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A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen

Li este livro em 1987. Estudava teatro na Escola Macunaíma e o livro foi indicado como leitura para um debate que se sucedeu a uma palestra. Lembro-me que a leitura me impressionou e os conceitos passados eram muito maiores que a quantidade pequena de páginas que ele apresentava.

Passaram-se os anos, o livro de capa preta acabou indo para doação e caiu no esquecimento consciente. É provável que um pouco do conhecimento transmitido por ele tenha ficado de forma subconsciente no meu ser.

No mês passado, durante um colóquio de um curso incrível que estou fazendo, foi me recomendado que lesse este livro. Uma grande surpresa dentro das indicações literárias recebidas. Comprei uma edição nova, desta vez prefaciada pela Monja Coen e me dediquei à leitura.

É como um chamado, uma conexão que ligou o que estava no subconsciente com a leitura atual, não só pela nova edição, mas porque eu também sou uma nova edição de mim mesma, após tantos da primeira leitura.

Eugen Herrigel, autor de A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen, foi um dos principais responsáveis pela popularização do zen no ocidente. Entre 1924 até 1929 ele lecionou Filosofia na Universidade Imperial de Tóquio. Por incrível que possa parecer, ele e a esposa foram os primeiros estrangeiros a serem aceitos pelo grande mestre Kenzo Awa na arte do Kyudo (tiro com arco), porque até então, acreditava-se que alguém distante da cultura deles não conseguisse enveredar pelo caminho do Zen.

O professor Eugen conseguiu este feito, a base de muita persistência, uma luta interior que ele descreve de maneira contundente no livro. A clareza com que ele expõe suas duvidas e seus passos no aprendizado do Kyudo no dá uma ideia do que é o Zen.


Você percebe a profundidade no tema quando o autor descobre que na verdade, atirar a flecha era o último objetivo.

O tiro com arco, assim como o Ikebana e outras artes orientais, foca na espiritualidade de quem pratica. O Zen não é analisado, ele deve ser vivenciado. Eugen descobriu que, diferentemente dos esportes ocidentais que cultivam músculos e agilidade, no Kyudo quem atira não é o arqueiro, é algo, e o alvo só será atingido por este algo.

Veja só este trecho incrível na página 86:

“Temo”, respondi-lhe, “que já não compreendo nada. Até o mais simples me parece o mais confuso. Sou eu quem estira o arco ou é o arco que me leva ao estado máximo de tensão?”

É emocionando acompanhar o aprendizado do autor, suas dúvidas, seus questionamentos e finalmente observar seu primeiro tiro perfeito com o arco, e na sequência a lição de humildade ministrada pelo mestre dele.

A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen não é um livro de entretenimento, nem de autoajuda. Não há formulas mágicas nele, mas um vislumbre da religiosidade de um povo milenar e também de todas as consequências desta filosofia nos hábitos e costumes.

Ótimo para deixar na cabeceira e ler sempre.

 

Autor: Eugen Herrigel

Tradutor: J.C. Ismael

Coleção: Clássicos Zen, por Monja Coen

Ano de lançamento Brasil: 1984

Esta Edição: 2011

Editora: Jangada

Gênero: Religião e Espiritualidade

Páginas: 104

Avaliação Prosa Mágica: 5 estrelas

 



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