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A Biblioteca da Meia Noite

Você já pensou em como seria sua vida se tivesse tomado alguma atitude diferente no passado? Escolhido outro curso, viajado, aceitado aquele pedido para ir tomar um café, dentre inúmeros outros pequenos fatos?

A personagem principal, Nora, não é diferente de praticamente nenhum de nós. Ela tem seus arrependimentos, suas dúvidas, suas idiossincrasias. Mas, Nora também é depressiva, e não acredita em mais nada e não vê sentido em sua vida.

Na trama, ela está entre a vida e a morte, em um momento paralisado no tempo, na biblioteca da meia noite, cujos livros são vidas que ela poderia ter tido se tivesse tomado outros rumos em sua existência. São infinitos livros porque são infinitas possibilidades.

Nora é convidada pela bibliotecária a experimentar outras vidas até que se decida por uma delas. Mas primeiro terá que enfrentar o terrível livro dos arrependimentos. Um livro pesado, sufocante, paralisante, não muito diferente do sentimento que abrigamos em nossos corações quando nos arrependemos de algo.

A cada livro aberto Nora desliza para uma vida diferenciada, como na série de TV Sliders, mas neste caso, ela povoa apenas dimensões de sua própria existência. E em cada um desses multiversos, Nora aprende alguma coisa diferente e vai percebendo que nem todos os seus arrependimentos são legítimos. A personagem foi famosa, foi cientista, foi casada com e sem filhos. O autor descreve algumas vidas por muitas páginas, chegando a vários capítulos. Por vezes, ele resume a dimensão de Nora com uma única frase, curta e seca: - “Nora comeu uma torrada.”

A história que a principio parece boba, se mostra profunda, repleta de questionamentos. É um romance que escava a pergunta mais inquietante do ser humano: “ - E se.....”

Matt Haig também nos apresenta o peso dos arrependimentos e o quanto eles podem modificar uma vida. Nos mostra através de Nora, que nos preocupamos demais com resultados e desprezamos a jornada que fazemos, onde se encontra o verdadeiro aprendizado.

A complexidade das escolhas de Nora se apresenta quando a vida de alguns personagens se modifica nos possíveis multiversos que ela ocupa. O irmão, a amiga, a mãe, o pai, o ex-noivo, todos eles sofrem as consequências das escolhas de Nora. É claro que o autor não levou em consideração as escolhas dos outros personagens, que também acarretam consequências, inclusive na Nora, mas este fato é citado algumas vezes pela bibliotecária, não de maneira tão clara, mas subentendida.

A criação de uma Biblioteca dentro deste multiverso é confortável para o leitor ao mesmo tempo em que é uma metáfora do ato de ler. O que é uma biblioteca senão um espaço que abriga milhares de vidas condensadas em volumes de papel? 

Não vou entrar em detalhes que nos remetem a ciência. O multiverso é uma teoria extremamente complexa, mas real e que foi explorado de maneira magnífica na Biblioteca da Meia Noite.

É um livro que não decepciona, mas que vai exigir do leitor uma amplitude de olhar para enxergar além da história, para ler o que está escrito nas entrelinhas que Matt Haig muito generosamente compartilhou conosco.

É para ler e reler.


Autor: Matt Haig

Tradutor: Adriana Fidalgo

Ano de lançamento: 2021 (Brasil)

Editora: Bertrand Brasil

Gênero: Ficção Inglesa

Páginas: 308

Avaliação Prosa Mágica: 5 estrelas

Comentários

  1. Este livro não conheço! Hoje esta sendo cada vez mais a expressão metaverso. Será que iremos no futuro de viver o mundo de avatar? Luis Antonio

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