Domingo passado fui ao bairro da Liberdade. Não ia lá desde janeiro de 2020. O céu azul e limpo e o ar aquecido sem estar tórrido, contribuía para uma aventura. Como sempre, o bairro estava lotado de pessoas ávidas por uma boa comida ou por perambular pelas lojinhas com tudo quanto é tipo de produtos.
O
carro foi para o estacionamento e assim que coloquei os meus pés na praça
senti-me – literalmente – como aqueles animais fofos que ficam confinados por
longo tempo, por conta do inverno, e quando as porteiras são abertas eles saem “dançando”
de tanta alegria (Li sobre este fato no livro O Segredo da Dinamarca e a imagem
nunca me saiu da cabeça).
Difícil
descrever a sensação. Coração batendo forte, a adrenalina crescendo exponencialmente
no corpo e uma vontade enorme de correr para todos os lugares ao mesmo tempo,
tentando apagar todo o período que fiquei distante. Como se isso fosse
possível.
Começo
a Sexta de Prosa hoje com um relato
pessoal, no qual descrevo um momento verdadeiro, ao retornar ao um local de São
Paulo, que amo muito, após longo período de afastamento por conta da pandemia
do Coronavírus.
Perceba
que procurei usar metáforas sem exageros, e mesmo a figura de estilo usada foi
descrita de forma tal a não dar múltiplas interpretações. Veja bem, o animal
que sai saltitando após longo período de confinamento é a vaca. Pense na
desinformação que seria se eu escrevesse: “- senti-me como uma vaca confinada
por longo tempo, por conta do inverno, e quando as porteiras foram abertas sai
dançando de tanta alegria” - Um horror! Seria lamentável escrever assim,
imagine a dúbia interpretação que poderia gerar.
O
que eu quero dizer com tudo isso é que escrever relatos pessoais é uma das
formas de melhorar nossa escrita, de exercitar a observação, não só do ambiente
onde vivemos, mas também de nós mesmos, de nossos sentimentos. É também uma
maneira de fazer experiências linguísticas sem medo de errar. Muitos anos
antes, sem muito treino e experiência, talvez eu tivesse usado a palavra vaca
no lugar de animais.
Sabe qual é a melhor maneira de fazer isso? - Mantenha um diário.
Ah!
Já posso imaginar os narizes torcidos, porque Diário é sinônimo de meninas de
rosa falando sobre suas paixonites juvenis. – Não poderia haver maior erro e
preconceito nisso.
Os diários sempre foram comuns. Diários de bordo de navegação, narrativas de viagem, expedições científicas, botânicos etc. Na maioria das vezes estes diários, além da riqueza escrita, eram verdadeiras obras de arte pelas ilustrações que continham. O desenho era essencial para uma boa educação.
Fora do Brasil o diário ainda tem um valor importante. As pessoas, principalmente na Europa, mantêm o habito de fazer um diário, muitas vezes estimulado pelas escolas. Talvez as informações contidas neles tão tenham a relevância do Diário de Darwin, mas com certeza contam a história daquela pessoa e melhoram a escrita de uma forma única e insubstituível.
Aqui em terras brasileiras, graças aos Bullets Journals - cadernos cujas páginas não têm pauta, mas bolinhas, e que as pessoas colam adesivos, fazem desenhos, lettering e que podem ser usados tanto como agenda ou como caderno de pensamentos - parece que as pessoas voltaram sua atenção para a escrita pessoal e manual.
Se
você está pensando em desenvolver sua escrita, corre para a primeira papelaria
que encontrar e compre um bom caderno para Diário. Este será o seu principal
exercício no dia a dia para se desenvolver.
Em
primeiro lugar ele irá ajudar a organizar as suas ideias. Isso fará bem na hora
de desenvolver um texto, seja ele uma redação para a escola, para o ENEM, uma
proposta de trabalho ou um livro
Praticar
continuamente em um Diário irá te auxiliar a dar um sentido para o que escreve;
a descrever sentimentos com maior precisão; a aguçar seu olhar para que observe
uma quantidade maior de detalhes em tudo: objetos, pessoas, fatos etc.
Tem
que escrever a mão se quiser um efeito melhor. Hoje já se sabe que o ato de
escrever a mão auxilia no desenvolvimento do cérebro. Se você duvida disso,
estude um pouco neurolinguística para entender melhor do assunto.
O
diário é pessoal, então você coloca nele o que quiser, sem cesura. Isso ajuda
na criatividade. Quando temos a certeza que ninguém vai ler o que escrevemos,
nos soltamos mais e nos sentimos livres.
Para
finalizar este resumo sobre os relatos pessoais, não se esqueça de ler muito
para aumentar vocabulário e se de quebra você desenhar também, talvez possa
transformar seu diário em uma obra de arte.
Então,
mãos a obra!
Boa sexta feira e ótimos textos para você.
Créditos das imagens:
Diário
Prosa Mágica: Soraya Felix
Diário de viagem de Rosamund Georgina Lloyd – Charles Darwin Foundation
Gostei e achei engraçado. Livre como uma vaca. Com seu tamanho, seria melhor um pequeno bezerro. Brincadeiras a parte, suas dicas são valiosas e endosso integralmente. Hoje está cada vez mais raro ver alguém escrevendo a mão. Este é o efeito colateral da tecnologia. Escrever é difícil, mas digitar num celular...
ResponderExcluirLuiz, obrigada por comentar o texto. É isso mesmo, para ser criativo é necessário ser alegre, brincar, não ter medo de errar.
ExcluirAbraços
Soraya Felix