O que seria da vida de um leitor sem o
tradutor? Eu comecei o texto de uma entrevista desta forma no ano passado, e a
pergunta nunca esteve tão forte em minha cabeça. Apaixonada pelo livro O
Estranho Mistério das Quartas-Feiras, de Julie Bourbeaum publicada pela Editora
Pensamento e resenhado aqui, comecei uma busca por informações sobre a autora.
Não achei o quanto esperava, mas me deparei com esta entrevista publicada em
2012 pelo blog “So I’m Fifty” da Pam Torres. Não perdi tempo e escrevi para a
Pam pedindo autorização para traduzir, e qual não foi minha surpresa semanas
depois receber uma resposta positiva.
Foi ai que os meus amigos tradutores me
vieram à cabeça. É muito fácil entender um texto em inglês, mas transformá-lo
em algo legível é tarefa para profissionais, por isso me desculpo por
antecipação pelas falhas cometidas.
Nesta entrevista, a autora surpreende
com suas respostas soltas, verdadeiras e a simplicidade ao contar como começou
a escrever. O nascimento de O Estranho Mistério das Quartas-feiras é recheado
de humor, assombro e confusão, e é exatamente esta profusão de sentimentos que
ela passa na trama nos trazendo um romance repleto de mistérios que nos faz rir
e se emocionar ao mesmo tempo, nos tirando o fôlego até a última linha.
Julie Bourbeau é genial e espero que
venha ao Brasil para nos dar a oportunidade de entrevistá-la pessoalmente, pois
eu tenho no mínimo mais umas dez perguntas sobre a trama que gostaria de
discutir. Por hora, vocês ficam com a entrevista que ela deu em 2012.
Abraços,
1. Por que você escreve para crianças? E qual foi sua
inspiração para criar seu livro de estreia?
Julie: Nunca tive a
intenção de escrever para crianças - na verdade, se você tivesse me dito há dez
anos que eu iria escrever um livro para crianças, eu nunca teria acreditado. O
Estranho Mistério das Quartas-feiras surgiu quase por acidente. Eu tinha acabado
de me mudar para a Espanha com o meu filho pequeno, e estava com dificuldade em
combinar a maternidade recente com o choque cultural. A Sesta na Espanha (o
costume de fechar empresas e escolas por várias horas para um período de almoço
estendido) foi particularmente difícil para mim, porque eu nunca fui capaz de
ajustar meu timing a ela. Meu filho sempre acordava de seu cochilo precisamente
no momento em que todo o bairro, e todas as lojas que eu precisava visitar,
literalmente fechavam suas portas durante três horas.
Em uma quarta-feira a tarde, eu estava
empurrando o carrinho com meu filho e me sentindo um pouco mal-humorada e
solitária, porque nada estava aberto e não havia ninguém por perto.
Eu tive um acesso de mau humor e ficou nítido
que aquele era uma plano arrepiante que mantinha minha visinhança deserta
durante o meio do dia e da semana. Para entreter-me, comecei a criar uma história engraçada e arrepiante para
explicar por que uma cidade tão encantadora ficasse totalmente fechada durante
o meio da semana. E ... nasceu O Estranho Mistério das Quartas-feiras! E
durante o processo eu descobri que gostava de escrever para crianças.
2. Conte-nos um pouco sobre você e como se tornou uma
escritora.
Julie: Eu não comecei
a escrever até alcançar os meus trinta anos, e suponho que tenha sido um início
tardio. Eu era uma mãe recente, que vivia no exterior, e me vi sem emprego pela
primeira vez desde que era adolescente. Tive a sorte de usar a oportunidade para
fazer um exame de consciência - para
descobrir o que eu realmente queria fazer com a minha liberdade. Eu fui uma
leitora ávida ao longo da vida (na verdade, o meu primeiro trabalho já estava
em foi em uma livraria), então eu decidi me dar uma chance. Depois que eu descobri
o quanto eu amava escrever, nunca mais olhei para trás. Eu só desejei ter
descoberto isso há uma ou duas décadas atrás!
3. Fale-nos sobre o seu processo.
Julie: Eu me encaixo entre
as escolas de escrita por inspiração e da trama disciplinada. Eu comecei O Estranho Mistério das Quartas-feiras
com pouco mais de uma ideia sobre o cenário e a premissa (Uma aldeia no meio do
caminho até o Monte Tibidabo que é forçada a parar todas as quartas-feiras.).
Os personagens vieram em seguida - Max é essencialmente o garoto que eu imagino
que meu (adorável) filho travesso se tornará em alguns anos. Só depois disso a
história real começou a tomar forma em minha mente.
Meu próximo livro, “King of Nowhere”,
que será lançado em 2014, evoluiu de forma similar. Eu tinha apenas uma frase
de abertura e uma única cena breve, em mente quando comecei a escrever. Quando
eu já tinha escrito um par de capítulos parei para traçar um rascunho -
basicamente apenas o começo, o meio e o fim. E quando eu começo um novo
capítulo eu gasto algum tempo para descobrir o que eu quero realmente dizer -
tanto em termos de desenvolvimento dos personagens como do enredo.
4. Como é um dia típico de trabalho para você?
Julie: Um caos disfarçado,
ou talvez isto descreva minha vida no geral, já que agora tenho dois filhos com
muita energia dentro de casa! Honestamente, eu preciso de duas coisas para
escrever: silêncio e café. Eu gostaria de ser um desses escritores que podem
trabalhar duro enquanto a vida se desenrola em torno deles, mas eu não posso.
Isso significa que eu tenho que aproveitar esses momentos de silêncio quando e
como puder. Talvez quando os meus filhos estiverem um pouco mais velhos eu
possa conseguir ter alguma coisa parecida com "típico", mas por agora
eu estou totalmente sem rotina ou estabilidade.
5. Onde é o seu lugar favorito para escrever?
Julie: Escrevo enquanto
estou sentada em uma espreguiçadeira que está no canto da minha sala de estar.
Meu laptop está no meu colo, e sempre tenho uma xícara de café por perto. A
posição não é ideal para a saúde da coluna, eu tenho certeza, mas eu nunca fui
capaz de escrever em uma mesa adequada. Meu cantinho tem muita luz natural e uma
vista para uma área arborizada, por isso até que minhas costas se revoltem, eu continuarei
a escrever lá!
6. O que é mais desafiador para você, criar ou publicar uma
história? O que você gostaria de ter conhecido antes?
Julie: Eu não tinha ideia
da demora na produção de um livro. Três anos se passaram entre o momento em que
meu livro foi adquirido pelo meu editor e a data da publicação. Eu fiquei
terrivelmente impaciente nesta espera, mas finalmente ela chegou!
7. Qual foi o melhor conselho sobre o ato de escrever que
você já recebeu?
Julie: O conselho que
eu mais precisava ouvir (e que na maioria das vezes preciso relembrar) é
simplesmente BIC (Bunda na cadeira). Eu me distraio facilmente com blogs,
noticias do mercado editorial, grupos de escritores on-line, etc - coisas que estão
relacionadas com a escrita, mas que me afastam de digitar “Fim”. Não há como
escapar do fato de que um livro requer muitas e muitas horas parada em frente a
uma tela, digitando e ... sem permissão para acessar a Internet!
8. Você está trabalhando em um novo projeto? Você pode nos
dizer sobre isso?
Julie: Sim! KING OF
NOWHERE é um romance teen sobre a filha adolescente do líder de um país sem
nome no Oriente Médio. Quando o resto de sua família foge para os EUA, ela é
forçada a encarar o choque cultural, a pobreza e as verdades cada vez mais
desconfortáveis sobre seu país de origem e sobre o legado de seu pai. O
livro é baseado em fatos reais.
9. Que conselho você daria a outros que escrevem para
crianças?
Julie: Leia o livro em
voz alta para uma criança que não tem medo de criticar. É impressionante como
rapidamente você vai tropeçar em frases estranhas e cenas de ação muito chatas
quando você tem uma criança de 7 anos revirando os olhos ou bocejando enquanto
você lê para ela!
AGRADECIMENTOS A PAM TORRES QUE ME AUTORIZOU A TRADUZIR ESTA ENTREVISTA.
Pam Torres - So I'm Fifty |
Oi, Soraya.
ResponderExcluirAdorei a entrevista e ainda fiquei pensando sobre a questão dos tradutores... É uma pena que pouca gente perceba a importância das traduções. Traduzir uma história é muito mais que usar o Google tradutor. É preciso muito estudo e muita dedicação para traduzir bem uma história, sem deixar a peteca cair!!
beijos
Camis - Leitora Compulsiva