Este post precisa começar com uma história que remonta a leitura deste livro. Quando eu era aluna da ESPM, um professor muito querido e competente, de uma “disciplina chamada Arte e Estética”, nos falou em uma aula sobre a “estética” latino-americana. Lembro-me que com seu projetor de slides nos mostrou fotos de fotógrafos famosos, em que apareciam túmulos, pessoas fazendo piquenique neles, consumindo docinhos em forma de caveira. Também tinha fotos de outra comemoração na qual as pessoas se autoflagelavam como se fossem Jesus Cristo.
Não preciso nem dizer que estas fotos eram
do México, e o professor nos falava que a estética latino-americana estava
muito focada no “culto” a morte e a pobreza.
É claro que aquelas fotos nos causaram
estranheza, porque o Brasil, único pais de língua portuguesa a fazer parte da
América latina, tinha e tem um foco muito diferente. Graciliano Ramos, por
exemplo, retrata a extrema pobreza, mas não a cultua em seu texto.
Na época meu contato com escritores desses
países era inexistente, então não tinha ideia de que esta estética também estava
muito presente na literatura daquela época. La pelos anos de 1989, conheci os
primeiros latinos como Galeano, Alejo Carpentier, Neruda, e confesso, nenhum
deles me remeteu ao passado, as aulas daquele professor.
Hoje, muito tempo depois, fui desafiada a
ler Juan Rulfo, e foi ai que toda a lembrança que compartilhei com vocês voltou
a minha memória.
Já logo de inicio deixo bem claro que não
farei uma resenha normal, e tampouco uma crítica, porque me sinto absolutamente
incapacitada para isso. Veja bem, o autor é objeto de estudo de uma quantidade
tão grande de trabalhos no mundo, que a quantidade de páginas escritas sobre
ele supera as duas únicas obras que ele publicou. O que você verá aqui são
impressões de uma leitora diante do diferente, diante de algo que foge a sua
leitura habitual.
Na trama, Juan Preciado promete a mãe no
leito de morte que irá atrás de seu pai e de tudo o que tem direito por ser
filho dele.
O que vemos nesta caminhada em busca de
Pedro Páramo é um desfile de personagens, ecos de pessoas mortas, que aos
poucos vão construindo a vida do terrível Pedro para o filho que o procura.
Na trama, Juan também acaba morrendo, e a
participando da conversa com os mortos em suas tumbas em uma tentativa de
compreender Pedro Páramo.
Confesso que a obra me causou estranheza e
confusão, não o estranho que te faz sentir mal, que você quer ver longe, mas o
diferente que você deseja compreender, e que para isso precisará se desnudar da
cultura em que está inserida. Grande ilusão!
Nós, seres humanos nunca seremos capazes de
observarmos outras culturas sem que o viés da nossa interfira. O outro sempre é
observado a partir de nosso ponto de vista, de nossa vivência e experiência
pessoal.
De minha parte, Pedro Páramo foi uma
revolução na minha forma de olhar para a literatura, algo que ainda não consigo
descrever, apenas sentir. No entanto, se pensar bem, o que são os grandes escritores
senão “bagunçadores” de nossos pensamentos e conhecimentos?
Recomendo a leitura, com certeza. Mas faça
isso preparado, pois o que irá encontrar nesta obra grandiosa é totalmente
diferente do que está acostumado. E porque não dizer, não dá para compreender
em uma única leitura, por isso prepare-se.
Autor: Juan Rulfo
Tradutor: Eric Neponucemo
Ano
de lançamento:
11º Edição - 2020
Editora: BestBolso
Gênero: Romance Mexicano
Páginas: 140
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