Autor: Haruki
Murakami
Tradutor:
Eunice Suenaga
Editora: Alfaguara
Número
de páginas: 168
Ano
de Lançamento Brasil:
2017
Avaliação
do Prosa Mágica: 7
Romancista como Vocação é
um ensaio que aborda o processo criativo levando em conta os diversos aspectos
de uma criação literária, dentre eles a originalidade, os personagens, os
temas, os prêmios. Todos esses aspectos são abordados de forma corriqueira,
como em um bate papo, que a primeira vista parece quase um monologo, por que
Murakami dá a impressão de não deixar margem para um diálogo.
Haruki Murakami é um dos
mais conhecidos romancista japonês, suas obras já foram traduzidas para 42
idiomas. Sua linguagem simples, seca, sem muitos adjetivos ou metáforas, a
primeira vista parece ser de uma inabilidade gigante diante da escrita, quando
na verdade tudo é deliberado, planejado para provocar sensações.
Culturalmente Murakami não
seria um rebelde, e isso se reflete em sua obra, mesmo quando o fato relatado
parece transgredir, o ato acaba sendo apenas um ato criativo, um pequeno e
desculpável desvio de conduta.
A impressão que passa é
que Murakami se tornou escritor por acaso. Ele não teve preparo nenhum para
isso, não frequentou cursos, apenas decidiu escrever e foi em frente. No
entanto, com um largo background de leitura, não é de se admirar o sucesso que
atingiu.
Murakami foi o “marginal”
de sua sociedade. Não foi um aluno brilhante, casou-se antes de buscar um
trabalho e construir seu repertório trabalhando em uma zona boemia de Tóquio,
lugar no qual aprendeu sobre a vida, as pessoas e o mundo. Ele fala em seu
livro:
“...mas quando eu
trabalhava lá pessoas completamente estranhas
e interessantes perambulavam por Kobukichô e proximidades. (...) Foi
nesse lugar animado, diversificado, às vezes duvidoso e violento, que aprendi
muito sobre a vida(...)”
O escritor recebeu
diversos prêmios e foi indicado ao Nobel, mas não venceu. Existe um grande
questionamento sobre este fato, mas não me considero conhecedora o suficiente
da obra de Murakami para sequer levantar hipóteses.
Mas, voltando ao livro,
não se trata de um manual de como escrever bem, na verdade ele se assemelha
muito mais a um “diário adolescente”, muitas vezes repetitivo, sem que isso o
torne vulgar.
Outras vezes, Romancista
como vocação parece um desfile de personagens cotidianos que podem ser
encontrados em qualquer rua de Tóquio.
Murakami é disciplinado, e
em minha opinião, essa é a maior mensagem de seu livro. Muitas vezes as pessoas
romanceiam a vida do escritor, imaginando que as ideias caem do céu e vão
diretamente para o papel e se transformam no livro acabado. Quem escreve de
verdade sabe que não é assim. Eu mesma, para escrever os quatro romances que
publiquei passava de 5 a 8 horas por dia diante do computador, mesmo que muitas
vezes isso resultasse em uma única página escrita.
Haruki escreve por 4 a 5
hora e produz 300 páginas por mês, faz exercícios físicos e não se isola da
humanidade em sua “caverna particular”.
No entanto o escritor
precisa da criatividade, e Murakami nos fala do caos criativo, que ele cita
fartamente como uma busca interior dentro do inconsciente de cada um.
Não me parece que Haruki
Murakami é a criatividade em pessoa, com uma mente arguta e engenhosa. No
entanto, dentro de sua simplicidade, ele não segue a massa, ele tem e expressa
suas próprias opiniões sem se deixar levar por rótulos e convenções. Talvez ai
se encontre a fórmula de seu grande sucesso.
Se Murakami fosse poesia,
com certeza ele não seria Camões ou Shakespeare. O autor seria Bashô, simples
como um Haikai, mas profundo na grandeza de seus significados.
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