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As memórias do livro

Autor: Geraldine Brooks
Tradutor: Marcos Malvezzi Leal
Editora: Ediouro
Número de páginas: 384
Ano de Lançamento: 2008
Avaliação do Prosa Mágica:  10
                             

“As Memórias do Livro” de Geraldine Brooks foi um livro que eu sequer me lembrava de seu lançamento até o dia que minhas amigas do Clube de Leitura comentaram sobre ele. O que encontrei em suas páginas extrapola a diversão e parte para o encantamento, a perplexidades e admiração.
O livro todo está focado no Hagada de Sarajevo, um manuscrito religioso judaico, datado do século XVI, repleto de iluminuras fascinantes. O manuscrito conta a história do êxodo, da criação. Uma raridade já que a cultura judaica não admitia as imagens.
Hanna, uma restauradora e conservadora de livros antigos é convidada a avaliar e consertar os estragos do tempo no Haggada que se encontra nos cofres de um banco em Sarajevo. Hanna, uma cientista e artista conceituada, não só faz o seu trabalho com maestria, mas levanta questões sobre pistas deixadas no livro: - Uma mancha de vinho, uma asa de borboleta, um fio de cabelo, sal e fechos desaparecidos. A cada busca da personagem para levantar dados sobre seus achados a autora faz um flashback e nos conta uma história de como aquele elemento foi parar dentro do livro.
“As Memórias” é um livro que mescla a realidade com a ficção e nos coloca frente a frente com as atrocidades cometidas contra judeus, o desrespeito a cultura e a intolerância política e religiosa. No entanto também nos mostra as possibilidades de convivência e respeito entre os diferentes.
Hanna é uma personagem muito bem construída. Uma intelectual de primeiro gabarito e um ser humano repleto de talento e dúvidas. Uma pessoa com um histórico de vida complicado, mas obsessiva o suficiente para fazer as descobertas que faz sobre o manuscrito – e que descobertas! - Confesso que fiquei com vontade de ver este Hagada pessoalmente e conhecê-la, se não fosse uma pessoa da ficção.
Hagada de Sarajevo.
O Hagada parece ter vida, tal é a forma como Geraldine o descreve. Tem horas que a autora nos dá a sensação que o manuscrito escolhe seus portadores. Que ele os leva por caminhos não esperados.
Tem uma questão interessante tratada no livro que é a autoria das iluminuras. Um desfecho surpreendente foi dado pela autora, se pensar que ela retrata tempos remotos com regras sociais rígidas e injustas.
As Memórias do Livro celebra o poder da comunicação, a força das idéias e a brava resistência da cultura frente à intolerância. Eu tive a sensação de que a história do Hagada de Sarajevo é a história figurada da resistência do povo judeu frente as constantes perseguições.
Geraldine Brooks nos presenteou com um livro lindo, sensível, humano, contundente. Um diálogo entre o passado, as idéias de Geraldine e nosso próprio presente.

Para quem não vive sem ler, é leitura indispensável.


Comentários

  1. Oi, Soraya!
    Tudo bem?!
    Eu me lembro de quando esse livro foi lançado e fui toda empolgada adquirir um exemplar! No final das contas o coitado acabou esquecido na estante! Preciso arranjar tempo e dar uma chance a ele!
    Beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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