Fui desafiada por um amigo a escrever mais um texto sobre a felicidade, algo mais profundo, algo que toque na alma de quem lê. Pois bem, apresento humildemente meu texto. Não sei se atingi o objetivo proposto, mas confesso que me sinto alegre ao terminá-lo.
- Você já pensou para que serve a
felicidade? Será que a felicidade teria um caráter utilitário?
Fico refletindo sobre o caráter utilitário,
e confesso que não consigo afastar a imagem do livro A Metamorfose, de Franz
Kafka, quando o personagem acorda pela manhã transformado em uma barata. É claro
que se trata de uma metáfora incrível da forma como as pessoas são
“coisificadas” pela sociedade, pela linha de produção e nos dias de hoje, pelas
redes sociais. Será que a felicidade serve como um antídoto contra a
coisificação do ser humano? Sabe aquele momento em que respiramos profundamente
e sorrimos diante de tanta pressão que sofremos e a felicidade viria como uma
espécie de remédio para que não nos transformemos em barata.
Reflito também que a felicidade tem a mesma
serventia daquele pesinho antigo das balanças de dois pratos: proporcionar o equilíbrio
exato para que a quantidade possa ser aferida. No caso da felicidade, o “pesinho”
se contrapõe as angústias, a depressão, as preocupações, as incertezas, ao
sentimento de perda, de incapacidade e uma lista imensa de males que nos atinge
no nosso cotidiano.
Confesso
que eu gostava de olhar, principalmente quando estava em visita aos meus avós
no interior, os vendedores tentando alinhar a balança para chegar ao peso do
produto solicitado. Dava uma sensação de alivio quando a balança se
equilibrava.
Então, felicidade tem essa função de
equilibrar nossa vida para que não nos transformemos em objetos que não pensam, ao
invés de exercermos nosso papel de seres pensantes neste universo.
E, se os questionamentos vêm acrescidos das
palavras agregadora ou subversiva? Confesso que serei eslética aqui. Um não
exclui o outro, eles se juntam e formam um terceiro, aquele “terceiro incluído”
citado por Basarab Nicolescu em seu “O Manifesto da Transdiciplinaridade”.
Por que digo isso? Por que a felicidade agrega
mais saúde, mais pessoas a nossa volta, mais amor e provavelmente mais dinheiro
(Apesar dele não ser fator de felicidade), experiências e conhecimentos. De uma
forma profunda e psicológica, felicidade é uma espécie de lente (os pesinhos da
balança) que colocamos para lidar com o mundo, com as coisas e com as pessoas.
No entanto, o toque subversivo está
presente. Quer um exemplo melhor que a frase popular: “Ser feliz é a melhor
vingança.”
Imagine alguém que tem tudo para ser
infeliz, como exemplos: sofre todo tipo de preconceito, vive na escassez, é
reprimido etc. Mesmo assim, esta pessoa decide que vai usar seu “peso da
felicidade” para equilibrar sua vida. E então, você vê esta pessoa ser capaz de
conduzir sua vida com vigor, de irradiar de dentro do seu ser algo de bom,
mesmo nos piores momentos. Não seria subversivo o ato de ser feliz mesmo diante
de tantas agruras?
O que me faz pensar sobre o fato de ser
permanente ou não. Na vida nada é permanente e não pretendo usar os clichês da
natureza para exemplificar aqui. No entanto, acredito sim que a felicidade é um
estado permanente, porque ela é o tal pesinho (lentes) que usamos para
equilibrar nossas situações do cotidiano. E, se temos isso dentro de nós, ela não irá fugir nos piores momentos.
Ocorre que as pessoas confundem que o
oposto da felicidade é a tristeza, e dizem que a tristeza é a infelicidade. Impossível
estar alegre todos os dias, assim como não dá para ficar triste por vinte e
quatro horas. Estes sentimentos são passageiros e dependem quase sempre de estímulos
externos. A felicidade não, ela depende de nós mesmo, de nossa relação com a
vida, do quanto estamos dispostos a compreender que a vida é isso, que em um
dia somos “os reis” e no seguinte estamos na lama. É compreender que o viver
não é permanente e muda, porque se assim não acontecesse, o ser humano não
aprenderia nada.
Então a pergunta que fica é: - Como está o
seu pesinho? Calibrado?
Caso não esteja, aproveite o final de semana
para fazer isso.
Um feliz final de semana.
Foto da Balança: Freepik
Que texto maravilhoso, Soraya! Me senti imensamente feliz ao lê-lo, Gostei muito da análise sobre o efeito da felicidade - não momento felizes. Uma situação que é normal acontecer você encontrar uma pessoa com um bom emprego, casa, carro do ano e não é feliz. Sua felicidade estar em consumir. Quando adquire o que deseja, o ostracismo volta, ao contrário de muitas pessoas que passam a vida puxando uma carroça para ganhar vida e estão sempre cantando, feliz, agradecidos pelo pouco que tem. A procura pelo tais pesinhos tem que ser uma constante, ou a balança vai te roubar.
ResponderExcluirAbraços,
Luis Antonio