“ Se eu encontrasse uma alma como a minha,
Que me olhasse sem dizer nada
E tudo me dissesse sem me olhar.
Às vezes me pergunto o que faria?
Seu eu encontrasse, uma alma como a minha. ”
Quando
você está em meio a livros velhos, nunca sabe o que vai encontrar. Isso é uma
verdade universal, como diria Jane Austen em “Orgulho e Preconceito”. Já me
deparei com livros lidos na infância, dedicatórias cujo texto era bem mais rico
que o conteúdo do volume e, às vezes, cartas e trechos esquecidos em meio aos
velhos exemplares cheirando a papel guardado.
Recentemente
li um livro, A Maleta da Sra. Sinclair, que conta a busca de uma personagem que
se inicia com uma carta esquecida em meio a coisas velhas. A trama é genial e
cativante. No entanto, raras vezes encontramos na vida real algo que vale a
pena buscar. É cada vez mais escassa a busca por cartas amareladas e amarradas
por fitas de cetim, que podem nos revelar uma vida ou amores secretos. – hoje tudo
é digital.
Na
semana passada encontrei dentro de um livro velho um poema de amor. O volume
era a obra “Cartas Esquecidas, de Frei Francisco da Simplicidade, que segundo o skoob trata-se
de cartas de amor.
O
que me chamou atenção no livro foi exatamente a poesia, escrita a mão, com
alguns erros de ortografia, mas que expressava uma vontade imensa de encontrar
alguém, um amor, um ideal que sabemos difícil de localizar.
O
encontro suscita uma série de perguntas como: Será que esta pessoa encontrou
esta “alma igual”? Foram felizes? Quanto tempo depois ela o encontrou? E, se
ela encontrou esta alma, por que o livro que guardou o seu pedido foi parar em
uma feira de livros usados? Teria esta pessoa morrido e seus herdeiros se
desfeito de seus pertences sem ao menos olhar do que se tratava?
E,
seguindo nesta linha de questionamentos percebo que este pequeno bilhete dentro
de um livro daria uma história que poderia percorrer as paisagens do amor, e a
dor sem fim.
O
livro tinha uma dedicatória, mas por experiência própria nunca consegui
encontrar ninguém cujo nome assinava um presente deste calibre.
São
destas pequenas coisas que surgem novas histórias, e talvez por isso, apenas
por esta razão, que eu não caia de amores pelo livro digital. Não podemos
esquecer nada dentro deles, não podemos nos perpetuar junto à história para que
gerações vindouras possam desfrutar da trama e de nossas pequenas experiências
com aquele volume.
Não
podemos trocar química e fisicamente nada com eles, pois o livro digital é
virtual (um mero arquivo), não existe, não está presente e por isso não podemos
tocá-lo.
É
esta falta de graça e de romantismo que me afasta dele e me leva aos sebos, as
feiras. Ou talvez seja uma vontade louca de um dia me encontrar comigo mesma,
em algo que escrevi e passei para frente.
Talvez
eu nunca leia Cartas Esquecidas, o livro, mas seguirei lendo tudo o que encontrar
dentro das velhas estórias, pois sempre haverá um segredo a ser desvendado, que parece
estar esperando por nós. Como o eco de conversa entre passado e presente.
Lendo seu texto, recordei que a cerca dois anos ganhei uns livros usados de uma pessoa que queria dar fim neles. Em casa, fiz a separação dos que ainda tinham condição de leitura e os que eram descartáveis. Aproveitei uns 30 livros, entre eles de diversos romancistas que foram Best Sellers no passado e hoje poucos conhecem, como Harold Robins, Pearl S. Buck e outros, mas o que me chamou a atenção no seu texto e me levou a fazer este comentário que todos os livros, sem exceção, tinham dedicatórias. Algumas apenas "com carinho" e outras com pequenos textos, mas que transmitem emoção. É emocionante! Tenho alguns livros que mais de 50 anos, surrados, mas ainda livros, todos com dedicatórias. Parabéns pela sua publicação.
ResponderExcluirLuis Antonio