Zafón. E o
que se percebe em A Sombra do Vento é o resultado de um amadurecimento pessoal
e brilhantismo que só os anos podem nos
dar.
E
não é só. Zafón parece gostar de referenciar personagens antigos nos livros
novos que escreve. Eles retornam com outro nome, um pouco mais maduros, em um
contexto diferente, mas claramente referências a pessoas, que talvez o autor
não quisesse se desapegar.
Zafón
não pode ser lido como um fast food, talvez por isso não tenha encontrado
muitas resenhas em blogs brasileiros. Seus livros devem ser degustados aos
poucos, sem pressa. Cada palavra, cada linha, cada parágrafo contém uma
informação importante que não pode ser relegada a segundo plano, pulada como se
fosse excesso. Em Carlos Ruiz Zafón não se encontra excessos.
A
Sombra do Vento traz a tona uma período difícil enfrentado pela Espanha que
engloba o pós Guerra Civil Espanhola, e o Governo Franco, de foi até 1975, um
governo excessivamente repressivo que a meu ver foi muito bem representado na
trama pelo personagem Fumero.
Não
quero me alongar demais. A Sombra do Vento é um livro que pode ser analisado
por vários aspectos: - político, linguístico, literário, e mesmo assim não
esgotaríamos a riqueza que a obra nos apresenta.
Desafio
o leitor a fazer uma viagem neste livro, e depois voltar aqui no blog e me contar suas impressões. Eu associo A Sombra
do Vento a um trecho da poesia do autor espanhol Antonio Machado:
“Caminhante,
não há caminho. Faz-se caminho a andar.”
Quem
já leu Carlos Ruiz Zafón sabe exatamente o que estou dizendo.
Tetratologia:
A
Sombra do Vento
O
Jogo Do Anjo
O
Prisioneiro do Céu.
* Sugestão de Guia para Clube de Leitura (Há spoilers)
1. O que é o Cemitério dos
Livros Esquecidos?
2. A Sombra do Vento é um
livro dentro de um livro. O que você achou da correlação entre a história de
Julian Carax com a do jovem Daniel?
3. Você conseguiu associar
os personagens da vida de Daniel com a de Carax? Quem é quem nesta brincadeira?
4. O autor criou uma
metáfora dando alma aos livros. Você acredita que um livro pode ser realmente
esta espécie de ‘alma” do autor???
5. Por que Daniel se
esquece do rosto da mãe e apenas vai lembrá-lo na hora de sua morte?
6. Por que Daniel se
interessou tanto pelo livro de Carax? Você acreditar que o autor quis fazer uma
ligação, como se eles tivessem sido predestinados a se parecerem?
7. O que você achou de
Carax e Penélope serem irmãos? Não pareceu excesso de drama, como nas novelas,
ou talvez uma associação aos mitos gregos? Enfim, a solução dada para o autor
foi criativa?
8. O que mais te marcou na
leitura do livro?
9. Qual personagem você
escolheria como o ideal, aquele que poderia ser tranquilamente seu amigo?
10. O que você mudaria no
livro?
Ótima resenha! Estou adorando o livro. O Fermin, também é um dos meu personagem prediletos. bjs
ResponderExcluirOi, Soraya.
ResponderExcluirJá tive o prazer de ler esse livro e o texto do Zafón me cativou. Li também O Jogo do Anjo e estou com outros livros dele aqui na estante, esperando por uma chance!!
Adorei as sugestões de discussão!
Beijos
Camis - Leitora Compulsiva
Oi Camila,
ResponderExcluirAinda não li O Jogo do Anjo, mas já me falaram que é fantástico.
Vou tentar publicar as sugestões de discussões em todas as resenhas.
Bjs