Autor: Carlos Ruiz
Zafón
Tradutor: Eliana Aguiar
Editora: SUMA
Número
de páginas: 192
Ano
de Lançamento:
1999
Avaliação
do Prosa Mágica:
10+
É
sinal de bons ventos a leitura estar crescendo entre os adolescentes. Nos dias
de hoje é lugar comum as editoras lançarem livros juvenis no embalo de um nicho
de mercado que aumenta a cada dia. Alimentados por um bando de seres
sobrenaturais, muitas vezes instalados em lugares distópicos e doentios, parece
impossível que se encontre um único volume que nos fale da pureza e da beleza
de ser humano.
O
escritor Carlos Ruiz Zafón, espanhol, radicado em Los Angeles, nos traz de
volta uma emoção que estava perdida e afogada por páginas e páginas de texto
fácil. Em seu livro Marina, lançado apenas em 2011, Zafón nos coloca em contato
com um mundo não só real, como povoada pelos nossos maiores medos imaginários.
É
com delicadeza e com uma tinta quase fotográfica que ele retrata uma Barcelona
de contrastes entre o antigo e o novo; entre o passar das horas vagaroso e as
aventuras de um bom thriller. Zafón nos leva a pensar o quão real é nossa
imaginação, mesmo que nada seja verdade. Ele nos lembra que uma parte de nossos
sofrimentos são causados única e exclusivamente por nossa mente, que
materializa o que pensamos. Sendo assim, somos escravos de nossos pensamentos.
Em
Marina, somos levados a vida em um internato, onde vive o jovem Oscar, que como
muitos, são “abandonados” pelos pais, que acreditam que o humano precisa apenas
de uma boa educação, sem que isto envolva amor familiar e vida afetiva.
Oscar
é vivo demais para ser contido pelas paredes de sua “pequena prisão”, e todas
as tardes, após as aulas, perambula pela Barcelona que desejamos conhecer. É em
uma dessas andanças que ele conhece Marina, uma misteriosa garota que ele passa
amar e desejar, não no sentido erótico, mas como alguém que o leva a uma vida
repleta de energia. É Marina, que vez ou outra parece mais adulta que a idade
que tem, e com este personagem que as idéias filosóficas emergem do fio da
trama. Em uma dessas passagens, no cemitério de Sarriá, ao ser questionada por
Oscar que “aquele lugar estava meio morto”, a menina dá uma resposta de
arrepiar:
“
– Está enganado. Aqui estão as lembranças de centenas de pessoas, suas vidas,
seus sentimentos, suas ilusões, sua ausência, os sonhos que nunca conseguiram
realizar, as decepções, os enganos e os amores não correspondidos que
envenenaram suas vidas... Tudo isso está aqui, preso para sempre.”
Mais
para frente ela completa:
“
– Ninguém entende nada da vida enquanto não entender a morte.”
Praça Sarriá - Local citado na trama |
É
Marina que o leva ao encontro do desconhecido, as aventuras de terror que
envolvem um tal de Mijail Kolvenick, figura sinistra e quase sobrenatural. É
com ela que Oscar descobre os estranhos seres, que ficam entre uma
classificação de bonecos articulados e
zumbis, e a partir daí parece amadurecer em pouquíssimo tempo.
Em
Marina, Zafón celebra o amor, a juventude, o sonho e a amizade. Não é a toa que
o autor considera este livro o seu predileto e pelo tom da declaração que faz
na orelha da edição, parece que Marina é um pouco de suas memórias.
O
livro juvenil não poderia ter um representante maior e digno de comparação a
autores como Lewis Caroll e J.R.R. Tolkien. É um prazer de poucas páginas, mas
que sem dúvida, durará uma eternidade em nossas mentes.
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