Devonshire tea. |
Algumas tradições estão
tão arraigadas em um povo, que raramente o hábito escapa das páginas de um bom
livro de ficção. Não seria diferente com o “Five o’clock tea”, o famoso chá das
cinco que é venerado pelos britânicos.
No entanto, a ironia para
esta tradição é grande. Quem introduziu o hábito foi a portuguesa Catarina de
Bragança, que ao se casar com Charles II levou o costume para a Inglaterra. Mas
foi uma “glutona” que espalhou o hábito, a sempre faminta Anna Maria Russell,
duquesa de Bedford, que precisava se alimentar de algo entre o almoço e o
jantar.
Hoje em dia, o Chá das
Cinco é tão habitual, que você pode encontrá-lo em qualquer lugar da Grã-Bretanha,
e degustar sempre os melhores blends.
Quando estive em Londres
pude ter uma xícara de chá em todos os lugares que estive. No Reggent Park ela
veio com uma pequena e delicada leiteira de porcelana repleta de um delicado e
saboroso leite. No National Galery, o chá veio acompanhado de scones com creme
devonshire, uma iguaria que não se encontra aqui. E, em pleno Embankment Garden
– um jardim no meio da cidade – o chá, apesar de simples, era forte e podia ser
degustado em meio as arvores e flores, em um ritual que nos remetia a séculos
passados.
Não é por acaso, que no
livro “Alice no País das Maravilhas”, a personagem é convidada para o chá do
chapeleiro maluco, repleto de guloseimas e porcelana fina e exuberante. Gosto
demais desta cena. Sempre achei que é nela que Alice se encontra
verdadeiramente diante do paradoxo que sua vida se tornou.
Em Jane Austen, o chá
permeia bate papos e decisões importantes, e quem não imaginou a Sra. Bennet em
um chá das cinco com amigas tentando casar uma de suas filhas?
Fato é que autoras contemporâneas
trouxeram este hábito para suas paginas, e mesmo quando o livro trata de
literatura fantástica, o bom e velho chá ainda é pano de fundo para muitas
revelações. Na trilogia All Souls, Deborah Harkness nos apresenta cenas
extensas cuja personagem principal, uma bruxa, senta-se com seu amante, um
vampiro, para degustar e falar sobre os benefícios e delicias do chá.
Qual é a beleza de tudo
isso? É que a literatura, assim como a vida, é feita de pequenos detalhes. O
chá é apenas um deles, e todas as vezes que ele surge em páginas de livros, pode
ter certeza que seu criador possui o dom e o sabor da palavra.
E, já que hoje é sexta: -
Que tal um chá e um bom livro?
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