Autor: Sheridan Hay
Tradutor: Paulo Andrade Lemos
Editora: Nova
Fronteira
Número
de páginas: 320
Ano
de Lançamento:
2008
Avaliação
do Prosa Mágica:
10
O
Segredo das Coisas Perdidas, da autora australiana Sheridan Hay, é um daqueles
livros que você não espera ler até que eles surgem na sua frente e invadem sua
alma.
Rosemary
Savage, protagonista da trama, é uma metáfora de nossas mentes e vida, e
simboliza o processo de amadurecimento que invariavelmente todo ser humano
enfrenta.
Jovem,
aos dezoito anos ela perde a mãe que tanto amava e impulsionada pela amiga de
sua mãe, é enviada a Nova York para ampliar seus horizontes, que são estreitos
e ingênuos como o lugar onde vive – Tasmânia.
Já
em Nova York, com apenas 300 dólares no bolso, Rosemary vai trabalhar na Árcade,
uma livraria de exemplares de segunda mão, uma espécie de país imaginário onde
desfilam os mais estranhos e ao mesmo tempo comuns personagens.
George
Pike, o dono mal humorado; Walter Geist, o gerente albino, estranho que cai de
amores por Rosemary; Oscar, o intelectual, mas indefinido, que desperta na
garota uma primeira paixão verdadeira. Tem a caixa Pearl, um transexual de
extrema humanidade que marca um contraponto neste país das maravilhas as
avessas. Fora da Árcade, Rosemary tem como apoio Lílian, a recepcionista
argentina, que tem o filho desaparecido na ditadura que assolou a Argentina.
O
grupo, a principio, parece não ter nenhuma conexão, mas aos poucos a autora vai
costurando os pedaços interiores de cada um e a conexão que os liga, ora luz
ora sombra, aparece e continua sempre presente em seu texto.
A
trama toda transcorre em torno de um manuscrito perdido de Herman Melville, um
romance sobre o remorso que tira alguns dos personagens da Árcade das sombras e
os remete para uma arena indecifrável, na qual bem e mal não é tratado de forma
maniqueísta.
O
Segredo das Coisas Perdidas é intenso, profundo, de caráter psicológico, que causa
estranheza, curiosidade, encantamento.
A
perfeição do livro reside na imperfeição dos personagens. A própria Rosemary
exemplifica isso quando faz a reflexão sobre a morte. Para ela, as pessoas
morrem para nos deixar livres, e referenda a teoria com sua própria história: -
Ela não estaria em Nova York e na Árcade se a mãe estivesse viva. É uma reflexão que não nos deixa, como leitores,
desconfortáveis.
Tem
algo de mítico na forma como a autora trata dos livros e a trama. Em uma
passagem repleta de detalhes e referências, Geist traduz para Rosemary uma
inscrição na parede de um colecionador:
“Antes
de mim, o tempo não existia. Depois de mim, não haverá nenhum. Comigo nasceu e
comigo também morrera.”
A
passagem é uma metáfora do se passa na cabeça de Geist, que por ironia da
autora fica cego trabalhando em uma loja de livros. Jorge Luis Borges também era
cego quando iniciou seu trabalho em uma biblioteca. – Coincidência?
Há
Shakespeare espalhado por toda a trama, mas há muito mais de “A Tempestade” do
que a própria autora nos conta em “Nota da Autora”.
O
livro começa lento, quase no ritmo dos autores e das pessoas que viveram na
antiguidade. Aos poucos, juntamente com o crescimento de Rosemary, ele vai se
intensificando até atingir o clímax. Mas não se engane.
O
Segredo das Coisas Perdidas é para ser degustado aos poucos. Deve ser lido como
se você leitor, tivesse todo o tempo do mundo. É como se o próximo livro que
aguarda sua leitura estivesse sendo “composto” com os tipos moveis em uma gráfica
antiga, cujas folhas precisarão ser unidas manualmente por um hábil artesão.
Isso leva tempo.
É
uma história para quem ama livros e para pessoas que gostam de ver seres
humanos reais retratados em suas páginas.
Confesso
que ainda estou perplexa e encantada.
Comentários
Postar um comentário
Obrigada, seu comentário é muito importante.
Caso vá comentar no modo anonimo, por favor assine seu comentário.
Obrigada pela participação.